Nuvens de conectividade, foneros e redes livres.

Uma comunidade internacional para compartilhar acessos sem-fio à internet


Uma comunidade internacional para compartilhar acessos sem-fio à internet 
Sérgio Amadeu da Silveira


Município de Almeirim (PA), na região Norte, no mapa da comunidade fonera.

O espaço de transmissão das ondas de rádio é chamado de espectro
radioelétrico. Ele é dividido em faixas de freqüência. No passado não
muito distante, em quase todo o mundo, as forças armadas usavam a faixa
de 2,4 GHz para realizar parte de sua comunicação. Como o uso militar
do espectro caminhou para freqüências mais altas, e com a disseminação
da comunicação por satélite, essa faixa foi destinada para a
comunicação médica. No final, a faixa acabou sem ocupação
regulamentada, ou seja, tornou-se aberta ou livre. Em 1996, a IEEE
(Institute of Electrical and Electronic Engineers), que possui
aproximadamente 380 mil associados de 150 países, aprovou o protocolo
de comunicação 802.11b, também conhecido como protocolo do Wi-Fi (Wireless Fidelity).

O protocolo 802.11b é um documento que diz como deve ser a transmissão
de informações usando as ondas radioelétricas. Uma das definições do
protocolo é que os transmissores de Wi-Fi deveriam utilizar a
freqüência 2,4 GHz que estava aberta. Isto permitiu que explodisse o
uso da conexão ou sem-fio. Aeroportos, cafés, supermercados, livrarias
e bares passaram a fornecer acesso à internet a partir dos hotspots,
zona de cobertura ou espaço onde o sinal de rádio conseguia conectar os
computadores e palms. No hotspot, é instalada uma antena ligada
a um roteador que, em geral, está conectado com uma rede de banda
larga. Essa antena é o centro do access point ou ponto de
acesso. O alcance do Wi-Fi é pequeno, cerca de 50 metros, a depender da
antena, mas permite conectar diversos computadores simultaneamente.
Vários dispositivos são compatíveis com o Wi-Fi, tais como os PDAs e os
telefones celulares. Muitas pessoas em casa possuem roteadores de wireless,
permitindo que elas acessem a internet de qualquer lugar da casa. Esse
avanço da comunicação sem-fio, principalmente usando as faixas
não-regulamentadas do espectro entre 2.4 GHz e 5 GHz, permitiu a
formação de comunidades de compartilhamento de conexão. Como assim?
Isso mesmo, muita gente está usando seus roteadores para irradiar os
sinais de rádio para formar uma grande nuvem de conexão. Comunidades de
conectividade aberta e outras mais restritas estão surgindo e
proliferando-se por todo o planeta.

Uma dessas comunidades é a dos foneros. Criada na Espanha em 2005, pelo
empresário Martín Varsavsky, a empresa FON quer formar uma comunidade
Wi-Fi em todo o mundo. Os foneros compartilham seu sinal de wireless
com os demais membros da comunidade. Quanto mais pessoas de uma cidade
integrarem a comunidade fonera, mais o sinal de Wi-Fi vai se expandido
até cobrir toda a região. Assim, um fonero poderá acessar a rede de
qualquer área.

O que faz um fonero? Ele instala o La Fonera em sua casa. Na verdade,
La Fonera é um roteador que segue os padrões 802.11b e 802.11g,
parecido com o Linksys, muito usado no Brasil. Ele joga o sinal de
banda larga, obtido pelo cabo que chega até as residências, no ar.
Assim as residência converte-se em um Ponto de Acesso Wi-Fi. La Fonera
é um roteador social que viabiliza a conexão compartilhada de acesso à
rede. Os membros da comunidade acabam podendo usar seus laptops
de todo lugar, desfrutando dos pontos de acesso dos demais foneros. La
Fonera permite que a página de entrada naquele ponto de acesso seja
personalizada. Além disso, cada ponto de acesso é indicado no mapa do
site da comunidade. Desse modo, os foneros podem ver onde conseguem
pegar o sinal.


Existem três tipos de membros da comunidade FON:

1) a maioria Linus, que compartilha gratuitamente o Wi-Fi de sua casa
e, portanto, obterá também o acesso gratuito em qualquer outro ponto da
comunidade fonera;

2) os Aliens, que não compartilham seu Wi-Fi e pagam 3 euros pelo uso diário da rede fonera;

3) os Bills, que preferem ganhar dinheiro obtendo 50% do que pagam os
Aliens para acessar a rede da comunidade, através dos pontos de acesso
FON. Os Bills não podem cobrar dos Linus.

Os foneros não estão sozinhos na construção de um mundo wireless
comunitário. Existem inúmeras outras comunidades, tais como a RedLibre
(www.redlibre.net/) e a FreeNetworks (www.freenetworks.org/). Existem
roteadores livres como os OpenWRT e DD-WRT e guias que ensinam como
embarcar em roteadores proprietários as versões livre. Um bom exemplo é
o wiki OpenWRT: http://wiki.openwrt.org/ .

Na cidade de Guadalajara, na Espanha — certamente o país onde a
implantação de redes compartilhadas e abertas de wireless avança
rapidamente — existe a rede www.guadawireless.net. É uma rede dinâmica
de conexão: se você está andando com o seu laptop e muda de ponto de
acesso, o seu sinal não cairá. A comunidade de Guadalajara, muito
influenciada pelos membros da comunidade Debian de software livre,
deixa claro que seus objetivos são solidários e não-comerciais.

Antonio Ládron de Guevara, um dos teóricos da GuadaWireless, escreveu
que “o que realmente interessa nesta ação é que existe muita gente
disposta a organizar, de forma altruísta, redes de computadores que
ofereçam serviços de telecomunicações para outras pessoas, sem que o
usuário final tenha que pagar; além disso, querem que estas redes sejam
cada vez mais expandidas. Amsterdam, New York, Alemanha… e atualmente
Espanha. Já começam a surgir os primeiros nós dessas redes que, pouco a
pouco, irão se ampliando e oferecendo serviços cada vez mais diversos.”
O compartilhamento agora avança na infra-estrutura de telecomunicações.