Nas prateleiras e na rede


No Paraná, telecentros e bibliotecas andam juntos – é o acesso ao conhecimento em livros e na rede.

Programa do governo do Paraná implanta centros de inclusão digital dentro de bibliotecas

Patrícia Cornils

ARede nº51,setembro 2009 – O programa Telecentros Paranavegar foi iniciado pelo governo do Paraná em maio de 2003, com o objetivo de implantar telecentros nas cem cidades de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado. Até junho deste ano, tinham sido inaugurados 69 telecentros, mas com um perfil diferente do planejado. O acesso à internet foi incorporado a um conceito maior, de acesso ao conhecimento, e os telecentros se expandiram para dentro das bibliotecas públicas do programa Bibliotecas Cidadãs, de 2004, que também foi criado para atender municípios de baixo IDH. Os telecentros dentro das bibliotecas, em junho, eram 77. Existem outras 70 bibliotecas sem telecentros. A meta do governo paranaense é implantar 200 novas Bibliotecas Cidadãs, até o final de 2010.

As Bibliotecas Cidadãs recebem um acervo inicial de 2 mil livros e um telecentro com cinco computadores. A fusão entre telecentros e bibliotecas é, de acordo com o governador Roberto Requião, um processo natural: “Bibliotecas são centros de difusão de cultura e conhecimento. Nada mais natural que ofereçam acesso à internet, onde desagua quase toda a cultura e o conhecimento produzidos em todo o mundo”.

Outro componente que favorece essa mudança. Como o público dos telecentros, hoje, tem mais noção dos benefícios do acesso à internet, surgem novas possibilidades. “Ninguém mais é digitalmente excluído, no sentido de não ter nenhum contato com a tecnologia”, diz Nizan Pereira, secretário estadual de Assuntos Estratégicos. “O governo trabalha com o conceito de acesso à tecnologia e seu usufruto. Não se fala mais em inclusão digital”, explica ele.

Quando o programa começou, a capacitação dos monitores durava de cinco a sete dias. Os conteúdos são noções básicas de informática, de Linux, do Sistema Gestor do Paranavegar, de atendimento aos usuários, de onde achar serviços de governo eletrônico. Hoje, de acordo com Sérgio Luiz dos Santos Oliveira, integrante da equipe do Paranavegar, são necessários de dois a três dias. “O pessoal já tem contato, aprende mais rápido”, diz ele.

A integração entre Paranavegar e Bibliotecas Cidadãs acontece na ponta, pela atuação de bibliotecárias e de monitores dos telecentros. Na biblioteca do distrito de Ferraria, no município de Campo Largo, as bibliotecárias Josiane Rogaleski e Rosângela Skrobot explicam que os dois acervos de informação – telecentro e livros – são complementares. Os alunos das escolas públicas formam grande parte do público de 500 usuários cadastrados no local, principalmente para fazer trabalhos escolares. O cadastro da biblioteca e do telecentro é comum. Mas a convivência dos dois no mesmo espaço acaba atraindo usuários para ambos – pessoas que buscam serviços de governo eletrônico, no telecentro, também conhecem a biblioteca. E vice-versa.

Embora não seja responsável pela definição dos locais onde vai se instalar a maior parte dos telecentros, porque a coordenação do programa de bibliotecas é da Secretaria da Cultura, a equipe do Paranavegar – mantida pela Celepar, companhia de processamento de dados do Paraná – é fundamental para o sucesso do projeto. Primeiro, porque continuam as implantações de centros em parceria com prefeituras e organizações da sociedade civil. Segundo porque a experiência da equipe, em termos de relacionamento com a comunidade e gestão da rede de telecentros, continua necessária. O sistema de gestão dos telecentros é usado em todos esses pontos públicos de acesso e a metodologia de implantação, capacitação e suporte foi desenvolvida por essa equipe. O governo cede os links à internet, parte dos estagiários, equipamentos, material didático, treinamento e manutenção aos telecentros.

Suporte Técnico
Na opinião de seus próprios integrantes, a assistência, depois da implantação, é um dos pontos mais fortes do programa. Os pedidos de suporte e treinamento são feitos por meio de correio eletrônico e entram em uma lista de demandas. As viagens são constantes, para serviços de manutenção, troca de equipamentos, mudança de estagiários e mudança dos próprios telecentros, porque muitos foram incorporados pelas bibliotecas. “Ninguém recebe as máquinas e fica sem interlocutor depois”, explica Marilaide de Quadros, gerente de inclusão digital da Secretaria de Assuntos Estratégicos. O programa usa software livre e o portal do projeto traz uma documentação que pode ser usada por outras iniciativas de pontos públicos de acesso. Os números recolhidos pelo sistema gestor mostram que no Paranavegar há, hoje, 96 96.410 usuários cadastrados e 1.283.260 de acessos registrados.
Os monitores, dois por telecentro, são alunos do segundo grau da rede pública estadual, e recebem uma bolsa mensal de R$ 290,00. Depoimentos recolhidos pela equipe do projeto mostram sua importância. “Tenho muito orgulho de ter feito parte dessa equipe durante um ano e oito meses que me fizeram amadurecer tanto pessoal quanto profissionalmente. Graças a este programa hoje sou uma pessoa capaz de enfrentar todos os desafios”, escreveu Éder Rodrigues de Oliveira, estagiário do telecentro de Diamante do Sul. Éder deixou o estágio porque foi trabalhar como atendente na cooperativa de crédito rural Cresol. Diamante do Sul fica em 380º lugar, no ranking de IDH dos 399 municípios paranaenses. O número de monitores pagos diretamente pelo programa está diminuindo – de 250, em junho, para cerca de 170, hoje – porque, nos novos convênios, a proposta é de que eles sejam contratados pelas prefeituras.

O projeto Telecentros Paranavegar, com as bibliotecas, é considerado estratégico pelo governo do estado. Em entrevista para a revista ARede, o governador Requião faz questão de frisar: “É uma janela para o mundo, uma fonte de informações ampla, variada, inesgotável, que vai muito além do que quer impor a grande mídia brasileira, que a cada dia estreita sua visão de mundo”. Na internet, diz ele, tudo está a um clique de distância, “seja o portal do conglomerado de comunicações, seja o blog do jornalista independente que analisa e comenta o Brasil e o mundo a partir de uma visão que não tem espaço nos jornalões, nos telejornais”.

www.telecentros.pr.gov.br