na escola – Para cativar a criançada

Para cativar a criançada

Capacitação de professores em tecnologia educacional transforma o dia a dia de estudantes do campo
Rafael Bravo Bucco

ARede nº 89 – março de 2013

AO FINAL de 2012, 102 alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Alfredo Brenner, na zona rural de Ibirubá (RS), ficaram mais interessados nas aulas e passaram a participar com outro entusiasmo das atividades propostas pelos professores. De quebra, ainda adotaram uma alimentação mais saudável, ao aprender como usar, em receitas nutritivas, partes de alimentos que iam para o lixo. Quem conta é a professora Sonia Boneda: “O rendimento em sala de aula aumentou, e até melhorou a relação entre eles, nos intervalos das aulas”.

O que parece um sonho de todo mestre é apenas o começo de um caminho que Sonia e a colega Luiza Chiesa querem trilhar permanentemente. Para se aproximar dos alunos e conseguir esse empenho especial nas aulas, as duas lançaram mão de técnicas e ferramentas que conheceram em uma série de oficinas ministradas no Programa Cativar, iniciativa do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus de Ibirubá. O programa durou um ano e meio (foi concluído em fevereiro) e capacitou professores de seis escolas da zona rural, em Ibirubá e na cidade Quinze de Novembro, região do Alto Jacuí.

O Programa Cativar surgiu em 2011, a partir de um edital do Ministério das Comunicações. A proposta era promover ações de capacitação no uso de tecnologias da informação e comunicação (TICs) para a juventude rural. Lisiane de Oliveira, professora do IFRS-Ibirubá, mestre em Informática na Educação, inscreveu o Cativar. Selecionado, o projeto recebeu R$ 107 mil, para ser executado ao longo de 2012. O dinheiro serviu para reformar dois laboratórios do instituto, que ganharam 27 computadores, duas lousas digitais, onze tablets e uma câmera fotográfica.

A “profe Lysy”, como Lisiane é conhecida no instituto, explica que o objetivo do Cativar foi estimular os docentes e seus alunos a produzir conteúdos dentro do contexto de cada escola. “A ideia era resignificar a prática pedagógica por meio das tecnologias”, relata. Assim, o programa aprofundou ou introduziu o uso de ferramentas como o Portal do Professor, Domínio Público, Rived, Toondoo, editor de slides, Linux Educacional, tablets, lousa digital, produção de vídeos, blogs e uso do Youtube na Educação.

Ao percorrer as escolas rurais de Ibirubá e Quinze de Novembro em busca de candidatos às vagas do projeto, Lysy mais os colegas Luis Gubert e Maria Inês Simon, reuniram oito professores, de diversas disciplinas. Seriam mais, caso essas escolas rurais fossem uma exceção à condição histórica de falta de estrutura no ensino rural. Mas infelizmente não era esse o caso. “Nas duas cidades existem seis Escolas do Campo. Duas têm apenas um professor para fazer tudo: começando com a limpeza, a merenda, até dar aulas na modalidade multisseriada. Esses professores mostraram muito interesse, mas não tinham como se ausentar porque não há ninguém para substituí-los nessas tarefas. Das quatro escolas restantes, vieram dois professores de cada uma”, explica Lysy.As aulas começaram em agosto e foram concluídas em dezembro. O formato escolhido foi de oficinas semanais, que totalizaram 80 horas. Os professores eram orientados a experimentar as ferramentas em classe, nas escolas, e trazer as dúvidas para as oficinas. Tiveram, também, orientação fora das aulas, até fevereiro.

na escola para cativar a criancada 440x04A primeira oficina trabalhou o conceito de Mídias na Educação, com exemplos de ações realizadas por professores de escolas onde a infraestrutura é precária. Cada professor recebeu o desafio de apresentar uma proposta de uso de TICs em sala de aula. Ali nasceu o projeto Nossas Escolh@s Fazem Toda a Diferença, das professoras Sonia e Luiza. “O objetivo era que as crianças se alimentassem melhor e aprendessem a reutilizar sobras, talos, sementes e cascas. Eles tiveram de ir para o computador pesquisar o que seria uma alimentação alternativa. Ensinamos uma turma a produzir tirinhas no Toondoo, programa que conhecemos no Cativar”, conta Sonia. Depois, os alunos foram incentivados a usar o computador para produzir um encarte com a seleção das receitas, criar um blog e até a montar uma rádio escolar, que funcionou nos intervalos das aulas.

A segunda oficina do Cativar foi ministrada pela profe Lysy. Ela ensinou a usar hiperlinks em slides para produzir apresentações dinâmicas. A terceira, tratou de tirinhas e histórias em quadrinhos, quando foi introduzido o Toondoo, site gratuito de criação de HQ. A quarta oficina foi sobre blog, com ênfase na ferramenta online Blogger. Cada um teve de criar o seu. O Linux Educacional foi tema da quinta oficina. Os professores aprenderam a usar a barra de ferramentas do software, que traz links para portais como Domínio Público, TV Escola, Portal do Professor e Objetos Educacionais. “Demos maior atenção ao Portal do Professor, que elas desconheciam. Ficaram bastante impressionadas”, lembra Lysy.

A sexta oficina tratou da produção de vídeo, utilizando o Movie Maker (ferramenta gratuita disponível no Windows) e o Youtube (os docentes aprenderam a acessar, baixar e criar um canal). A sétima oficina serviu para sedimentar os conceitos aprendidos e pensar em maneiras de aplicá-los. “A pedagoga Maria Inês Simon indicou os passos para o desenvolvimento de um projeto na escola”, relata Lysy. Os professores também conheceram os recursos da lousa digital e dos tablets, sempre recebendo orientação de como aproveitar esses equipamentos no contexto de suas escolas.

Na escola Alfredo Brenner, essas oficinas mudaram a rotina diária. As professoras Sonia e Luiza se tornaram grandes usuárias e entusiastas das tecnologias educacionais. Junto com seus alunos, hoje fazem pesquisa na web, produzem vídeos, criam tirinhas sobre o consumo consciente de alimentos, montaram um blog, incentivaram a produção de apresentações e gráficos digitais. Com o sucesso do projeto, esperam ver a aplicação das TICs crescer muito, ainda, por ali. “Este ano vamos continuar com o projeto sobre alimentação. O que demos foi só um pontapé inicial”, frisa Sonia.

No IFRS-Ibirubá, a intenção também é fazer uma segunda fase do Cativar, agora com apoio do Ministério da Educação (MEC), em vez do Minicom. “Temos aprovado o projeto, rebatizado de Clicampo”, informa Lysy, já de olho em 2014. “Vamos submeter outro projeto ao MEC para dar continuidade ao Clicampo. Se formos contemplados, pretendemos adquirir notebooks para levar até as localidades que não têm computadores nas escolas e trabalhar o reforço escolar com o uso de TICs, preferencialmente em matemática”, conta. 

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www.dominiopublico.gov.br

portaldoprofessor.mec.gov.br

objetoseducacionais2.mec.gov.br

www.ibiruba.ifrs.edu.br

programacativarifrs.blogspot.com.br

www.toondoo.com

rived.mec.gov.br

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