Governo amplia o foco para discutir o uso de tecnologia na educação e proposta do MIT passa a ser uma das alternativas.
O MIT promete um prótotipo
para este mês. Grupo do Brasil
já desenvolveu design.Não se pode dizer que o
governo colocou o pé no freio no projeto Um Computador por Aluno,
genericamente conhecido como laptop de US$ 100, uma iniciativa do
MediaLab, do MIT (Massashuts Institute of Technology), capitaneada por
Nicholas Negroponte. Mas houve uma mudança de direção no processo de
discussão do grupo de trabalho – governo e universidades – encarregado
de avaliar a viabilidade da proposta de Negroponte. “Ampliamos o escopo
da discussão para a aceleração da aplicação das tecnologias de
informação e comunicação na educação básica, onde o projeto do MIT é
uma das alternativas”, resume Cézar Alvarez, coordenador do grupo e
assessor especial da Presidência da República.
Segundo Alvarez, a equipe foi dividida em seis subgrupos encarregados
de estudar os diferentes aspectos envolvidos no projeto, onde os mais
relevantes são os relativos ao desenvolvimento de conteúdo e dos
aplicativos para uso dos alunos. Mas a equipe também está olhando a
questão da estrutura produtiva brasileira – para dar escala e conseguir
baixar os custos, a proposta de Negroponte é que o primeiro milhão de
unidades fosse produzido centralizadamente por China, Coréia do Sul ou
Taiwan. Como houve reação forte por parte de alguns fabricantes
nacionais, como Positivo e Samurai, que se sentem em condições de
desenvolver soluções semelhantes por custo equivalente – desde que
equacionada a questão do financiamento -, a comissão técnica decidiu
promover uma oficina, em novembro, com a participação da indústria e de
um conjunto de entidades, especialmente ligadas à área pedagógica, para
fazer uma grande exposição dos trabalhos já desenvolvidos pelo grupo e
pelas entidades acadêmicas desenvolvidas.
Design tupiniquim
Embora seja um admirador do projeto de Negroponte, que no final de
outubro esteve mais uma vez no Brasil apresentando os avanços do
trabalho do laptop de US$ 100, cujo nome oficial é One Lap Top Per
Child (OLPC), Alvarez lembra que há uma série de questões ainda a serem
resolvidas pelo MediaLab, envolvendo o monitor e a questão da conexão.
Além disso, o preço estratégico de US$ 100 ainda não foi atingido.
“Prometeram apresentar o protótipo em Túnis, onde será realizada, neste
mês, a Cúpula da Sociedade da Informação. Vamos aguardar”, pondera.
Enquanto isso, as entidades acadêmicas envolvidas – LSI da USP, Cenpra
do MCT, Certi de Santa Catarina – continuam trabalhando na validação
técnica do que foi desenvolvido pelo MediaLab e indo além. O design do
computador produzido no Brasil, pouco maior que um caderno, é, segundo
Alvarez, muito mais bonito do que o produzido no MIT.
Adiar a decisão para dezembro tem a grande vantagem de aprofundar a
discussão e adotar a decisão de aderir ou não ao projeto de Negroponte
com argumentos mais sólidos e maior apoio social. A desvantagem é a
corrida contra o tempo para incluir recursos no orçamento de 2006 que,
pela expectativa inicial, deveria contemplar verba para a compra de 300
mil máquinas.
Computador na escola
É consenso entre educadores e especialistas que a aplicação de
tecnologias na educação – em especial a chamada comunicação mediada
pelo computador, que nada mais é do que o acesso, via computador, às
redes do conhecimento – é uma ferramenta fundamental para acelerar o
aprendizado. Mais do que isso. É uma nova forma de aprender. A educação
tradicional, lembra o relatório do grupo de trabalho do projeto, nasceu
e amadureceu em função da economia industrial e é uma emulação da linha
de produção – um sistema estanque e compartimentado. Com o projeto, o
que se quer é iniciar um processo que fomente a evolução desse sistema
“para um modelo adequado para a sociedade da informação, que tem seus
alicerces nas redes de comunicação e que, portanto, exige um sistema
educacional baseado em processo”.
Se ninguém discorda dessa nova visão do processo de acesso ao
conhecimento por parte dos alunos, o projeto de Nicholas Negroponte
encontra restrições em vários segmentos. Primeiro, alguns o consideram
caro para um país em desenvolvimento, como o Brasil, que tem um grande
déficit educacional, especialmente em termos de qualidade de ensino. E
a baixa qualidade, que faz com que 55% dos alunos da 4ª série do ensino
fundamental não saibam ler e escrever satifatoriamente, de acordo com a
amostragem do Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) de 2003.
Desse grupo de críticos faz parte Hélio Rotenberg, diretor geral da
Positivo, empresa que construiu sua história desenvolvendo e adaptando
aplicativos para a área educacional e hoje é, também, importante
fabricante nacional de microcomputadores. Segundo Rotenberg, com o
mesmo volume de recursos necessários para implantar o laptop de US$100
é possível atender um número muito maior de crianças se o governo
utilizar o dinheiro e investir nos laboratórios de informática das
escolas públicas.
Outro problema, na visão de Rotenberg, é que o MIT não tem experiência
educacional, na formação de professores por exemplo, em larga escala.
“No Brasil, é preciso ter uma proposta pedagógica firme e consistente
em larga escala. Não adianta pensar que basta só colocar o computador,
e o professor vai se virar sozinho. Não se vira. Não adianta importar
modelos de fora”, argumenta. Também Carlos A.Afonso, diretor de
planejamento e estratégia da Rits ( Rede de Informações do Terceiro
Setor, uma ONG voltada a projetos de inclusão digital) vê o projeto com
cautela. Sua experiência com financiamentos de entidades estrangeiras
para projetos locais revela que, sempre com o equipamento, tentam
embutir software e aplicativos que nada têm a ver com a realidade local.
Negroponte se contrapõe a essas dúvidas informando, como na
apresentação que fez em São Paulo no dia 31 de outubro, que o
equipamento usará software livre e será compatível com redes sem fio.
Que o preço será baixo porque o computador não será vendido ao mercado,
mas a governos – portanto, não precisará de marketing, que representa
metade do custo de uma máquina -, e que as especificações de uma
máquina educacional não precisam de grande sofisticação, ou seja,
dispensam os atuais monitores. Mas resolver a questão da tela ainda é
um problema para os desenvolvedores do MediaLab. Para ele, a vantagem
do computador individual por aluno em relação às salas de informática é
que, ao poder levá-lo para casa, ele teria um uso muito mais intenso
pelo estudante, pela família, pelo grupo de amigos, permitindo uma
apropriação maior e mais contínua do conhecimento.