Opinião

De que distância estamos falando?

Adriano Canabarro Teixeira

ARede nº63 Outubro de 2010 – Uma das características marcantes da sociedade contemporânea é a presença da tecnologia no cotidiano das pessoas, transformando a vida de cada indivíduo nas mais diversas áreas e das mais variadas formas. Nessa dinâmica, as tecnologias de rede (TR) ganham destaque, uma vez que estabelecem uma situação de conectividade generalizada, ampliando enormemente as possibilidades de comunicação e interação entre os seres humanos por meio de um processo de encurtamento do mundo.

Sem querer incorrer em relativismo exagerado, essa situação de proximidade pode potencializar processos de aprendizagem, entendidos como vivências baseadas na interação, na comunicação social e na reflexão compartilhada sobre o objeto de estudo e, principalmente, com aqueles que se dispõem a conhecê-lo. É a partir desse contexto que se deseja refletir sobre a concepção de Educação a Distância (EAD) vigente.

O que geralmente se verifica é o engessamento da EAD à dinâmica linear, vertical e hierárquica da educação tradicional, baseada na ideia de que o professor deve “ensinar” e os alunos devem “aprender”, culminando em um processo de massificação do conhecimento e de reforço da postura de passividade e de recepção. Mas de que distância se está falando, quando vivemos um momento em que o tempo real anula a noção de espaço? E, se o processo educacional pressupõe um permanente movimento comunicacional e interativo, como pode acontecer em uma educação que prima pela “autonomia”?

A ideia de “distância” imposta é incoerente, e conceitualmente equivocada, principalmente ao se tratar de processos educacionais. Talvez uma das alternativas seja analisá-la sob o prisma do conceito de inclusão digital, entendido como um processo horizontal que deve acontecer a partir do interior dos grupos, que possibilite a interação, a construção de identidade, a ampliação da cultura e a valorização da diversidade, para, a partir da criação de conteúdos próprios, possibilitar a quebra do ciclo de produção, consumo e dependência tecnocultural.

Dessa forma, a pauta das discussões deve se desenrolar sobre a emergência de uma aprendizagem rizomática potencializada pelas tecnologias e resignificada pela ampliação político-social dos processos de inclusão digital. Um processo que, mesmo rompendo com os limites físicos e geográficos da escola, o que é fantástico, não seja baseado na distância, mas sim na presença efetiva de múltiplos parceiros de aprendizagem e na proximidade proporcionada pela mediação tecnológica. Para isso, é preciso apropriar-se das características das redes que potencializam a interação, a comunicação multidirecional e a dinamicidade para o estabelecimento de processos de aprendizagem plenos.

É fundamental que se assuma a ideia de que Distância não combina com Educação, cujo elemento fundamental é o convívio social no sentido mais amplo do termo, mas que lutemos e procuremos a apropriação dessas tecnologias como ambientes propícios e fundamentais à realização de processos interativos e cooperativos de aprendizagem. Viva a tecnologia, mas… abaixo a distância. Vamos continuar este papo em http://nossacibervida.blogspot.com?

Adriano Canabarro Teixeira é pós-doutor em Educação e professor pesquisador da Universidade de Passo Fundo, do curso de Ciência da Computação e do mestrado em Educação.

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