Em 2008, entram no ar mais projetos
educacionais baseados na banda larga: o portal do professor e o
programa de ensino técnico a distância.
Maria Elisa, Suany e Patrícia: hip hop no YouTube
A partir do ano que vem, o ProInfo-Programa Nacional de Informática na
Educação será reformulado. Além de fornecer computadores e estrutura de
rede para as escolas, vai ampliar e integrar as capacitações dos
educadores no uso das tecnologias e de conteúdos digitais, para
promover maiores trocas online.
O MEC também vai abrir, em 2008, mil pólos de ensino técnico a
distância, por meio do programa Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec
Brasil), que encerrou, em setembro, o recebimento de propostas de
parcerias para sua execução, similar à do modelo da Universidade Aberta
do Brasil (UAB).
Durante o debate realizado em Piraí (RJ), Carlos Eduardo Bielschowsky,
secretário de Educação a Distância do Ministério da Educação, ressaltou
os efeitos concretos que a conexão à internet em banda larga pode ter
sobre o ensino. Segundo ele, as escolas que estão conectadas registram
um desempenho 10% superior à média do Ideb-Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica, que avaliou 140 mil escolas brasileiras. A
constatação, diz, está em pesquisa do Inep-Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, que também teria
observado a irrelevância dos laboratórios de informática sem acesso à
internet. “Todas as escolas equipadas com computador têm a mesma medida
que as que não têm. Mas as que estão conectadas superam a média”,
compara. “É importante que os laboratórios das escolas estejam em
rede.”
Armário dos ClassMates
Por isso, a nova capacitação integrada do ProInfo terá um primeiro
módulo fortemente presencial, com 60 a 80 horas, para que, “capturados
pela internet”, os professores possam seguir interagindo a distância. A
intenção é atender, em 2008, cerca de 200 mil professores, que também
vão poder contar com um novo portal, em fase final de elaboração. Nesse
portal, serão publicados conteúdos digitais para o ensino médio
(licitados há dois meses, com recursos totais de R$ 70 milhões); bancos
de elementos educacionais complexos, obtidos em intercâmbio com outros
países, num acordo firmado no âmbito da Organização dos Estados
Íbero-Americanos; objetos virtuais de aprendizagem; programas da TV
Escola. Também haverá chats, jornais eletrônicos, espaços de autoria.
Esse esforço de formação, sublinha o secretário de Educação a
Distância, acontece paralelo à experiência da Universidade Aberta do
Brasil, que contará com 45 mil alunos, em 290 pólos regionais, até
dezembro, e tem foco nos cursos de licenciatura. Para o final de 2008,
a meta do MEC prevê 150 mil alunos, chegando a cerca de 600 mil nos
próximos três a quatro anos. A UAB envolve 49 instituições de ensino
superior, totalizando cem em 2008, incluindo os Cefets-Centro Federal
de Educação Tecnológica. O e-Tec Brasil também vai buscar a parceria
dos Cefets, além de escolas técnicas estaduais e agrícolas, mas voltado
ao ensino técnico, idealmente dentro de escolas de ensino médio. Carlos
Eduardo adianta, ainda, que o ministério quer articular a criação de
Núcleos Tecnológicos Municipais, similares aos NTEs, núcleos estaduais
que já existem.
Para Maria Helena Horta, coordenadora educacional do Piraí Digital, o
acesso à internet, ao promover a interatividade nas mídias, favorece a
educação do aluno na direção da autonomia e de sua transformação em
produtor do próprio conhecimento. “E educação pública”, destaca ela, “
é fator preponderante em qualquer projeto de inclusão social”. Na
opinião do professor Nelson Pretto, diretor da Faculdade de Educação,
da Universidade Federal da Bahia, também presente ao debate de Piraí,
“bandalargar o Brasil significa não só uma tecnologia, mas bandalargar
a educação, as ‘educações’, as culturas, as ciências e as tecnologias.
Se tivermos tecnologia disponível em banda larga, mas educação e
cultura em banda estreita, nada acontecerá”.
O Ciep Profª Rosa da Conceição Guedes, no distrito de Arrozal, em
Piraí, tem 398 alunos, da 3ª a 8 séries, e 398 laptops ClassMate (da
Intel), equipados com softwares educacionais MetaSys, uma das
experiências piloto que vão embasar o projeto federal Um Computador por
Aluno (UCA). Além dos laptops, 26 notebooks (portáteis convencionais),
com um programa de controle da rede, servem aos professores. Por ali, o
educador pode ver se o aluno está no site indicado, fazendo as tarefas
pedidas. Se considerar inadequado um eventual desvio de rota, pode
simplesmente desconectar o laptop imprudente da rede.
Para a diretora-adjunta do Ciep, Léa Maria Peixoto, o laptop facilita o
aprendizado. “E o aluno que aprende não é indisciplinado, quando tem
interação, não tem indisciplina”, diz. A intenção da escola é que os
alunos levem os laptops para casa dentro de sete ou oito meses. “A
comunidade de Arrozal é muito parceira da escola. Nas reuniões de pais,
temos 98% de presença. Estamos treinando monitores das próprias salas,
para apoiar os alunos e as famílias com o uso do equipamento”. Suany
Carvalho, 12 anos, da 6ª série, gosta muito do laptop, que usa,
principalmente no recreio, para acessar o YouTube e procurar “coisas de
música, de hip hop”. As colegas Maria Elisa Rosa de Souza, 13 anos, e
Patrícia Pires Roberto, 12 anos, votam pelo mesmo site, para descobrir
videoclipes. A maioria dos alunos já tem alguma familiaridade com a
internet, adquirida no telecentro de Arrozal. Mas eles ainda não estão
usando todos recursos do laptop, por exemplo, a câmera digital.
Na terceira série, os professores trabalham em aula com o “Iguinho”,
espaço para crianças do portal iG. Tainara, de dez anos, navega também
no site da Barbie. Em inglês? “Há opção para inglês, espanhol e
português”, responde. Entre os meninos e meninas que vieram receber o
ministro Gilberto Gil, da Cultura, o Orkut ganhava disparado à pergunta
sobre qual o site mais bacana; e muitos já têm lá suas páginas
pessoais. O segundo preferido é o “do pinguim” — Club Penguin, site da
Disney para jogar em rede, todo escrito em inglês.
http://iguinho.ig.com.br/
www.orkut.com
http://play.clubpenguin.com/