O comitê da acessibilidade

O grupo criado pelo governo federal reúne especialistas em inclusão sócio-tecnológica de pessoas portadoras de necessidades especiais



O grupo criado pelo governo federal reúne
especialistas em inclusão sócio-tecnológica de pessoas portadoras de
necessidades especiais

Leandro Quintanilha

A cada dois meses, um grupo de educadores, médicos, fonoaudiólogos,
engenheiros, cientistas e profissionais da informática se reúne em
Brasília para discutir soluções de acessibilidade. Eles são membros do
Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), instituído, no final do ano passado,
para consolidar o know how brasileiro da inclusão social de pessoas com
necessidades especiais, ou portadoras de deficiências. Neste mês,
acontece a terceira reunião.

O comitê consta no decreto 5.296, de 2004, conhecido como Decreto da
Acessibilidade. Como previsto, é dirigido pela Coordenadoria Nacional
para a Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), vinculada à Secretaria
Especial dos Direitos Humanos. Entre outras funções, é papel da Corde
articular as políticas públicas do setor, em todas as esferas
governamentais. No CAT, essa atribuição é fundamental. “Um dos
principais trabalhos do comitê será um levantamento dos recursos e dos
centros regionais de ajudas técnicas já existentes no país”, explica
Carolina Sanchez, coordenadora geral substituta da Corde.

Outras responsabilidades do CAT: promover estudos e estabelecer
competências na área de ajudas técnicas. Há, ao todo, 18 especialistas
em tecnologia assistida. O comitê conta, ainda, com representantes do
Conselho Nacional das Pessoas Portadoras de Deficiência e do governo
federal. Quatro ministérios estão diretamente envolvidos — Educação;
Saúde; Ciência e Tecnologia; e Desenvolvimento da Indústria e do
Comércio Exterior.

Em conjunto, os órgãos e entidades envolvidos precisam desenvolver
meios para superar grandes desafios, como a necessidade de garantir que
os equipamentos disponíveis no mercado obedeçam aos padrões
internacionais de qualidade — e sejam financeiramente acessíveis. Um
caminho seria incentivar a produção desses equipamentos no Brasil, o
que requer, além do investimento financeiro direto, condições para a
formação adequada de profissionais especializados.


Bengalas e softwares

Entre as entidades que integram o CAT, destaca-se o Centro de Pesquisa
e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), com 30 anos de
experiência na área. O CPqD é um pólo de pesquisa e criação
tecnológica, com mais de 1,5 mil funcionários na América, na África, na
Europa e na Oceania. “Nosso trabalho consiste em entender uma demanda e
transformá-la num produto industrial”, afirma o diretor Júlio Martorano.

“Uma bengala pode ser considerada uma ajuda técnica”, brinca Martorano,
mas são os softwares inclusivos o destaque da entidade. Entre eles,
figuram a solução Texto Fala, que facilita o acesso a caixas
eletrônicos por clientes com dificuldades de leitura (deficientes
visuais e analfabetos), e o Telefone para Surdos, que permite a
comunicação telefônica por meio de mensagens escritas.

O trabalho do Comitê de Ajudas Técnicas será dividido em estratégias de
curto, médio e longo prazos, numa escada que vai de um a dez anos. Num
primeiro momento, o objetivo é mapear as demandas e estruturas já
existentes, como centros de pesquisa e universidades, além de fontes de
financiamento e subsídio em vigor.

Numa segunda fase, o comitê deve estabelecer diretrizes para o setor e
auxiliar o governo no processo de regulamentação destas, além de
estudar possíveis mecanismos de incentivo. Por fim, chegará o momento
de avaliar o próprio trabalho do CAT e medir o benefício social
alcançado. A próxima reunião do comitê acontece nos dias 19 e 20 de
abril, em Brasília.

Central de acesso

O Sicorde, sistema de informações da Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), foi criado em
1993 com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e
da Agência Brasileira de Cooperação. O sistema funciona como um
disseminador de informações sobre políticas e ações relativas à
inclusão de pessoas com deficiência. A base de dados, que requer a
colaboração dos usuários para seu enriquecimento e atualização, pode
ser utilizada por organizações governamentais e não-governamentais,
nacionais e estrangeiras.


www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/sicorde.asp
– Sistema de Informações da Coordenadoria Nacional para a Pessoa Portadora de Deficiência

Educação digital inclusiva


Desenho de Joana e de luri,
alunos com necessidades
especiais atendidas por
programa educacional no
Rio Grande do Sul.
Os municípios gaúchos de Rio Grande, Santa Vitória do Palmar e Chuí, no
extremo Sul do país, contam, há dois anos, com um programa educacional
focado na inclusão digital de estudantes com deficiência ou altas
habilidades. Vinculado à 18ª Coordenadoria Regional da Secretaria
Estadual de Educação, o Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) atendeu,
no ano passado, 80 alunos e oito professores do ensino público
fundamental.

O trabalho congrega parcerias, como explica o coordenador José Antônio
Klaes Roig. Em 2005, as atividades começaram com a adequação dos
espaços físicos disponíveis, realizada com o apoio do Colégio Técnico
Industrial Prof. Mário Alquati. A Fundação Universidade Federal do Rio
Grande (Furg) encarregou-se da capacitação em informática dos
professores da rede pública estadual.

O NTE trabalha pela inclusão digital de estudantes com deficiência
visual, auditiva e mental, além desenvolver um planejamento pedagógico
específico para alunos com altas habilidades (“superdotação”). Além dos
professores participantes, o núcleo conta com a ajuda de três
voluntárias com deficiência física — uma surda e duas cegas.

Uma delas é Luize Dorneles, de 20 anos, cega desde o nascimento. Ela
ajudou o NTE a implantar o software livre DosVox (criado pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro), que viabiliza a edição de
textos e a pesquisa na internet para pessoas com deficiência visual,
fazendo leitura da tela. “Uso o computador todos os dias e gosto muito
de ensinar.”


nte-riogrande@seduc.rs.gov.br
– Núcleo Tecnológico Educacional da 18ª Coordenadoria Regional da Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul

http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/
– Projeto DosVox


www.presidencia.gov.br/sedh
– Secretaria Especial de Recursos Humanos

www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/principal.asp – Coordenadoria Nacional para a Pessoa Portadora de Deficiência

www.cpqd.com.br – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações

www.acessobrasil.org.br – Acessibilidade Brasil