Onde estão os telecentros?

Dois projetos diferentes, tocados pelo MCT e pelo Planejamento, tentam mapear a inclusão digital no Brasil


Dois projetos diferentes, tocados pelo MCT e pelo Planejamento, tentam mapear a inclusão digital no Brasil  Verônica Couto


Levantamento dos Pontos de Cultura, que já foi feito pelo Ipso para o MinC.

Dois mapas brasileiros de telecentros e projetos de inclusão digital
devem estar prontos até o final do ano. Estão sendo produzidos,
separadamente e com metodologias diferentes, pelo Instituto Brasileiro
de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), para o Ministério da
Ciência e Tecnologia, e pela ONG Instituto de Pesquisas e Projetos
Sociais Tecnológicos (Ipso), para o Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão.

O resultado da primeira etapa do Mapa da Inclusão Digital do Ibict foi
apresentado no mês passado, em Brasília, identificando 108 iniciativas,
em 3 mil municípios, no âmbito federal, estadual, municipal ou do
terceiro setor. O total apontado de 16 mil unidades, contudo, está
distorcido, devido à sobreposição de projetos que contam com mais de um
apoiador, como reconhece a coordenadora técnica do trabalho
desenvolvido pelo Ibcti, Anaiza Caminha Gaspar. É o caso das escolas,
que foram consideradas dentro do ProInfo, programa de informatização do
Ministério da Educação, e de novo somadas entre os Pontos de Presença
do Gesac, do Ministério das Comunicações, que dá sua conexão à
internet. Só aí, pode-se chegar a uma sobreposição da ordem de 2,4 mil
unidades, total de escolas no programa do Minicom.

“O Gesac, que dá a conexão, se associa ao Proinfo. Existe sobreposição.
Por isso não podemos dizer que o total de pontos corresponde ao total
existente. Mas nos interessava, principalmente nessa primeira fase,
saber quantas e quais são as iniciativas”, explica Anaiza. Na segunda
fase, nos próximos três meses, o Ibict vai categorizar os programas,
identificar os parceiros conforme sua função e separar as unidades,
para eliminar duplicidade. Para isso, pretende falar diretamente com as
unidades de inclusão digital. “Estamos estudando a metodologia. Vamos
identificar o órgão que realmente mantém o Ponto de Inclusão Digital
(PID), que se responsabiliza pela sua continuidade e sustentabilidade”,
diz a coordenadora. Segundo ela, também será desenvolvida uma
ferramenta online para cadastramento dos projetos na internet por seus próprios integrantes.

O convênio firmado entre o Ministério do Planejamento e o Ipso
estabelece, até o final do ano, colaboração na construção do
Observatório Nacional de Inclusão Digital (Onid), projeto tocado pela
pasta desde a gestão anterior do governo Lula. Junto do levantamento
dos projetos e dos pontos de acesso, também prevê um cadastro online
para que os gestores alimentem diretamente o Onid com dados das suas
iniciativas. O Observatório estará vinculado ao portal da inclusão
digital, que a SLTI mantém na internet (veja o link).

O Ipso, agora, também está na etapa de contatar os programas, para
solicitar informações. Contava, no final de maio, com cerca de mil
questionários em fase de depuração, sendo geocodificados. De acordo com
Carlos Seabra, diretor da ONG, “o objetivo é gerar um mapeamento de
todos os programas, começando pelos federais”. Ele explica, ainda, que
“a idéia é ser um observatório (não um cadastro nacional), que seja
consultado também pela população”. Por exemplo, para identificar os
espaços mais próximos, ou para acesso a documentos, artigos e
informações de apoio. Num cálculo não científico, preliminar, a
estimativa é que existam cerca de 5 mil telecentros no país.

Conceito de inclusão digital


Mas, se a proposta de um cadastro aberto é comum a ambas iniciativas —
do Ibict e do Ipso —, a definição de inclusão digital é bem diferente
entre elas. E vai fazer diferença nas totalizações, não só de unidades
como de programas. No estudo do Ibict, foram considerados Pontos de
Inclusão Digital (PIDs), também denominados telecentros, locais com um
ou mais computadores para acesso público à internet ou apenas para
treinamento ou aula de informática. Ou seja, a conexão não foi
pré-requisito.

“Idealmente, o PID precisaria de um acesso à internet, mas, como não
podíamos ter certeza se estavam conectados, pensamos em trabalhar,
nessa primeira fase, com o conceito de protoPID, unidades que, mais
cedo ou mais tarde, tenderiam a se ligar à internet”, argumenta a
coordenadora do Ibict. Isso também explica a presença das escolas de
informática. “A rigor não deveriam entrar. Mas, por exemplo, nas salas
de informática do ProInfo e do CDI-Comitê para Democratização da
Informática, consideramos que há uma tendência de serem abertas ao
público.”

Na segunda fase, o Ibict poderá estender o mapa a lan houses
e iniciativas do setor privado. “Porque acreditamos que a inclusão
digital acontece por camadas (em várias faixas de renda, em várias
situações), e na própria lan house. Avaliá-las poderia
sinalizar se é atrativo para o setor privado entrar na inclusão
digital. Uma questão que nos foi colocada por um conselheiro do Comitê
Gestor da Internet”, conta Anaiza.

Na pesquisa do Onid, o conceito de inclusão digital obedeceu às
diretrizes da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação
(SLTI), do Planejamento. Telecentros têm mais do que três computadores
(a não ser em áreas remotas ou com problemas de energia); precisam
estar conectados à internet; não podem servir à apropriação de lucro
(“se cobram por necessidade de sustentabilidade, é preciso saber o que
é feito dos recursos, porque lan houses
não são telecentros”, diz o diretor do Ipso); e são abertos à
população, ainda que em tempo parcial (uma escola, desde que libere o
acesso nos finais de semanas).

Apesar das diferenças, é possível que as duas instituições comecem a
combinar esforços. “Pretendemos ouvir a equipe do Onid e outros players,
e formar um comitê consultivo”, diz Anaiza. Carlos Seabra, do Ipso,
adianta que já conversou com Emir Suaiden, diretor do Ibict, oferecendo
e solicitando colaboração. “Os projetos são diferentes, mas
complementares. Pretendemos usar os dados do Ibict e vice-versa”,
afirma.

O trabalho do Ibict partiu de estudo financiado pela Unesco, conduzido
pelos pesquisadores Tadao Takahashi e Maria Nazaré Freitas Pereira,
que, em 2005, identificou 95 projetos. A idéia do mapa surgiu do
projeto da ONG Mediateca, com a UNB, e apoio da metodologia da Unesco.
Selecionado no programa Novos Brasis, do Instituto Oi, foi incorporado
pelo MCT, por meio do Ibict.

www.governoeletronico.gov.br/onid – Contém o formulário para incluir seu projeto no Onid

www.inclusaodigital.gov.br – Portal da inclusão digital do governo federal

http://inclusao.ibict.br/ – Portal da inclusão digital do Ibict, onde estão publicados os dados da primeira fase do Mapa da Inclusão Digital.