Os institutos da Oi, da Vivo e da Claro estão entre os pioneiros na criação de aplicações sociais para a tecnologia 3G
Rosa Sposito
ARede nº52,outubro 2009 – Todos os dias, a jovem Rafaela Gonçalves, de 21 anos, sai de casa pela manhã, com um celular 3G na mão, e começa a percorrer as ruas da comunidade onde mora – o Morro Santa Marta, no Rio de Janeiro. Ela tem uma missão: mapear as ruas e locais de interesse público da comunidade, que tem 54.692 metros quadrados de extensão e população estimada em 4.520 pessoas.
Rafaela é uma wiki-repórter, cujo celular 3G vem equipado com câmera digital de foto e de vídeo, GPS e um aplicativo móvel, que funciona integrado ao site do projeto WikiMapa (www.wikimapa.org.br) na internet. Ela é uma das jovens escolhidas para fazer o mapeamento de cinco comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro, com base na combinação de recursos 3G e do conceito de trabalho colaborativo (wiki). O projeto foi lançado no início de junho pela ONG Rede Jovem Comunitas, em parceria com o Programa Jovem Comunitas, do Instituto Oi Futuro. A ideia é criar um mapa virtual dessas comunidades – além do Morro Santa Marta, foram selecionados para o piloto também o Complexo do Alemão, a Cidade de Deus, o Morro do Pavão-Pavãozinho e o Complexo da Maré –, mostrando não só suas ruas e praças, mas também serviços como escolas, quadras esportivas, bares e estabelecimentos comerciais em geral.
Aplicações como esta, que usam a velocidade e os recursos avançados da tecnologia celular de terceira geração para melhorar a qualidade de vida da sociedade, ainda são muito poucas no Brasil – mas essas poucas, ou grande parte delas, resultam de iniciativas dos institutos mantidos pelas operadoras celulares: Oi Futuro, Instituto Claro e Instituto Vivo . “É preciso saber o que fazer com a tecnologia do ponto de vista social”, pondera Samara Werner, do Oi Futuro. Segundo ela, apesar de ainda serem poucos no Brasil, projetos como o WikiMapa são importantes para o teste e o desenvolvimento de metodologias que poderão ser aplicadas em larga escala, quando a tecnologia estiver disponível para a maioria da população. “A 3G pode ter um papel importante no país, em áreas básicas como saúde e educação”, acrescenta. “Com o aumento da velocidade, é possível ter aplicações educacionais com transmissão de imagens e vídeos, capazes de encantar e atrair muito mais usuários.”
No Instituto Claro, criado em março deste ano, o foco está precisamente na educação e a entidade tem apoiado projetos que utilizam novas tecnologias para estimular a aprendizagem. Com esse objetivo, lançou o Prêmio Instituto Claro – Novas Formas de Aprender, aberto à participação de educadores, estudantes, escolas, universidades e ONGs interessados em inscrever seus projetos. Além disso, mantém o festival de curtas-metragens Claro Curtas, que tem a finalidade de incentivar a produção audiovisual sobre temas sociais no país, reconhecendo as manifestações culturais e respeitando as diferentes características regionais, e ainda de promover oficinas para a capacitação de jovens brasileiros.
O Instituto Vivo também aposta no desenvolvimento de uma nova educação, por meio da sociedade em rede e da tecnologia móvel. Desde 2007, o instituto apoia o projeto Telinha de Cinema, desenvolvido pela ONG Casa da Árvore, no Tocantins, com o objetivo inicial de estimular a produção de vídeos de bolso, com a câmera do celular, por jovens de comunidades carentes de Palmas. Atualmente, o núcleo de Palmas dispõe de seis celulares 3G e está iniciando um novo projeto, batizado de Empreendedorismo e Inovação. “A ideia é aproveitar os jovens já capacitados, com formação técnica básica, para produzir conteúdo multimídia para o mercado cultural e para empresas, usando recursos como a transmissão em streaming de áudio e vídeo”, adianta Aluísio Cavalcante, da ONG Casa da Árvore.
Cavalcante conta que a primeira experiência nesse sentido foi feita em juho, durante uma oficina realizada em uma escola de Palmas, que envolveu alunos, pais, professores e funcionários da escola. Usando um celular 3G (modelo Nokia N95), o grupo gravou cenas em vídeo de uma história que ele mesmo criou, editou – no próprio aparelho – e depois transmitiu para um blog, usando a conexão de banda larga móvel. No início de agosto, a metodologia do Telinha de Cinema passou a ser utilizada também em duas escolas da rede estadual de Rondônia, que estão servindo de piloto para o projeto Telinha na Escola. Fruto da parceria entre a Secretaria Estadual de Educação de Rondônia, o Instituto Vivo e a ONG Casa da Árvore, o projeto destina-se a incentivar professores e alunos a produzir conteúdo pedagógico com o celular, de modo a enriquecer as aulas com vídeos, imagens e outros recursos multimídia. Para isso, as escolas receberam seis aparelhos 3G.
Outro projeto nessa linha, que também tem o patrocínio do Instituto Vivo, é o Minha Vida Mobile (MV/MOB). Iniciado em Minas Gerais, o projeto consiste na realização de oficinas pedagógicas, reunindo professores, gestores de escolas e estudantes do ensino médio, que juntos produzem conteúdos mutimídia (com vídeos, fotos e áudio), utilizando o celular. Segundo Wagner Merije, coordenador geral do MV/MOB, nessas oficinas são usados aparelhos de diferentes marcas e tecnologias – inclusive modelos 3G mais sofisticados. “Em muitas escolas, ainda faltam computadores e as conexões a internet ainda são raras”, afirma Merije. “A galera nova, que a gente batizou de ‘Geração Mobile’, quer mais acesso, mais funcionalidades, e tem que ser por um bom custo-benefício. Isso é que vai fazer o 3G acontecer de fato.”
Por enquanto, com menos de dois anos no mercado brasileiro, a tecnologia 3G ainda é cara e inacessível para boa parte da população. Além disso, a cobertura das redes 3G ainda está restrita a uma pequena parte do território nacional: até o início de agosto, ela chegava a 656 municípios (do total de 5.561 no país), que concentram 64% da população brasileira, de acordo com o site Teleco. Outra barreira importante a ser ultrapassada é a do custo – não só do serviço, mas também dos terminais de acesso à rede 3G. Mesmo assim, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o Brasil já tinha 5,5 milhões de acessos 3G em junho deste ano. Desse total, 1,9 milhão são aparelhos celulares e 3,6 milhões são terminais de dados. Com isso, os celulares 3G representam somente 1,19% do total de 159,6 milhões de assinantes de telefonia móvel no país, alcançado em junho, enquanto o minimodem (e outros tipos de terminais de dados) responde por 2,26% da base móvel instalada.