N@escola – Diário de bordo do laboratório

A Fundação Heydenreich lançou o livro “Escolas Públicas: a Informática como Instrumento Pedagógico”.

A Fundação Heydenreich lançou o
livro “Escolas Públicas: a Informática como Instrumento Pedagógico”,
que relata, em detalhes, a experiência de laboratórios em escolas
públicas.

Quem foi que inventou o analfabeto e
ensinou o alfabeto ao professor, perguntou Chico Buarque na música
Almanaque. Outra

linguagem se espalha pelo mundo e já há uma batalha de
algumas frentes no país para que professores de escolas públicas
dominem, técnica e pedagogicamente, as novas tecnologias da informação.
Ou seja, descubram como colocar o computador a 
serviço do processo de
aprendizagem – para desinventar mais depressa o analfabeto. É um
caminho cheio de armadilhas e dificuldades. E muitas delas estão
descritas e analisadas, com detalhes, no livro “Escolas Públicas: a
Informática como Instrumento Pedagógico”, lançado pela Fundação
Heydenreich. Ele relata a experiência da entidade com implantação de
laboratórios de informática e capacitação de professores no uso
educacional da informática em escolas públicas da Grande São Paulo, no
programa Navegar é Preciso. De 1999 ao final de 2004, a iniciativa
capacitou 300 jovens monitores e 840 educadores em escolas públicas.

Um dos maiores obstáculos ao densenvolvimento contínuo dos processos
pedagógicos dentro das escolas é a alta rotatividade de professores,
diz a gerente de projetos da Fundação, Daniella Michel, uma das autoras
do livro, ao lado de Dietmar Heydenreich, José Sérgio Ramos e Rosângela
Coutinho. Segundo ela, 60% do quadro de educadores trocam de escola de
um ano para o outro. Por isso, na implementação do Navegar é Preciso
foi necessário formatar cursos que nunca ultrapassem nove meses – o
equivalente a um ano letivo.

Outro desafio, de acordo com Daniella, é o longo intervalo entre o
momento da capacitação e a hora do desenvolvimento efetivo de um
projeto pedagógico, usando as tecnologias da informação. Para evitar o
abandono ou a sub-utilização do laboratório, e para estimular os
educadores a colocarem seus conhecimentos em prática, um orientador
passou a ficar todo o dia à disposição dos alunos ou professores, nas
escolas apoiadas pela Fundação. Os governos chegariam à mesma
conclusão, aponta a gerente de projetos: de que o orientador de
laboratório de informática é estratégico e merecia ser oficializado
entre os cargos regulares da rede pública.

Ela destaca, principalmente, a figura dos POIEs – Professor Orientador
de Informática Educativa, criada pela Prefeitura paulistana. E a
iniciativa do Estado de São Paulo de treinar, além dos educadores,
também seus monitores (40 horas de carga horária). De acordo com o
livro, esse profissional do laboratório, contudo, deve contar com a
colaboração dos alunos monitores e não funcionar como coringa – ou
seja, ser obrigado a receber alunos, sem atividades planejadas, sempre
que algum professor falta. A inclusão digital passou a fazer parte das
preocupações da Fundação há cerca de sete anos, quando sua equipe
decidiu instalar equipamentos de informática nos Centros de Juventude,
espaços para crianças de rua e jovens (entre 5 e 17 anos), da Igreja
Evangélica Luterana de São Paulo. Três anos depois, percebeu que a
maioria desses menores nunca havia tido contato com o computador na
escola.

Na época, 2001, a rede estadual de São Paulo começava a receber micros.
E a Fundação selecionou três escolas na Zona Sul da cidade, com ajuda
do Instituto Educacional Labor, considerando, como critério, a
disponibilidade de computadores, o espaço
Foto de um laboratório de informática, publicada
no livro "Escolas Públicas: a informática como
Instrumento Pedagógivo".
físico e a segurança, para
dar início ao Navegar é Preciso. O projeto piloto teve início em maio
de 2002, orçado em R$ 40 mil, para oferecer os laboratórios e
capacitação gratuita aos educadores. A primeira etapa incluiu os cursos
e treinamentos, com carga horária de 492 horas. Depois, cada uma das
três escolas recebeu 21 computadores com acesso à internet (só
oferecido para alunos a partir de dez anos).

As conclusões colhidas nesses laboratórios e registradas no livro
indicam, por exemplo, que 20 computadores é um total razoável para
turmas de 35 a 40 crianças, de modo que elas possam trabalhar em dupla.
E que o acesso à internet para alunos a partir da 5a série é
fundamental em pesquisas dirigidas. A idéia, afirma Daniella, era que o
trabalho desenvolvido nessas escolas servisse de modelo para empresas
ou governos interessados em repetir a experiência em outros pontos da
cidade e nos demais estados. Os patrocinadores, nesse caso, poderão
contar com metodologias e guias de orientação da Fundação para todas as
etapas do projeto.

No começo de 2004, a Fundação decidiu fazer uma avaliação geral do
programa. O resultado é o livro lançado no final do ano. Nele, fica
claro que o mais importante para a inserção da tecnologia nos projetos
pedagógicos não é colocar o computador na escola, mas formar os
educadores. A publicação também conta que a informática ajudou, com
grande êxito, o processo de alfabetização em turmas de 1a série, e as
classes de reforço da 3a à 5a séries. A capacidade de escrever no
computador teria um efeito direto na motivação. “As crianças com
auto-estima rebaixada ganharam novo ânimo para pelo menos tentar”, diz
o livro.

A barreira da plataforma
A obra também traz um capítulo que analisa os programas educativos,
divididos nas categorias de softwares didáticos, softwares de
enciclopédias, de simulação, de autoria, lúdicos. A maior parte,
contudo, aplicativos que rodam em plataformas proprietárias. Da mesma
forma, há relatos de ensino de matemática e outras disciplinas a partir
de programas do pacote Office, da Microsoft. A razão para essa escolha,
diz Daniella, é a sua predominância no universo escolar. Nesse sentido,
o próprio livro adverte para os riscos de incompatibilidade, porque
muitos dos títulos ainda não teriam sido atualizados para o ambiente
XP.

Mas a capacitação gratuita oferecida pela Fundação não é dirigida ao
estrito manejo de softwares, e sim à aplicação e à gestão pedagógica
dos recursos. Atualmente, a Fundação mantém um Centro de Capacitação
Educacional (CCE) permanente e gratuito. As escolas interessadas podem
entrar em contato.


O cravo brigou com a rosa: trabalho de alunos da 2° série da escola municipal Dr. Hugo Ribeiro de Almeida, de Osasco (SP).



www.fbh.org.br
• Fundação Heydenreich ou tel.: 11 3849.3972