Opinião

Teia 2008: reflexão e encantamento


ARede nº41 outubro de 2008 – Entre os dias 12 e 16 de novembro, Brasília será tomada por uma Teia. A Teia da diversidade cultural brasileira. Será o terceiro encontro nacional dos Pontos de Cultura, que integram o programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura. Mais de 800 representantes e centenas de artistas e ativistas culturais reunidos na Esplanada dos Ministérios em fórum, seminários e mostra artística. Um encontro de reflexão e encantamento.

O conceito dos Pontos de Cultura é muito simples: autonomia e protagonismo sócio-cultural. Mas chegar a essa simplicidade não é fácil, pois expressa uma mudança de paradigma na relação entre Estado e sociedade. No lugar de um Estado que impõe, um Estado que dispõe; para além das idéias necessárias, mas, em certa medida, conformadoras, da inclusão social, a retomada do conceito da emancipação humana. Em sua essência, Ponto de Cultura significa potencializar iniciativas criadoras do povo brasileiro. A Teia, por sua vez, é a potencialização desses Pontos, que se fortalecem ao se articular em rede.

A cada edição da Teia é definido um tema e uma plataforma de conversas e alianças entre redes e movimentos. A primeira, em 2006, teve o prédio da Bienal de São Paulo como palco. Não foi uma escolha aleatória, pois, ocupar o principal espaço das artes consagradas no Brasil teve o efeito do choque, da quebra de hierarquias na cultura e marcou o início da construção de novas legitimidades. Seu tema foi “Venha se ver e ser visto”. A principal aliança aconteceu com os núcleos da economia solidária. Em Belo Horizonte (2007), novamente um espaço nobre, o Palácio das Artes e uma série de equipamentos culturais em seu entorno. “Tudo de Todos” foi o lema na construção de uma cultura comum e a integração entre Educação, Cultura e Comunidade como meio para avançar nosso processo civilizatório.

Os Pontos de Cultura nascem na periferia (seja social, geográfica ou estética) e vão ocupando espaço, interagindo entre si, questionando realidades, propondo soluções, criando. E assim se fortalecem. Ao chegar em Brasília, um novo passo será dado. De um lado, o avanço na auto-organização dos próprios Pontos, na medida em que se desprendem da tutela do Estado. Neste ano, a organização do evento ficou sob a responsabilidade do Conselho Nacional dos Pontos de Cultura (CNPC). Do outro lado, a surpresa e o encanto que as pessoas de fora desse movimento terão com a produção ética e estética dos Pontos de Cultura da periferia do Brasil. Na época do lançamento das bases conceituais do programa Cultura Viva, se falava da necessidade de “desesconder” um Brasil que os próprios brasileiros esconderam de si e que agora emerge em plenitude.

O tema deste ano são os Direitos Humanos: “Iguais na Diferença”. E no colorido dessa diversidade, cada um de nós, representantes dos Pontos, gestores, artistas, intelectuais, trabalhadores, jovens, crianças, mulheres, índios, negros, homens, mestiços, mamelucos, brasileiros. Todos (e esperando que todo o povo de Brasília e entorno para lá se achegue). Cada um de nós, mesmo aqueles que não puderem estar lá, estão convidados a transformar o dia 15 de novembro de 2008 no dia em que a república se redescobriu. E o Brasil se refaz, espelhado na imagem de seu povo. Esta é a Teia.


*Célio Turino é secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura.