N@escola – O eco do nhambu

Em Ecoporanga, no Espírito Santo, 80% dos estudantes da rede escolar participam de programas de inclusão digital.


Em Ecoporanga, no Espírito Santo, 80% dos estudantes da rede escolar participam de programas de inclusão digital. Fátima Xavier

Bem ao norte do Espírito Santo, fica Ecoporanga  — na lingua Tupi
significa “terra da prosperidade” ou “onde se produz o eco do nhambu”
–, um município com pouco mais de 24 mil habitantes, que atende a 80%
de seus alunos com programas de inclusão digital. O segredo pode estar
em bem sucedidas iniciativas públicas que conquistaram as crianças e os
adolescentes. A meninada já produz e alimenta seus próprios sites com o
Projeto Nhambudigital, criado com o objetivo servir de espaço para
inclusão social e digital, produção de conteúdos multimídia e difusão
do software livre.  O site www.ecomunicipio.hpg.ig.com.br,
por exemplo, foi construído pelos alunos da 3ª série do ensino
fundamental da Escola Professora Benedita Monteiro. É por isso que se
diz que, em Ecoporanga, as crianças não trocam figurinhas ou bolas de
gude, mas versões do Kurumim, uma distribuição Linux.



O fotoblog de Maylton, de 13 anos.
Ecoporanga teve um boom digital. Tudo começou com o professor Doriedson
Almeida, que criou a Fundação Eber Teixeira Figueiredo, hoje dirigida
pelo também professor Marciano Vieira.  Além da fundação, o
Proinfo, programa de informatização das escolas do Ministério da
Educação, logo informatizou duas escolas públicas com software
proprietário que, hoje, estão em processo de migração para o Linux.
Hoje, são oito escolas com laboratório de informática e software livre,
cinco das quais conectadas à internet por pontos de presença do Gesac,
programa do Ministério das Comunicações. Detalhe importante, as escolas
abrem aos domingos para atender a toda a comunidade. Tudo isso sem
mencionar as lan houses e os cursos de informática particulares que há
muito chegaram ao município.

A área rural, onde vivem cerca de 50% da população – incluindo dois
assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) –, também
já começou a ser informatizada. Um dos assentamentos já conta com um
telecentro. A Fundação Eber Teixeira Figueiredo, que tem parceria com a
Fundação Banco do Brasil para desenvolver projetos educacionais, está
pleiteando, junto ao Ministério da Cultura, um  Ponto de Cultura,
com telecentro, rádio comunitária, estúdio para produção audiovisual.

Nas escolas de Ecoporanga, os estudantes que se destacam na área de
informática e possuem boas notas se transformam em “alunos técnicos” e,
daí, em estagiários. Maylton Amâncio Quedevez, 13 anos, da 7ª série, é
um exemplo. No ano passado, fez o curso de inicialização com software
proprietário. Com a ajuda do professor Marcos Antonio de Jesus, “o
mediador no Linux”, virou “aluno técnico”. Competente, acumula funções
e hoje também é radialista na rádio da escola, a Rádio Recreio.“Faço
programas, anúncios da escola, fiz o meu blog e também uso a internet
para gravar músicas e tocar na rádio”, disse o menino que, nas horas
vagas, tem outra tarefa: ajudar o pai na farmácia. “Nós colocamos o
programa da Digifarma no computador e com ele controlamos o estoque, as
vendas, emitimos nota fiscal. Fui fuçando e aprendi a usar”, conta ele.
David de Oliveira Rocha, 17 anos, é um veterano. Desde os dez anos usa
o computador na escola e já fez dois documentários. Concluiu o 2º grau
no ano passado e, agora, é um dos estagiários no colégio, com
remuneração de 80% do salário mínimo.

www.nhambudigital.org – O site de inclusão digital de Ecoporanga
www.ecomunicipio.hpg.ig.com.br  – Experiência feita por alunos da 3ª série do ensino fundamental
www.familia_do_m.zip.net – Fotoblog do Maylton, 13 anos, “aluno técnico” de Ecoporanga.