Muito papo na biblioteca

Blog bem-humorado discute impacto das novas tecnologias na leitura      Patrícia Cornils

ARede nº57 abril/2010 –
Bibliotecários Sem Fronteiras (BSF) é um blog feito por bibliotecários que contrariam, na prática, todos os clichês sobre bibliotecas ou sobre os bibliotecários, profissionais que trabalham com organização de registros (livros, revistas, documentos, físicos ou digitais) para facilitar a sua recuperação. No BSF, não há ninguém pedindo silêncio. Ao contrário, há debates sobre redes sociais na internet e indicações de livros sobre ciências e de poesia. Há bons bate-papos sobre se é mais bacana compartilhar informação por meio de livros ou blogs e fotografias dos “dez mais” bilbliogatos e bibliogatas do Brasil, que ouvem Radiohead, Los Hermanos, Strokes, Beethoven e Tom Zé.

O BSF reúne, em uma conversa entre bibliotecários, informações sobre temas que interessam a qualquer um: a atualidade dos livros, a importância do acesso à informação, o papel dos livros na construção da autonomia dos cidadãos. E, o tempo inteiro, os editores debatem as formas como as novas tecnologias estão mudando a relação das pessoas com a leitura. Eles trabalham com um pressuposto também contrário ao senso comum: em vez de opor livros físicos à tecnologias digitais, constatam que a ubiquidade tecnológica está fazendo as pessoas lerem cada vez mais. “Lêem mais, seja por meio de SMS, MSN, blogs, revistas, jornais ou livros”, afirma Moreno Barros, um dos editores. A diferença, acredita ele, é que as pessoas estão consumindo o conteúdo que lhes diz respeito individualmente, em vez de somente receber o que lhes entregam os meios de comunicação de massa.

O trabalho do bibliotecário, explica Moreno, é facilitar a vida de quem precisar encontrar um material específico no universo gigantesco das bibliotecas. E isso se torna cada vez mais complexo na medida que o número de materiais cresce exponencialmente. Então, continua ele, não se trata apenas de colocar livros nas estantes, mas saber as razões por quê cada livro precisa estar em qual estante e como encontrá-lo quando for necessário. “Essa seria a qualidade máxima do bibliotecário, ser organizador e facilitador do acesso aos registros produzidos pelo conhecimento humano”, diz. Além de criar serviços que tornem as bibliotecas mais próximas e atraentes para os leitores.

Como os bibliotecários desse blog não são nada distraídos, levam em consideração, em seu trabalho, que boa parte do conhecimento já produzido pelos homens está na internet, a maior biblioteca que jamais existiu. Para achar informação na rede, diz Moreno, basta praticar. “A internet não requer tutores para que seja plenamente aproveitada. É autoexplicativa”. De acordo com ele, leituras interessantes são encontradas nos blogs de editores e autores que gostamos, em sites especializados, nas redes sociais. Livros ainda são difíceis de encontrar livremente, por questões legais, mas é possível encontrar os caminhos que levam a quase todos os livros físicos do mundo.

Nem por isso se deve confundir o papel da biblioteca pública com o dos telecentros. Os dois cumprem papéis distintos, complementares, igualmente importantes, argumenta Moreno. “Seria um erro achar que a biblioteca deve se portar exclusivamente como a porta de entrada no mundo digital simplesmente porque outros lugares não conseguem cumprir esse papel, como as escolas públicas”, explica.

http://bsf.org.br