A troca de sinais
Maria das Graças Pinto Coelho
ARede nº 94 – especial novembro 2013
Vivemos na emergência de uma sociedade do conhecimento/cognição, que nos coloca diante de um circuito comunicativo multidirecional, como o que se realiza agora na comunicação em redes. A comunicação de muitos para muitos ocupa o lugar antes reservado a uma comunicação opressiva, unidirecional, realizada por grupos corporativos no modelo de um para muitos.
A revista ARede pescou essa mudança nos processos mediativos que nutrem a sociedade contemporânea. Instituiu o Prêmio ARede para incentivar a expansão do acesso à cultura digital e promover práticas sociais diferenciadas. Ao pensar a inclusão digital e se conceber como uma alternativa político-editorial, entendeu um cenário complexo, que apenas se anunciava. Apostou em uma unidade de princípios e procedimentos em sua representação institucional que estimula a produção de conhecimentos em rede. Radicalizou sua dinâmica editorial de forma a permitir a troca dialógica entre seu discurso, público leitor, colaboradores e os coletivos de cidadania. E promove o que pode ser denominado de ecologia de saberes.
Imprimiu no debate público um jornalismo que coloca o sujeito comum no centro da interlocução, que se preocupa se ele interage, ou não, com a realidade social. A revista se diferencia ao ampliar as diversidades e possibilidades de expressão – discursos, técnicas, narrativas, imagens e imaginários – em torno dos grupos de ativistas da cidadania e foge do ciclo vicioso e viciante da mídia tradicional, onde a identidade do jornalista profissional foi promovida a categoria informativa no processo mediativo. O que é bem compreensível, porque esse é o jogo normal dos atores sociais: o de produzir uma concepção favorável aos seus interesses.
Essa identidade não somente dominou as relações com as outras instâncias sociais, como ocupou toda a atenção das mídias. Nos relatos da mídia tradicional quase não sabemos nada das reais histórias dos sujeitos que cercam os acontecimentos; no entanto, conhecemos bem os pares do jornalismo.
Nas redes colaborativas construímos um grande texto que necessariamente transcende as circunstâncias de sua criação, uma vez que ele é constantemente recriado pelos leitores. Tais textos encerram muitos significados, pois o sentido pertence a cada um de seus leitores. São narrativas nas quais os relatos dos acontecimentos sociais não estão limitados pelos padrões morais da mídia tradicional. O texto recriado é livre e não privilegia o dolo, a culpa e o sofrimento social, nem transforma as narrativas em círculos marcados pelo medo, alimentando a estética da violência, como forma de evitar o confronto com a diversidade de atores, opiniões, doutrinas ou ideologias.
São as redes de conversações transversais que oxigenam novas formas de pensamentos, remodelam valores, renovam as dimensões da cognição e das mobilidades; e apresentam novos rearranjos discursivos que podem desestabilizar as estruturas de poder existentes. Outro aspecto importante das redes é a possibilidade de orientarem, ou melhor, forjarem uma mudança na forma como as pessoas viverão neste século 21.
Maria das Graças Pinto Coelho é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e integrante da comissão julgadora do Prêmio ARede