Professores em tempo real
Usuários de tecnologia formam alunos de escola pública no Pará
Marina Pita
ARede nº 92 – julho/agosto de 2013
A internet só chegou à escola pública de Suruacá (PA) no ano de 2011. A região, isolada pela ausência de infraestrutura de telecomunicações, ganhou uma antena 3G da Vivo em 2009. Inicialmente, a conexão atendeu à demanda comercial local e foi oferecida gratuitamente a um telecentro público. Ao chegar à escola, dois anos depois, permitiu a implantação de uma série de projetos educacionais, entre os quais o Connected to Learn – iniciativa global da Ericsson, que interliga escolas ao redor do mundo para compartilharem informações.
A diretora de sustentabilidade da Ericsson, Carla Belitardo, conta que, em Suruacá foi implantado um projeto com um toque especial: a colaboração dos funcionários da empresa. Utilizando como referência o programa Jovem Parceiro, que capacita funcionários para dar uma formação complementar a jovens de baixo poder aquisitivo, Carla recrutou dez empregados para desenvolverem cursos sobre internet. Eles se tornaram os Voluntários Virtuais. “Minha preocupação era levar um projeto de valor para a comunidade e não algo que daqui nos parecia bom. Para isso, foi importante debater com as pessoas da comunidade”, explica Carla.
Em 2012, começaram as aulas para alunos da 8ª série. Os voluntários permanecem conectados, durante o dia, para tirar dúvidas dos aprendizes. Os temas abordados variam: conhecimentos sobre computador, sistema operacional, formas de pesquisar na internet, como utilizar redes sociais e blogs. Ainda há explicações sobre serviços de distribuição de vídeos, de armazenamento de arquivos na nuvem etc. Os resumos das aulas ficam disponíveis no Google Drive. “É um apoio na inserção dessas pessoas no universo da nuvem e das mídias sociais”, resume Carla.
Para Jefferson Colares Lima, secretário da escola e um dos responsáveis pela iniciativa, o projeto ajuda a envolver os alunos no processo de aprendizagem: “Com as contas no Facebook, os alunos e os professores reencontram com parentes que moram em outras localidades e publicam vídeos e notícias do que acontece em Suruacá, por exemplo”. O voluntário Leandro Sousa, de 27 anos, acredita que a possibilidade de ensinar aos alunos de Suruacá a utilizar os recursos de editores de texto, editores de slides, entre outros, é uma conquista pessoal. “Ver a curiosidade da criança do outro lado é incrível. Além disso, ajudar uma pessoa a se desenvolver é pessoalmente gratificante”, avalia.
Os desafios, como a intermitência da rede (especialmente porque a antena depende de energia solar) e as dificuldades geradas pelo universo virtual na criação de intimidade entre professores e alunos são encarados de frente pelos dois lados. “Trabalhamos com os voluntários a importância de perseverar o vínculo com os alunos”, explica Carla.