Função social das redes na gestão do patrimônio cultural
ARede nº58 maio/2010 – Um dos pilares da modernidade nas políticas de patrimônio é a ampliação dos limites do patrimonial no sentido de uma ideia de preservação não só como conservação do bem, mas, especialmente, como utilização. Proteger o patrimônio é definir seus novos usos pelas dinâmicas sociais. Desse modo, como criar meios para que os acervos artísticos contribuam para melhorar a vida social de cada cidadão? As inúmeras possibilidades de difusão do patrimônio artístico e museológico disponíveis enfrentam o desafio de democratização do acesso à cultura. Entre os instrumentos fundamentais para isso, destacam-se as redes de computadores, a informação via internet.
A lógica das redes e suas estruturas abertas e horizontais compreendem uma dinâmica de fluxos que envolvem desde os sistemas e redes de gestão de patrimônio museológico, as associações e os conselhos de setores que compartilham códigos de comunicação, até as redes de informação, cujo know-how tecnológico é fundamental. O conceito de redes não compreende só a comunicação tecnológica; é muito mais que isso. O termo, hoje banalizado, deve ser repensado como importante descendente pós-moderno de articulação das políticas culturais.
O uso da tecnologia tem trazido reais benefícios para a gestão do patrimônio artístico-cultural enquanto ferramenta de divulgação e ampliação do acesso ao acervos de obras de arte expostos em museus, galerias e centros culturais. Entretanto, se considerarmos que o contato com a obra original é único e insubstituível, a internet é um indispensável meio para despertar o desejo da visita real ao museu. A visita virtual, mesmo que enriquecedora, não dispõe de elementos físicos como a evidência das qualidades intrínsecas às obras, do próprio contexto cultural, e de algumas formas de interação com a arte contemporânea, claramente percebidas por meio da emoção do encontro com a obra.
A ampla experiência sensorial é uma das funções importantes nas políticas de interpretação do patrimônio. Portanto, as redes de informação, como, por exemplo, os sites dos museus, desempenham um importante papel na difusão de seus acervos, inventários digitalizados, jogos de imagens e valorização da diversidade cultural. No entanto, os museus virtuais carecem, ainda, de uma reflexão sobre a missão desses “espaços” culturais, mediadores entre a herança artística e o cidadão. O embate entre a Rede e o Ser, delineado pelo sociólogo Manuel Castells, tem, por um lado, as justificativas de uma revisão democrática de acesso ao patrimônio. Por outro, a intenção de promover maiores benefícios na vida cultural do indivíduo, despertando a consciência da importância de ações compartilhadas e presenciais de preservação do patrimônio artístico-cultural, em favor da quantidade de pessoas que acessam virtualmente os bens patrimoniais.
A grande contribuição das redes no universo cultural é não só difundir o patrimônio artístico-cultural, mas, principalmente, reforçar identidades locais e nacionais, religiosas e étnicas, inseridas em um mundo fragmentado, globalizado e desorganizado. Se tivermos juízo, podem ser pensadas como um remédio eficaz para os males e desafios da preservação do nosso patrimônio cultural.