Matemática com amor
Um banco de recursos digitais multimídia gratuito para tornar aulas do ensino médio mais atraentes
Anamárcia Veinsencher
ARede nº63 Outubro de 2010 – Um dos grandes problemas dos profissionais de educação em geral – e da rede pública, em particular – é conseguir atrair e manter a atenção dos alunos. Sobretudo quando se trata de adolescentes e quando é preciso ensinar as disciplinas tradicionalmente consideradas “difíceis”, as ciências exatas: física, matemática, química, biologia. Outro grande problema é que muitos docentes do ensino médio não sabem que, para tornar as aulas mais dinâmicas e saborosas, têm à disposição, para uso gratuito, uma coleção de recursos digitais multimídia. Esses recursos, chamados objetos educacionais, foram desenvolvidos por especialistas de instituições de ensino superior do país e podem ser baixados da internet em inúmeros formatos, como áudio, vídeo, experimento, software educacional. Além dos conteúdos de exatas, existem também os de Língua Portuguesa.
Esse acervo é resultado de uma iniciativa dos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação, que em 2007 lançaram um edital para produção de conteúdos educacionais digitais multimídia voltados ao ensino médio. Entre as instituições que integraram a proposta está a Unicamp. Só a equipe multidisciplinar montada pelo Instituto de Matemática (IME) da universidade chegou a reunir uma centena de pessoas, que se dedicaram à produção de 60 softwares, 180 vídeos, 105 áudios, além das atividades práticas.
Os educadores mostraram que é possível ensinar cálculo de probabilidades assistindo filmes como Coisas do amor ou Brasil x Argentina. O roteiro do primeiro: “Juliana precisa saber com quem sua irmã sairá dentro de três dias. Com ajuda de seu irmão, define um modelo matemático de probabilidades condicionais que pode responder a pergunta. O segundo apresenta a interpretação subjetivista de probabilidade e introduz aspectos de teoria de decisão: André precisa tomar uma decisão crucial em sua vida. Mas como escolher a melhor decisão? Com ajuda de seu analista, ele consegue estabelecer suas probabilidades e preferências pessoais, de modo a fazer a melhor escolha.
“Não são aulas gravadas”, esclarece o professor Samuel Rocha de Oliveira, coordenador geral da área de matemática do projeto na Unicamp. Ele explica que os objetos de matemática envolvem estórias de ficção com personagens que conversam, ilustrações feitas com computação gráfica. “O objetivo é interessar adolescentes em matemática”, acrescenta. Assim, no formato de aulas áudio, foi usado o MP3, no estilo rádio, com muito humor e licença poética. Em outras palavras, rádionovelas.
Não foi uma tarefa fácil, reconhece o professor Samuel. Afinal, a experiência dos professores não inclui a linguagem digital. “Mas não há nada parecido com o produto final dos objetos digitais para ajudar o professor do ensino médio em sala de aula”, avalia. O professor ganha ferramentas destinadas a estimular, instigar os alunos. “Os vídeos de ficção são provocativos, levam em conta a psicologia do adolescente. Foram feitos por roteiristas de novelas para jovens”, conta ele. Matemática, sabe-se, tradicionalmente é a número 1 em “aversão” dos alunos. Além disso, há carência de licenciandos na área. A ponto de professores licenciados em outras áreas serem convidados para ensinar matemática. “A formação é ruim, a demanda é alta”, resume o professor do Instituto.
Não necessariamente todas as mídias cobrem cada tema, pois cada uma tem uma forma mais adequada de abordagem, disse o coordenador da área de Biologia da Unicamp, professor Eduardo Galembeck, ao jornal da Universidade. “Na hora de montar o conteúdo procuramos ter uma base que é comum a todos. São sempre materiais que ajudam o professor a desenvolver o tema”, afirmou. Segundo Galembeck, o material foi feito para ser usado junto com o livro-texto, uma fonte de referência muito importante que não deve ser deixada de lado. Os experimentos, explicou, concentram-se em uma única mídia totalmente direcionada ao professor. A partir desse material organizado, o professor monta uma aula prática com os alunos. As outras três mídias têm como alvo o aluno.
Os objetos digitais integram os Recursos Educacionais, disponíveis no Portal do Professor do MEC, um ambiente virtual de pesquisa e interatividade. Esses recursos são de acesso livre e podem ser baixados no computador, copiados em CD-ROM ou pendrive, comentados e classificados. Até o final de setembro estavam disponíveis 4.773 recursos.
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/recursos.html
http://m3.ime.unicamp.br/portal
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