Alunos de uma escola pública em Mato Grosso do Sul aprendem Física pelo telefone celular
Bárbara Ablas
Valinõ deu-se conta de que 95% de seus alunos do período noturno trabalham em fábricas e postos de gasolina da região, cujo ambiente não permite que eles carreguem papel e cadernos por razões de higiene e segurança. Decidiu, então, oferecer “um material didático mais portátil”: o celular. “Hoje, todos os jovens têm celular com vários recursos e conseguem acessá-lo em vários lugares”, explica o professor. A primeira experiência não deu certo: em 2009, Valinõ começou a enviar resumos de Física por SMS (torpedo), mas os alunos não davam retorno e, além disso, a iniciativa pesou no bolso. “O pacote da minha operadora oferece 300 torpedos gratuitos por mês, mas não eram suficientes e minha conta aumentou 40%”, pondera.
Apesar disso, o educador não desanimou. Em busca de novos recursos que propiciassem a mesma mobilidade, ele encontrou na internet o Mobile Study (estudo móvel), uma ferramenta que permite a criação de testes rápidos em várias áreas do conhecimento. Depois que o teste é criado, o usuário pode acessá-lo via internet por meio de um link gerado pelo sistema ou pode baixá-lo no computador para ser enviado pelo celular por SMS ou Bluetooth (tecnologia de comunicação sem fio de curta distância que transmite dados via sinais de rádio). Quando o estudante responde todos os exercícios, o sistema mostra quantas questões ele acertou.
A ideia é evitar a despesa com conexão para utilizar a ferramenta. Por isso, Valinõ envia os testes na sala de aula por Bluetooth. Os arquivos pesam cerca de 400 Kb e ficam armazenados no celular dos alunos, que acessam quando podem e quantas vezes quiserem. A interface da ferramenta está em inglês, mas as perguntas e as explicações são em português. Roger de Almeida Sandin, 17 anos, acha até que ficou mais fácil preparar-se para os exames: “Eu posso revisar a matéria e treinar o raciocínio durante a semana. É bastante prático”. Jeniffer Souza Oliveira, 21, também aprovou a ideia de usar o celular para estudar: “É totalmente diferente das apostilas. Fazer os exercícios no celular é mais divertido”.
Valinõ acredita que, embora alguns professores vejam o celular como “inimigo número um em sala de aula”, o aparelho será a mídia do futuro. Ele continua atrás de soluções para continuar a experiência, mas no momento dependente da Mobile Study. “Se for retirada do ar, ficarei sem opção”, diz ele. Por isso, está buscando parcerias para desenvolver uma alternativa semelhante e que amplie as possibilidades de conteúdo. Enquanto isso, o professor utiliza também o blog Serão Extra, criado para educar e interagir com alunos que têm acesso à internet.