Opinião


A escola precisa interagir com a geração pós-80.

Artigo de Silvana Lemos

Aprender com os nativos digitais
Silvana Lemos

ARede nº54 dezembro/2009 – A geração que nasceu entre 1980 e 1994 – os nativos digitais – foi a primeira a aprender a lógica não linear das coisas. Os nativos digitais funcionam hipertextualmente, abrem várias janelas ao mesmo tempo com a maior naturalidade, gostam destes multiprocessos, começam e terminam namoros pelo MSN, contam intimidades em páginas de relacionamento como o Orkut e não se separam dos seus celulares por nada – o celular compõe sua identidade. Gastam boa parte do seu dia na frente de uma tela, trocando mensagens, navegando na internet, fazendo download de informações. Jogam, baixam músicas, trocam emails e ainda assistem TV, tudo online. É a primeira geração imersa quase que totalmente na tecnologia, na mais efetiva concretização da  tese de Mashall McLuhan de que os meios são extensões do homem.

Os evadidos online – aqueles que nasceram antes da década de 1980 – estão aprendendo a viver nestes mundos virtuais, se acostumando à gama e à diversidade de informações da rede. De acordo com o pesquisador americano Marc Prensky, a maior dificuldade dos “imigrantes” digitais é que eles estão com o pé no passado. Quando se conectam, imprimem os emails, imprimem também os textos para editá-los com a caneta e não na tela do computador. Há uma necessidade de mudança de comportamento, sem se preocupar tanto com o resultado e mais com o processo: just do it!

Em várias pesquisas realizadas na Europa, os jovens acessam mais a internet em casa e os verbos mais recorrentes nas respostas são: jogar, saber, comunicar-se. Esses verbos identificam o propósito com que os pré-adolescentes utilizam a rede, por serem suas principais atividades ou porque a dimensão lúdica e comunicativa é imprescindível na construção de relações com a rede e na rede. Segundo a pesquisadora inglesa Ola Ersad, os jovens de hoje são o primeiro grupo na sociedade que usa a tecnologia como prática social. Eles utilizam as novas tecnologias da informação e da comunicação para obter conhecimento, que é definido em negociação entre os atores.

Nas salas de bate-papo, os nativos digitais escrevem e lêem mensagens, uma troca que é, ao mesmo tempo, entretenimento e formação. Conversam sobre atividades recentes, como provas, jogos, namoros, música, programação de fim de semana. Através da internet, buscam fazer contato com pessoas distantes e descobrem curiosidades pelo simples fato de sair navegando. Desta forma, acabam encontrando uma maneira rápida e divertida de escrever. As frases são curtas, diretas e as palavras abreviadas. O essencial é teclar pouco e dizer muito.

O jogo é outra mídia que atrai e desperta o interesse dessa geração. Alguns pesquisadores apontam vantagens nesta prática: é uma atividade livre, voluntária, jamais vista como imposta; pode funcionar como escape da vida cotidiana para um mundo imaginário ou paralelo ao real; facilita a criação da ordem. O jogo funciona como elemento mediador entre o conhecimento já cristalizado e o conhecimento novo adquirido.
Diante desta realidade, a educação formal precisa apropriar-se desse mundo e dessa linguagem dos jovens estudantes. Um novo processo de aprendizagem está sendo construído e os professores precisam se despir de seus preconceitos para interagir com os estudantes, que usam a web em vez do livro e se relacionam com amigos e afetos através das tecnologias. E por que não também com a escola?

Silvana Lemos é jornalista, pós-graduada em Mídia, Tecnologia da Informação e Novas Práticas Educacionais pela PUC-RJ.