O brasileiro que inventou o rádio
ARede nº57 abril/2010 – Roberto Landell de Moura (1861-1928) é uma personagem fascinante da história do Brasil. Padre e cientista, pioneiro das telecomunicações, gênio e idealista, foi um homem que viveu além do seu tempo. Apesar de tantos atributos, ele ainda é, curiosamente, pouco conhecido. E a surpresa fica ainda maior quando lembramos um dos seus principais feitos: a invenção do rádio. Sim, foi esse brasileiro que inventou o rádio. Antes de Marconi. Porque rádio é voz e sons audíveis e Marconi inventou, na verdade, a telegrafia sem-fio. Enquanto o italiano transmitia sinais em código Morse (ponto e traço), o brasileiro ia além, transmitindo a voz humana através de ondas eletromagnéticas ou de um feixe de luz. E, ao usar a luz, Landell colocou em ação o mesmo princípio do laser e das fibras ópticas.
Após ter realizado experiências públicas em São Paulo, entre a Avenida Paulista e o alto de Santana, no final do século 19, Landell patenteou as suas invenções no Brasil (1901) e nos Estados Unidos (1904). Recomendou, então, a utilização de ondas curtas para aumentar a distância das transmissões – o que, naquela época, não era cogitado pelos outros cientistas. O padre-cientista também projetou a televisão, o teletipo ou o controle remoto pelo rádio, muitos anos antes da “descoberta oficial” dessas invenções. Como se não bastasse, vislumbrou as comunicações interplanetárias. Infelizmente, ele pagou um preço caro por tanta genialidade. Não deram a devida atenção para suas notáveis invenções, não recebeu nenhum apoio material, foi perseguido e acusado de ter pacto com o demônio, destruíram os seus aparelhos e ele foi “forçado”, segundo as suas próprias palavras, a abandonar a carreira científica quando estava no auge. Diante de tantas adversidades, Padre Landell, como ele gostava de ser chamado, dizia que, “em coisas de ciência, o que avança em relação à sua época não deve esperar justiça dos contemporâneos”. Ele lutou para mostrar que a religião não é inimiga da ciência. Mas não deu certo.
No desenvolvimento da longa pesquisa que culminou no livro Padre Landell de Moura: um herói sem glória. O brasileiro que inventou o rádio, a TV, o teletipo… (Editora Record), descobri, aos poucos, a história de vida do padre-cientista, que se confunde com o pior da raiz cultural brasileira. Na visão precoce terceiro-mundista, valorizou-se o que é de fora, em detrimento do talento nacional. O Brasil importou tecnologia para entrar na era das telecomunicações e perdeu a grande chance histórica de largar na frente de outras nações. Pela ignorância geral do povo, ele não podia ser padre-cientista. Aí começaram as perseguições… e novas injustiças.
Ao longo de 30 anos de pesquisa, encontrei muitas provas do seu pioneirismo científico. Hoje, os documentos originais estão sob a guarda do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Para que a dramática história do Padre Landell não continue no esquecimento e seja conhecida pelas futuras gerações – por sua contribuição à ciência nacional e pelo exemplo do que não se deve fazer com um inventor talentoso – é que foi lançada uma campanha pelo reconhecimento desse valoroso brasileiro. No site www.mlm.landelldemoura.qsl.br, um abaixo-assinado eletrônico solicita que as autoridades do governo reconheçam os méritos desse cientista, incluindo a sua história no currículum escolar obrigatório.
Hamilton Almeida é jornalista, autor de quatro livros sobre o Padre Landell de Moura, incluindo uma obra publicada na Alemanha, Pater und Wissenschaftler.