Um grupo de trabalho do governo
federal estuda a viabilidade de implantação, no Brasil, do programa
desenvolvido pelo MIT, que prevê um custo de US$ 100 por máquina. Patrícia Cornils
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a formação de um
grupo de trabalho coordenado por César Alvarez, assessor da Presidência
da República, e composto por representantes dos ministérios da
Educação, das Comunicações, da Ciência e Tecnologia e do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para apresentar um
estudo sobre a viabilidade de implantar no país o programa Um laptop
por aluno, desenvolvido pelo Massachusetts Institute of Technology
(MIT), ao preço de US$ 100 por máquina. Esse foi o resultado da visita
do professor norte-americano Nicholas Negroponte, a Brasília, na última
semana de junho.
Papert (à esq.): "Criar conteúdo
é mais complicado do que
fazer um laptop de US$ 100".
Além de Negroponte, veio ao Brasil o professor Seymour Papert, um dos
fundadores do MIT, cuja principal preocupação, no programa, é estimular
a criação de conteúdos para que as crianças usem os computadores na
aprendizagem. “Isso é muito mais complicado do que fazer um laptop de
US$ 100”, diz ele. Papert voltará ao Brasil em setembro, para discutir
o conteúdo educacional do projeto com o ministro da Educação, Tarso
Genro.
Além das questões pedagógicas, o grupo de trabalho vai avaliar a
fabricação local dos equipamentos. A intenção do MIT é que o governo
brasileiro assuma um compromisso de comprar 1 milhão de máquinas. Caso
isso aconteça, dizem os pesquisadores, haverá escala para iniciar a
produção dos laptops quando o projeto estiver concluído, no final do
ano. A mesma proposta foi feita ao governo chinês.
O preço de um computador portátil simples, nos Estados Unidos, é, hoje,
de US$ 800. De acordo com Negroponte, metade desse valor embute os
gastos com vendas, marketing e distribuição de lucros. Essa parte pode
ser descartada, já que o MIT não vai cobrar royalties e as vendas
não vão passar pelo varejo. Serão direcionadas aos governos. Dos US$
400 que restam, pelo menos US$ 200 são gastos com o monitor. O MIT está
desenvolvendo uma tecnologia chamada e-ink (tinta eletrônica) que
poderá baixar o preço do display para cerca de US$ 30. Mas não existe,
ainda, uma versão colorida do e-ink, e os projetistas não querem fazer
um computador com tela preto-e-branco. Então, vão aumentar a variação
de luminosidade admitida nos laptops hoje – de 5% para cerca de 15% – e
isso baixa o preço. Outros US$ 100 serão economizados com a adoção do
sistema operacional Linux. O protótipo estaria custando, hoje, US$ 130.
“Com a produção em larga escala, chegará aos US$ 100”, afirma
Negroponte.
Papert está otimista com as possibilidades do projeto. Mas se ele não
se realizar, diz, outro ponto fundamental dessa campanha é mudar a
percepção das pessoas acerca do preço dos laptops. “Acreditamos que um
laptop é intrinsecamente caro, que isso faz parte da natureza dele,
assim como faz parte da natureza da água ser líquida. Aceitamos isso
sem perder muito tempo considerando se é verdade”, comenta.
Ele explica que só há um ano conseguiu entender o custo real dos
laptops, estudando seus componentes. “O fato de ninguém saber o que tem
dentro desses computadores é um dos motivos pelos quais aceitamos que
sejam caros”, diz. A discussão atual pode alertar as pessoas para isso.
A configuração do laptop será: processador de 500 MHz, memória flash de
1 Gb, conexão Wi-Fi, 128 dRAM, quatro portas USB. E software livre.