Graças a parcerias com empresas
privadas, em São Paulo, uma escola pública já utiliza a informática no
ensino de todas as disciplinas. Leandro Quintanilha
Projeto da Samurai na E.E.
Oswaldo Aranha, em São Paulo.
A idéia não era só montar um laboratório de informática, no qual os
alunos pudessem fazer pesquisas e digitar trabalhos. O que se
pretendia, na Escola Estadual Oswaldo Aranha, no bairro do Brooklin,
em São Paulo, era fazer com que a tecnologia se incorporasse às aulas,
no ensino de todas as disciplinas. Para tanto, não bastavam
computadores, servidores e programas personalizados, itens por si já
tão difíceis de se conseguir numa escola pública. Era necessário,
primeiro, convencer os professores de que o programa poderia dar certo.
Escolhida como modelo do programa Rede Escola Integrada, uma parceria
entre a Samurai Projetos Especiais, a Editora Abril, a TVA (também do
Grupo Abril), a Bit Company, a Siemens e a Associação de Pais e
Mestres, a Oswaldo Aranha começou a aplicar a informática no projeto
pedagógico no começo do ano letivo de 2005. O colégio atende 1,4 mil
alunos do ensino médio.
“No início, os professores resistiram muito à idéia”, lembra a diretora
Maria Carolina Moraes Danelon. “Houve até quem dissesse que não gostava
nem de microondas”, ilustra a monitora Sandra Mara, da Samurai. Coisa
do passado. Desde de abril, a direção da escola está reabrindo,
gradualmente (de acordo com o interesse de cada professor), a Sala para
Educação Integrada (SEI) para o ano letivo de 2006, com adaptações
sugeridas pelos próprios professores. Por exemplo, a criação de um
sistema de registro das aulas em hardware.
O coordenador pedagógico, João Bosco Merlo Jerônimo, explica a angústia
inicial dos docentes: “O maior medo era o de perder o controle da
turma.” Parecia uma competição desleal – um professor sozinho, tendo de
administrar conteúdos, versus 40 computadores conectados à internet, um
para cada adolescente. Segundo ele, em um ano de experiência, versus
virou ‘com’. Os professores perceberam que o uso inteligente do
computador aumenta o interesse dos alunos pelas aulas. “Ajudou também o
fato de ficar claro que nosso objetivo não era ensiná-los a fazer o
próprio trabalho, mas, sim, ajudá-los a usar os recursos tecnológicos
disponíveis”, explica o engenheiro Carlos Rocha, diretor da Samurai.
Ponto comunitário
Dissuadir os professores do medo da tecnologia só acabou sendo o maior
desafio do programa Rede Escola Integrada porque os problemas relativos
a equipamentos e infra-estrutura foram resolvidos por força de
parcerias.
A Editora Abril doou 40 computadores usados, todos recondicionados pela
Samurai, que também responde pela concepção e fabricação dos móveis,
instalação do hardware e, ainda, desenvolvimento de programas
específicos, que rodam em ambiente de software livre (Linux). A Bit
Company cuidou da capacitação dos professores e a TVA, da banda larga.
Os dois servidores da SEI foram doados por ex-alunos da escola. A
Siemens acaba de confirmar a doação de 40 gravadores de CD, para que os
alunos possam usar “cadernos digitais”.
Embora tão amparado em doações corporativas, esse tipo de iniciativa,
na opinião de Rocha, “não é uma ação filantrópica; trata-se de um
modelo sustentável de inclusão digital.”
Computadores doados e
recondicionados.
Além das parcerias citadas e do patrocínio social privado, o programa
prevê a comercialização de anúncios e serviços de informática, numa
sala separada, o Ponto Digital ou, mais formalmente, a Sala de
Serviços Comunitários (SSC). Nesse espaço, serão oferecidos serviços
pagos ao público externo (pais e vizinhos), tais como acesso à
internet, pagamento de contas, impressão, etc. Há até a possibilidade
de se colocar à disposição “computadores por assinatura”, cedidos em
comodato, assim como os aparelhos decodificadores da TV paga. A idéia,
segundo Rocha, é que o Ponto Digital cubra os custos da SEI.
Na Oswaldo Aranha, a SSC deve ser implantada neste ano. Como o
programa funcionou em 2005 sem a prestação de serviços pagos à
comunidade, a diretora, Maria Carolina, acredita que o Ponto Digital
possa funcionar com preços subsidiados – ou mesmo de graça. “Estima-se
que a renda familiar média na região seja de dois salários mínimos.”
Segundo mapeamento realizado pela escola, 75% dos estudantes não moram
no Brooklin, mas em bairros pobres e favelas das imediações. Maria
Carolina acredita que o Ponto Digital será também uma ótima estratégia
para inserir os pais dos alunos no cotidiano da escola.
Outro desafio é criar meios que permitam aos professores usar os
recursos tecnológicos com mais freqüência. Segundo cálculos da direção,
o professor, depois de dar uma aula com os computadores, só retornará à
SEI com a mesma turma após 60 dias, por conta da escala apertada de uso
do laboratório. Uma idéia é manter um micro em cada sala de aula da
escola.
Navegação orientada
A Samurai, que em 1996 concebeu e fabricou a primeira urna eletrônica
brasileira, implementa o programa Rede Escola Integrada desde 2001. Em
2004, o projeto da Escola Gisno, de Brasília, recebeu o Prêmio
Telemar de Inclusão Digital. O trabalho é baseado na atuação dos
professores capacitados para desenvolver planos de aula em HTML,
a linguagem dos sites da internet. Assim, podem propor tarefas no
computador e relacionar sites nos quais gostariam que os alunos
pesquisassem. O sistema desenvolvido pela Samurai garante ao professor
a possibilidade de limitar e/ou orientar a navegação dos estudantes
pelo tempo que achar necessário. Pode até definir que imagens deverão
aparecer em cada monitor (“aula compartilhada”), como numa projeção de
slides. É uma política do programa, no entanto, permitir que, no final
da aula, os adolescentes usem a internet para visitar salas de
bate-papo e o Orkut. Nos momentos de lazer, apenas sites classificados
como impróprios para menores permanecem bloqueados.
www.siemens.com.br • Siemens
www.tva.com.br • TVA
www.abril.com.br • Editora Abril
www.bitcompany.com.br • Bit Company