A internet e a subversão da ordem
André Luís Bordignon
O Fórum de Cultura Digital de Campinas promoveu, em março, a 2ª Semana de Cultura Digital. Este ano o tema foi “A internet pode subverter a ordem?”, com o subtema “O uso consciente da internet”. O objetivo do evento foi trazer à tona duas questões: como estão os acessos e a geração de conteúdos na internet; e como essa ferramenta vem sendo utilizada para combater o sistema social que exclui uma grande parcela da população.
Em um dos debates, discutiu-se a importância de manter a informática comunitária como espaço de formação para o uso consciente da rede. Sabemos que, na esfera pública, a maioria das escolas ainda não está preparada para oferecer boa formação para os alunos sobre o potencial da internet. Normalmente, são os movimentos sociais, com suas ideologias includentes e transformadoras, que conseguem propor uma boa formação sobre essa poderosa ferramenta. E não estamos falando de qualquer formação, estamos falando de uma formação para a promoção da cidadania, para o desenvolvimento de autores e propositores. O que queremos é que a internet possa ser utilizada para a produção de conteúdo e mobilizações sociais. Produção de conteúdo que valorize a história e cultura do povo e mobilizações sociais que busquem a garantia de direitos para toda a população. Não queremos que a internet seja um espaço de reprodução do que é a televisão, na qual existe um consumo em massa e nenhuma interação ou contestação.
Na questão do uso consciente da internet, levantou-se a questão das revoluções e insurreições que aconteceram pelo mundo, em grande parte motivadas ou disseminadas via rede. O que percebemos com a Primavera Árabe, os Indignados da Espanha e o Ocuppy Wall Street é que os movimentos e as denúncias tiveram a internet como estimuladora. Porém, mudanças visíveis e concretas ainda não ocorreram. Na verdade, em alguns locais até houve retrocesso, como nas eleições da Espanha. No entanto, vimos durante os debates que, apesar de termos um movimento dinâmico e de massas, o grande problema é que ainda há uma estrutura institucional arcaica e antidemocrática. Muitos governos ainda continuarão a ser pressionados e por vezes demovidos pelo movimento da internet; mas do ponto de vista institucional nada mudará, até que o próprio movimento faça as transformações na esfera institucional. Até lá, vamos ver o que aconteceu na Primavera Árabe.
Outro ponto discutido foi o Marco Civil da Internet. Enfatizou-se a importância da aprovação do Marco nas bases apresentadas para a Câmara pelo relator, deputado Alessandro Mollon. No entanto, existe uma pressão das grandes empresas de Telecomunicações para que a neutralidade da rede seja quebrada. Não podemos permitir que isso aconteça e que o privilégio de tráfego seja para quem paga mais.
O Fórum de Cultura Digital de Campinas acredita que os debates que envolvem a utilização da internet para a promoção da cidadania é fundamental para a sociedade. Só o envolvimento da sociedade nesse debate e na luta garantirá uma internet livre e democrática.
André Luís Bordignon, presidente do CDI Campinas e organizador do Fórum de Cultura Digital