Rádios-postes, celulares e radiotransmissores para a comunicação na região amazônica, em projetos apoiados pelo Oi Futuro. Verônica Couto
Hozana, da Comunidade Boca do Mamirauá, dando um alô na rádio-poste, em Mamirauá (AM). Ao lado instalação do equipamento na reserva.
De rádios boca-de-ferro (ou rádios-postes) ao computador, passando por
celulares ou radiotransmissores, a tecnologia da comunicação é o
instrumento de transformação social dos onze projetos selecionados,
este ano, pelo programa Novos Brasis, do Instituto Oi Futuro, mantido
pelo grupo Oi (operadoras fixa e móvel, e Contax). As entidades
responsáveis pelas iniciativas reuniram-se em Fortaleza (CE), no início
de julho, no Encontro do Programa Novos Brasis, para discutir a
mecânica de apoio do instituto, que prevê capacitação e o ingresso dos
gestores em um portal na internet para intercâmbio e acompanhamento. De
acordo com a gerente de projeto do Oi Futuro, Maria Arlete Gonçalves, o
Novos Brasis “procura tecnologias sociais que façam diferenca e possam
ser replicadas”.
Duas das ações contempladas em 2007 vieram da seleção anterior. “Este
ano, o instituto optou por não realizar o Prêmio de Inclusão Digital, e
continuar aportando recursos em dois projetos do edital do Novos Brasis
do ano passado. Eles ainda estão em desenvolvimento, mas o resultado
até agora é excelente”, justifica Maria Arlete. Os projetos renovados
são a Rede Ribeirinha de Comunicação, de formação de rádios-postes na
reserva de Mamirauá (AM), e o Alô Cidadão, um serviço idealizado pelo
Instituto Hartmann Regueira, para envio de mensagens de utilidade
pública, via celular (SMS), para assinantes da comunidade da Pedreira
Prado Lopes, Belo Horizonte (veja ARede nº21, “A Cultura da
Mobilidade”).
A Rede Ribeirinha de Comunicação é pilotada pelo Instituto de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), organização com sede em
Tefé (AM), que faz a gestão para o Estado do Amazonas da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá (1,124 milhão de ha). “A
gestão participativa requer o envolvimento das populações locais na
proteção e na fiscalização das áreas”, diz Thiago Antonio de Sousa
Figueiredo, coordenador do projeto. “Um dos principais instrumentos
para educação dessa comunidade é o rádio. Pelo baixo custo do receptor,
e porque as ondas penetram na floresta. As casas têm parabólica, mas a
programação nacional não tem nada a ver com aquela realidade”. A partir
de 2004, em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam),
foram realizadas oficinas de rádio, jornal e vídeo para educadores
populares, e, em 2006, nasceu a Rede Ribeirinha.
Fabriquetas Dedo de Gente,
cooperativa do CPCD, que produz
esculturas de ferro, doces, etc.
Numa articulação IDSM e lideranças locais, foram implantadas
rádios-postes (as bocas-de-ferro de amplificadores, que custam cerca de
R$ 250,00 cada) em três comunidades (98 famílias) — Porto Braga e Boca
do Mamirauá, em Mamirauá, e Boa Esperança, na reserva vizinha de Amanã
(2,350 milhões de ha). As rádios funcionam cinco horas/dia, com energia
solar, e nove gravadores foram distribuídos para produção da
programação dos postes. São 89 comunidades nas duas reservas, 16 delas
trocando informações pela Rede, além de 80 comunicadores enviando
reportagens regularmente. As três comunidades equipadas de
rádios-postes criaram um fundo para mantê-las. E os recursos do Novos
Brasis (R$ 80 mil no primeiro ano, R$ 50 mil em 2007/08) devem gerar
mais oficinas de comunicação. Em breve, a intenção é solicitar ao
Ministério das Comunicações outorga de radiodifusão comunitária.
A comunicação via rádio (dessa vez radiotransmissores) também é o
objetivo do projeto da Hutukara Associação Yanomami. Segundo Dário
Vitório Xiriana, um de seus integrantes, as terras indígenas,
protegidas por lei, são freqüentemente invadidas por garimpeiros e
madeireiros. E os transmissores seriam a melhor (às vezes a única)
maneira de pedir ajuda e fazer denúncias, contactando a sede da
associação, em Boa Vista (RR). Já existem 13 regiões associadas à
entidade com radiotransmissão, e os R$ 126 mil do Novos Brasis vão
equipar outras 28. O território Yanomami tem 9,664 milhões de hectares,
ocupado por 15,6 mil habitantes.”São comunidades distantes, em que se
anda até cinco dias no mato, para chegar”, calcula Dário.
Bonecas de Araçuai
As mulheres das reservas extrativistas (Resex) da Amazônia também andam
muito a pé, lembra Fátima Cristina da Silva, do Conselho Nacional dos
Seringueiros, que atua no projeto A Bagagem das Mulheres da Floresta. A
bagagem, no caso, é material educativo e o conhecimento adquirido na
prática por parteiras, lideranças sindicais e outras multiplicadoras
capacitadas em oficinas sobre saúde de mulher, prevenção DST/Aids e
planejamento familiar, financiadas pelo Ministério da Saúde. Os R$ 150
mil do Oi Futuro serão usados para montar uma central 0800 (antena
rural), e adquirir celulares para essas 40 mulheres, que circulam pelo
Pará, Amazonas, Maranhão e Amapá, cobrindo Resex onde estão cerca de 30
mil famílias.
“Elas enfrentam picadas de bicho, carro que atola, tomam banho de
roupa, na frente de todo mundo, sobem morro com bacia e criança na
barriga”, conta Fátima Cristina. Em lugares, diz ela, onde o SUS não
chega. As “mulheres da floresta” poderão chamar, pelo 0800, a central
da entidade, em Manaus, para tirar dúvidas e transmitir dados da
população, construindo uma base de referência sobre saúde nas Resex,
que subsidie políticas públicas. De acordo com Samara Werner, gerente
de projetos do Oi Futuro, esse é um dos papéis do instituto:
identificar modelos que possam ganhar escala em programas do Estado
para universalizar serviços e direitos.
Digital é um ônibus, adaptado com computadores ligados à internet e
telão, para exibição de filmes e teleconferências, cursos e oficinas
de metarreciclagem. Idéia do Instituto de Ecocidadania Juriti, de
Juazeiro do Norte (CE), que planeja percorrer, em um ano, 24
bairros. O público atendido será encaminhado a centros públicos da
cidade, onde há, por exemplo, uma Casa Brasil. O Oi Futuro aplicou R$
162 mil na iniciativa.
A ONG InterCidadania está criando o iTeia, portal para divulgar a
produção dos Pontos de Cultura, apoiados pelo Ministério da Cultura. A
iniciativa, contudo, não tem, até o momento, nenhum recurso
governamental, diz Mariana de Melo Silveira, integrante da ONG. As
comunidades dos Pontos poderão publicar músicas, vídeos, fotos e textos
no iTeia, e uma ferramenta permitirá aos autores gerenciarem
diretamente os banners
de anunciantes inseridos nas páginas das suas produções. Já a proposta
do Instituto Brasileiro de Cultura, Moda e Design é ativar um ambiente
virtual de organizações comunitárias que trabalham com moda, apoiando
sua profissionalização.
Quatro ações aprovadas no Novos Brasis envolvem capacitação técnica. A
Fabriqueta de Software será criada em Araçuaí (MG), no Vale do
Jequitinhonha, para jovens a partir de 16 anos. “Muitos saem para o
corte de cana no interior de São Paulo, mas queremos que o jovem
reconheça Araçuaí como lugar para ficar”, diz Flávia Mota, do Centro
Popular de Cultura e Desenvolvimento. Já a ONG Projeto Legal, do Rio de
Janeiro, vai oferecer oficinas de comunicação a 40 adolescentes autores
de ato infracional, para que os jovens interfiram (com blogs e sites)
na política de direitos do Estado do Rio. O projeto Olhar Circular
pretende formar um laboratório multimídia num trailer para capacitar
jovens de Marechal Deodoro (AL); e o Instituto Certi Amazônia quer
desenvolver games em software livre para o ensino de informática.
www.certiamazonia.org.br