na escola luz no caminho

na escola – Luz no caminho para o saber

 

Luz no caminho para o saber

Programa livre e de fácil aplicação alfabetiza jovens e adultos em até três meses, enquanto amplia a inclusão digital.
Rafael Bravo Bucco

ARede nº 88 – jan/fev de 2013

na escola luz no caminhoJORGE ROCHA PEREIRA tem 71 anos e 480 amigos no Facebook. Dois anos atrás, mal sabia ler e escrever. Nem usar um computador. Quando começou a trabalhar como zelador do Parque Ecológico Anhanduí, em Campo Grande (MS), conheceu o Luz do Saber, projeto que une informática e alfabetização. Decidiu participar. Por um ano, frequentou as aulas. Gostou tanto que repetiu o curso no ano seguinte. Só não participou a terceira vez porque os professores disseram que já estava apto a fazer um curso supletivo de educação básica. “Foi um grande crescimento no meu conhecimento. Eu lia mal, não escrevia, engolia letras. Computador eu só sabia colocar em cima da mesa. Hoje, tenho um em casa, uso Facebook”, diz.

Pereira frequentou as aulas todos os dias, das 7h30 às 9h30. As aulas aconteciam no próprio parque. Responsável por cuidar dos jardins, ele já aplicou o conhecimento adquirido no trabalho: “Outro dia eu estava lendo sobre uma árvore aqui no computador, pesquisando sobre como cuidar melhor”, conta. O Luz do Saber é usado hoje no Distrito Federal, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Roraima e São Paulo. Usa um software aberto voltado para alfabetização de jovens e adultos, baseado em métodos de educadores como Paulo Freire, Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Seu diferencial é ensinar a ler e escrever ao mesmo tempo em que introduz a tecnologia.

Iniciativa da Associação Beneficente Casa da União – União do Vegetal, o programa se chamava Luz das Letras e era proprietário. “As pessoas conseguiam aprender com velocidade, mas o software tinha erros que não podíamos corrigir por ser fechado”, conta Lauréti Mascarin, coordenadora nacional do projeto.

A saída foi criar uma alternativa aberta, de distribuição gratuita, e que pudesse ser adaptada caso a caso. “O software permite que o professor crie uma aula customizada, com informações regionais”, explica Lauréti. O programa pode ser baixado em versões para Linux e Windows, ou ser usado online. Em todos os casos, o computador precisa rodar Flash e ter navegador de internet Firefox 3.0 ou compatível. As configurações mínimas do sistema são 256 MB de memória RAM e processador de 1 GHz. O desenvolvimento teve apoio do Ministério da Educação e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação por meio da Casa Brasil. Tem, ainda, apoio da Secretaria de Educação do Ceará, que hospeda os arquivos em seu site e leva o projeto a cidades do sertão do estado.

Em 2010, após três anos de desenvolvimento, o Luz do Saber substituiu o Luz das Letras. Desde então, mais de 4 mil pessoas foram alfabetizadas e aprenderam a usar o computador com o programa. Uma característica importante no método é a flexibilidade: qualquer educador ou organização pode usá-lo. Basta dispor de uma sala com computadores e organizar uma agenda de aulas. A União do Vegetal não precisa ter sede na cidade onde os cursos são ministrados. Um representante, na maioria das vezes a própria Lauréti, visita os interessados em fazer a formação e ensina o caminho das pedras.

“Só peço que o monitor, a pessoa que vai ficar com os alunos todo dia, seja remunerado. Faço o treinamento em dois ou três dias. No local é definida uma coordenadora pedagógica, que fará o acompanhamento e ficará ligada em rede comigo”, diz Lauréti. Os coordenadores não precisam ter formação pedagógica. Para implantar o projeto, basta ter concluído o ensino médio e dominar a leitura e a escrita.

Um único monitor atende de 15 a 20 alunos. Em três meses, já estão lendo e escrevendo. Depois do curso, são encaminhados à educação de jovens e adultos (EJA). “Cada aluno tem um computador com fone de ouvido. Ninguém fica vendo o que ele está fazendo. Assim ele fica menos tenso, sem medo de errar”, explica Graziene da Silva Moreira, voluntária que usa o programa em Teresópolis de Goiás.

Em 2012, o Luz do Saber foi ampliado. Ganhou uma versão infantil, usada para o reforço escolar. De diferente, traz músicas e temas ligados ao universo das crianças. “Queremos mais, criar um programa de pós-alfabetização para ensinar matemática, ciências. Mas precisamos de parceiros. Desenvolver projetos em educação no Brasil é sempre uma luta”, conclui Lauréti. 

http://luzdosabereja.seduc.ce.gov.br

Como funciona
São 21 exercícios sobre computação, que ensinam a usar teclado e mouse. Os alunos devem repetir os movimentos mostrados na tela ou digitar as letras exibidas. Também há atividades que usam lápis e papel para reforçar a prática da escrita.

 

Depois acontecem aulas de alfabetização. Nove, no total. Começam ensinando palavras simples, introduzindo aos poucos outras mais complexas. Uma aula é dada em três a quatro dias. O ritmo depende do aluno, de sua dinâmica de aprendizado.

 
O curso costuma ser ministrado à noite, diariamente, em aulas de uma hora e meia a duas horas. Quando é um reforço escolar, acontece no contra-turno, na própria escola. Os interessados em promover os cursos são orientados a conseguir espaço nos laboratórios de informática das escolas locais.