Lições móveis










Professor “plugado” conquista alunos de uma escola pública em Mato Grosso do Sul, que aprendem física pelo telefone celular.

Alunos de uma escola pública em Mato Grosso do Sul aprendem Física pelo telefone celular
Bárbara Ablas

ARede nº59, junho 2010 – Considerada pelos estudantes do Ensino Médio como uma das matérias mais difíceis, a Física é uma ciência que exige dedicação: o aluno precisa exercitar os conhecimentos adquiridos em sala de aula para fixar o conteúdo. Isso nem sempre acontece, seja por falta de interesse ou de tempo. Em busca de uma solução, o professor de Física Suintila Valinõ, que dá aulas na Escola Estadual Consuelo Muller, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, decidiu explorar o potencial do celular como ferramenta pedagógica.

Valinõ deu-se conta de que 95% de seus alunos do período noturno trabalham em fábricas e postos de gasolina da região, cujo ambiente não permite que eles carreguem papel e cadernos por razões de higiene e segurança. Decidiu, então, oferecer “um material didático mais portátil”: o celular. “Hoje, todos os jovens têm celular com vários recursos e conseguem acessá-lo em vários lugares”, explica o professor. A primeira experiência não deu certo: em 2009, Valinõ começou a enviar resumos de Física por SMS (torpedo), mas os alunos não davam retorno e, além disso, a iniciativa pesou no bolso. “O pacote da minha operadora oferece 300 torpedos gratuitos por mês, mas não eram suficientes e minha conta aumentou 40%”, pondera.

Apesar disso, o educador não desanimou. Em busca de novos recursos que propiciassem a mesma mobilidade, ele encontrou na internet o Mobile Study (estudo móvel), uma ferramenta que permite a criação de testes rápidos em várias áreas do conhecimento. Depois que o teste é criado, o usuário pode acessá-lo via internet por meio de um link gerado pelo sistema ou pode baixá-lo no computador para ser enviado pelo celular por SMS ou Bluetooth (tecnologia de comunicação sem fio de curta distância que transmite dados via sinais de rádio). Quando o estudante responde todos os exercícios, o sistema mostra quantas questões ele acertou.

A ideia é evitar a despesa com conexão para utilizar a ferramenta. Por isso, Valinõ envia os testes na sala de aula por Bluetooth. Os arquivos pesam cerca de 400 Kb e ficam armazenados no celular dos alunos, que acessam quando podem e quantas vezes quiserem. A interface da ferramenta está em inglês, mas as perguntas e as explicações são em português. Roger de Almeida Sandin, 17 anos, acha até que ficou mais fácil preparar-se para os exames: “Eu posso revisar a matéria e treinar o raciocínio durante a semana. É bastante prático”. Jeniffer Souza Oliveira, 21, também aprovou a ideia de usar o celular para estudar: “É totalmente diferente das apostilas. Fazer os exercícios no celular é mais divertido”.

Valinõ acredita que, embora alguns professores vejam o celular como “inimigo número um em sala de aula”, o aparelho será a mídia do futuro. Ele continua atrás de soluções para continuar a experiência, mas no momento dependente da Mobile Study. “Se for retirada do ar, ficarei sem opção”, diz ele. Por isso, está buscando parcerias para desenvolver uma alternativa semelhante e que amplie as possibilidades de conteúdo. Enquanto isso, o professor utiliza também o blog Serão Extra, criado para educar e interagir com alunos que têm acesso à internet.

www.mobilestudy.org
http://seraoextra.blogspot.com