Grupo de estudo virtual
Portal de aprendizagem colaborativa já tem cerca de cem mil estudantes brasileiros cadastrados, entre quatro milhões em todo o mundo.
Áurea Lopes
ARede nº 92 – julho/agosto de 2013
É como se todo mundo estivesse na mesma sala de aula, estudando para a prova ou fazendo lição de casa. Alguém tem uma dúvida, lança uma pergunta, e logo recebe ajuda. Só que cada pessoa está no seu computador, na sua casa, na sua escola, no seu trabalho. Assim funciona a rede social educativa Brainly, que vai além de reunir conteúdos escolares gratuitamente, por meio de um sistema de aprendizagem colaborativa. O portal da rede se apoia em um time de moderadores voluntários, encarregados de garantir a qualidade do que é postado. Eles ajudam a resolver os problemas e corrigem as respostas compartilhadas. Ou seja, não tem essa de qualquer um responder qualquer coisa. Talvez seja por isso que o Brainly já conquistou mais de nove milhões de usuários, em 20 países, entre os quais o Brasil, onde começou a funcionar em novembro do ano passado.
A ideia surgiu na Polônia, em 2009, quando três amigos que se conheceram pela internet resolveram criar um site de social learning (aprendizado via redes sociais). Michal Borkowski, na época cursando contabilidade, agora é responsável pelo portal e pela visão da empresa; Tomasz Kraus, formado em informática, está à frente do departamento de TI, e Lukasz Haluch, formado em informática e economia, cuida da área comercial e do marketing. Eles criaram a empresa Brainly.com, onde foi desenvolvido o sistema. Uma das coordenadoras do Brainly no Brasil, a polonesa Anna Skwarek, conta que até o momento a iniciativa se mantém com recursos próprios e anúncios. “Mas estamos trabalhando em outro modelo de negócio que poderá ser implementado no futuro”, diz ela, garantindo que os principais serviços serão mantidos como gratuitos.
Os conteúdos são organizados por disciplinas: matemática, física, geometria, português, biologia, história, psicologia, informática e até educação moral, entre outras. O usuário precisa se cadastrar para usar e ler com atenção o minucioso regulamento de uso do site. No painel inicial, pode-se ver pedidos de ajuda para entender “a relação conflituosa dos muçulmanos com os Estados Unidos” ou para “fazer a nomenclatura das funções orgânicas oxigenadas”, por exemplo. O usuário vê as respostas postadas e quantas pessoas daquela área online podem ajudá-lo, no momento.
Versão Tropical
No Brasil, a plataforma já tem quase 100 mil cadastrados, com média de 440 mil acessos mensais. No mundo, são cerca de 12,5 milhões de acessos mensais, de usuários únicos. Estima-se em torno de 60% de usuários de nível fundamental, 40% de nível médio e 10% de universitários. “Entre os de nível médio, a gente percebe vários alunos de cursos profissionalizantes; e os de nível superior vêm crescendo”, conta Célio Henrique Barbosa, um dos dez brasileiros que integram a equipe de moderação do Brasil, da qual participam também três poloneses. A matéria mais popular no Brasil é matemática. “Essa tendência é comum para quase todas as versões, menos a turca”, relata Anna. A segunda matéria mais popular no Brasil é física, e a terceira, história. Português fica em quarto lugar.
Os moderadores, que não recebem qualquer remuneração, podem ser universitários, pais, professores, aposentados, especialistas. Como diz Anna, basta ser uma “pessoa com dedicação, paixão e amor pela educação”. O processo de seleção de moderadores, ela assegura, envolve vários passos. A coordenadora afirma que, “como a versão brasileira ainda é relativamente pequena, comparada, por exemplo, à versão polonesa, que tem mais de 4 milhões de visitas por mês, a estrutura de moderação ainda está se criando”. O modelo é sempre igual: cada moderador é guiado, observado e avaliado por um moderador com mais experiência e conhecimento e também pelo administrador do serviço.
Barbosa encontrou o Brainly por acaso, navegando na internet. Formado em matemática, é funcionário da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Nunca deu aula, mas dedica cerca de três horas por dia a responder as perguntas do portal, corrigir respostas erradas, verificar se nas respostas foram utilizadas informações inadequadas, entre outras tarefas da moderação. Ele conta que os moderadores participam de um forum onde discutem metodologia, aprimoramento das ferramentas e questões relativas aos usuários.
Pontos para a melhor resposta
O Brainly adota um sistema de pontuação que tem como objetivo incentivar a participação e a qualidade da explicação. “Para ganhar pontos os alunos devem ajudar outras pessoas, não necessariamente na mesma matéria. Se querem ser ajudados novamente, precisam também ajudar os outros, e não apenas adicionar pergunta após pergunta”, explica Anna Skwarek, coordenadora do projeto no Brasil.
Ao se cadastrar, o usuário recebe pontos que precisa gastar quando faz uma pergunta. Todos podem fazer perguntas e dar respostas. A melhor resposta é escolhida pela pessoa que fez a pergunta, mas os outros usuários também podem avaliá-la por votação. Os que derem a solução mais clara e completa recebem pontos adicionais e entram para um ranking. Normalmente, esclarece Anna, “a melhor resposta é a mais explicativa e mais clara – simplesmente aquela que mais ajudou”.