Por João Cassino*
O ano de 2014 vai terminando e os cidadãos que vivem na capital paulista já percebem as profundas modificações na área de inclusão digital, que está sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Serviços. São dois os principais programas: Wi-Fi Livre SP e a Rede Pública de Telecentros.
O Wi-Fi Livre SP consiste na disponibilização de internet sem fio gratuita em 120 praças e parques da cidade. O projeto apresenta características inovadoras, que o coloca entre as principais iniciativas de inclusão digital do planeta. Por mais que outras cidades, no Brasil e no mundo, já ofereçam Wi-Fi aberto à população, nenhuma se propõe a atingir tantas localidades. São Paulo também garante qualidade de sinal, privacidade total do usuário (que não precisa se cadastrar) e neutralidade da rede.
A internet aberta em praças e parques tem um objetivo secundário tão importante quanto a popularização do acesso à banda larga: a reocupação dos espaços públicos. Localidades com sinal livre, com limpeza urbana e com farta iluminação devolvem aos cidadãos espaços que antes estavam abandonados.
Já os Telecentros passam por uma ressignificação. Criados há 13 anos, quando nem lan houses existiam, uma atualização de conceito se fazia necessária. Hoje, com a ampliação da infraestrutura de telecomunicações, com a redução de preços para aquisição de computadores pessoais e com a disseminação de smartphones, os telecentros têm de sair da lógica do mero acesso à internet e dos cursos básicos de informática.
Não há dúvidas quanto aos benefícios para a população de contar com centenas de salas conectadas à rede, com impressoras, com mesas e cadeiras, com luz, água e banheiros. Os telecentros são verdadeiros escritórios virtuais gratuitos, que podem ser usados para trabalho colaborativo e desenvolvimento do empreendedorismo.
Para estimular esse novo tipo de uso, a prefeitura de São Paulo lançou em agosto o edital Redes e Ruas, que irá aportar R$ 3,7 milhões em 62 projetos inovadores de Cultura Digital, com valores que variam entre R$ 35 mil e R$ 140 mil. As atividades deverão ter como palco telecentros, praças com Wi-Fi e Pontos de Cultura.
A forma de gestão dos telecentros também mudou. Antes, um único ente privado terceirizava mão de obra para todas as unidades. Agora, a prefeitura assinou dezenas de novos convênios com as entidades que abrigam os telecentros. A verba mensal para cada uma aumentou, o que permitiu que contratassem seus próprios funcionários. Assim, uma entidade que atua pela igualdade racial pode contratar ativistas do movimento negro; uma entidade que luta pela sustentabilidade pode contratar ambientalistas.
Os cursos também vão mudar. Antes, só eram ofertados treinamentos básicos em informática. Agora, os telecentros devem se tornar portas de acesso ao Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Vão ofertar cursos com maior carga horária e melhor qualidade, como desenvolvimento de sistemas ou produção gráfica. Cursos que garantam de fato a empregabilidade de quem os fizer. E tudo em software livre.
* Coordenador de Conectividade e Convergência Digital na Secretaria de Serviços do município de São Paulo.