Na escola

A antena chegou! Só falta a conexão.

Tecnologia 3G gera avanços em Pernambuco. E escancara a 
urgência da banda larga nas escolas públicas 

Áurea Lopes

ARede nº72 agosto de 2011 – A pequena Lagoa do Carro, na Zona da Mata Pernambucana, a 60 km de Recife, estava em festa no dia 29 de julho. Poder público, lideranças locais, trabalhadores, as tradicionais artesãs de tapeçaria locais, idosos, crianças e curiosos de todo tipo participaram da cerimônia de inauguração de uma grande torre – que alguns não faziam ideia de pra quê servia. A dona de casa Rosária estava bem informada: “Deve ser coisa de celular. Eu não tenho, mas minha filha tem”. A escriturária Josely também: “Eu tenho dois!”. A torre é uma Estação Rádio Base (ERB) 3G, da Vivo, com capacidade de 1.9 MHz – que, de acordo com os técnicos da empresa, vai cobrir 90% do território do município, onde vivem 15 mil pessoas. Será o primeiro serviço de terceira geração na região, até o momento servida por apenas uma operadora de telefonia.
A chegada a nova antena foi comemorada de todos os lados. “Essa é uma data importante porque esta antena, de número 1.500 no país, vai trazer um grande avanço para esta população”, disse Antonio Carlos Valente, presidente da Telefônica no Brasil, que ressaltou o forte crescimento do grupo no Nordeste. “Essa iniciativa vai fortalecer o desenvolvimento local e ajudar a integrar as políticas públicas de educação e cultura”, acrescentou a prefeita Judite Maria de Santana Silva (PSDB-PE).

Na prática, dispor de um sinal de alta potência para a comunicação móvel pode trazer um enorme salto de qualidade para o ensino público da cidade onde um carro de boi caiu dentro da lagoa, muitos anos atrás. Equipadas com laboratórios do programa federal ProInfo, as 15 escolas da rede municipal (6 urbanas e 9 rurais) já têm a cultura de uso de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). Nos laboratórios, os professores têm apoio de um monitor, o que os ajuda a vencer resistências em utilizar as ferramentas. O  projeto municipal chamado Aluno Monitor, criado em 2009, garante que todas as escolas rurais tenham um monitor; e as escolas urbanas, de um a três, dependendo do tamanho. Mantidos pela prefeitura, esses monitores recebem um salário mínimo de bolsa, para 20 horas de trabalho semanais.

Porém, o grande diferencial é que, além de infraestrutura, as escolas municipais vão dispor também de novos recursos educacionais digitais. Os educadores estão sendo convidados pela Fundação Telefônica a participar dos projetos Comunidade Virtual Minha Terra e do Grupo de Estudos Educar na Cultura Digital. São ações que envolvem comunidades virtuais de aprendizagem e capacitam docentes e gestores para uso das TICs. A diretora municipal de Educação, Lourdes de Souza, diz que os programas da Fundação Telefônica casam perfeitamente com a orientação pedagógica da Secretaria de Educação e com as várias iniciativas em andamento na rede de ensino e no telecentro da cidade. A Vivo já desenvolve, em parceria com a prefeitura, o projeto VivoEnCena, que capacita jovens para atuação em teatro, filmagem e produção de animação com celulares.

Porém, todo o potencial criativo que será estimulado com a nova antena 3G, corre o risco de ser desperdiçado. Quando a moçada começar a fazer filmes e animações e quiser ver sua produção circulando pela rede, vai precisar ter muita paciência. Pelo menos enquanto o mesmo avanço que aconteceu em uma ponta (a potente antena da Vivo) não chegar à outra ponta (os computadores das escolas), fechando o círculo virtuoso do protagonismo digital a favor da Educação. “A nossa rede é muito lenta. Para você ter uma ideia, às vezes eu tenho de ir para a minha casa mandar um e-mail de lá”, conta uma educadora. As escolas lagoenses operam com a conexão Velox, contratada para 560 kbps. “Mas tem dia que não chega a 90 kbps”, acrescenta a professora, que também relata dificuldades de fornecimento de energia nas escolas. “Às vezes, não tem força pra ligar as máquinas, os ventiladores…”, relata ela.

Presente à cerimônia de inauguração da antena 3G do Plano Vivo Internet Brasil, o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg disse que a solução para esse problema é a prefeitura registrar queixa, primeiro, na operadora; depois, na agência de telecomunicações. O gerente regional da Anatel para a região, João Furtado, acrescentou que outra opção seria a prefeitura fazer um upgrade no link contratado. No mesmo dia, Lourdes de Souza, diretora municipal de Educação, informou que já havia feito as duas reclamações. E ainda não tinha retorno.

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