Opinião – Qualidade da educação


Milú Villela*

Os resultados do último exame do Prova Brasil, realizado pelo MEC, na
rede pública de ensino, indicam que um aluno brasileiro de 8ª série
sabe o mesmo que um de 4ª série de outros países. Diante de fatos
graves como esse, que infelizmente não produziram a indignação
necessária, resta a conclusão de que está mais do que na hora de
transformar a educação básica de qualidade em política pública número
um no país. Ou o Brasil melhora as condições de acesso, permanência e
sucesso dos seus 55 milhões de alunos, ou comprometerá o futuro das
novas gerações e — é claro — também o seu próprio desenvolvimento
social e econômico.

É certo que, na última década, promoveu-se uma evolução importante do
acesso à escola de crianças e jovens, a ponto de se ter, hoje, 95%
deles matriculados nas cerca de 180 mil escolas públicas. Mas é
inegável que ainda se convive, no Brasil, com números educacionais
desconfortáveis: 809 mil crianças de sete a 14 anos, e quase 2 milhões
de jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola. A escolaridade média
dos brasileiros (4,9 anos) permanece muito baixa, e as taxas de
repetência e abandono seguem altas. O atual desafio é o da qualidade.
Vive-se uma crise de qualidade na educação brasileira, cuja gravidade,
estranhamente, não foi percebida pela população.

Em novembro, o Todos Pela Educação e o Ibope divulgaram uma pesquisa,
segundo a qual a educação aparece apenas na sétima posição entre as
preocupações do brasileiro, atrás de saúde, empregos, fome e miséria,
corrupção, segurança pública e drogas. O mesmo estudo mostra que os
pais participam pouco da educação dos filhos. E que não têm interesse
por saber como são aplicados os orçamentos públicos. O nível de
consciência sobre a prioridade que deve ser dada à educação e sobre a
importância de participar e cobrar mais cresce entre as pessoas mais
escolarizadas.

Melhorar o nível de exigência dos pais em relação à educação básica é
um dos objetivos do Compromisso Todos Pela Educação. Esse movimento
nasceu a partir da reunião de importantes lideranças da sociedade
civil, empresas, MEC, Consed (Conselho Nacional de Secretários de
Educação) e Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação) em torno da idéia de assegurar educação básica de qualidade
para todas as crianças e jovens.

O desafio a que se propõe o Todos Pela Educação é urgente: mobilizar
diferentes públicos para que eles valorizem a educação, saibam 
avaliar a sua qualidade e cobrá-la nas escolas de suas comunidades.
Como orientação desse grande esforço nacional, foram estabelecidas
cinco metas para 2022: 1) todo brasileiro de quatro a 17 anos deve
estar na escola; 2) todo brasileiro até oito anos deve saber ler e
escrever; 3) toda criança e jovem deve aprender o que é necessário em
cada ciclo; 4) todo jovem deve completar o ensino fundamental até os 16
anos e o ensino médio, até os 19 anos; 5) o investimento público deve
chegar a 5% do PIB até 2011 e se manter nesse patamar até 2022.

O cumprimento efetivo dessas metas, que não são apenas do Todos Pela
Educação, mas de um país que se quer, de fato, justo, desenvolvido e
respeitado, é a única garantia de poder comemorar, numa situação
melhor, o bicentenário da independência. Você, leitor d’ARede, sinta-se
convocado a participar conosco dessa travessia.


* Integra o comitê executivo do Compromisso Todos Pela Educação — www.todospelaeducacao.org.br