A maioria das pontes não são interativas. Com o projeto Co-link, vai
dar para alterar, deletar e criar novos links dentro de um mesmo link.
Sérgio Amadeu da Silveira
Web 2.0 … the machine is us/ing Us já ultrapassou as
2.058,14 mil visualizações no Youtube. O sucesso estrondoso do vídeo
pode ser explicado pela simplicidade e clareza com que descreve a
evolução do hipertexto, até o momento em que começamos a construir
colaborativamente uma web semântica. Como assim? A web está caminhando para ter seus conteúdos separados dos formatos. Os conteúdos podem receber tags,
ou seja, marcadores que identifiquem com palavras-chave o que as
páginas são. Isso permitirá às máquinas encontrá-los e organizá-los
como se estivessem interpretando o seu significado. Por exemplo, uma
página sobre a palavra “céu” será identificada na pesquisa do seu
buscador. Mas, você estava interessado em saber por que o céu é azul.
Você procurava explicações científicas, porém as primeiras páginas de
sua busca são aquelas que explicam a idéia de céu e de inferno. Muitas
outras são sobre poesia. Outras falavam do CEU, centro de ensino
unificado. Isso acontece porque as palavras e os conteúdos portam
diversos significados. A web poderá evoluir muito se as máquinas conseguirem avançar na classificação do significado de suas páginas.
Este processo colaborativo de construção dos significados dos conteúdos na web
está avançando rapidamente. Ele está sendo beneficiado pela enorme onda
colaborativa que está envolvendo a internet. Wikipedia, BitTorrent,
Flickr, Youtube, Syndication, Blogosfera, todas essas práticas
colaborativas foram apelidadas por Tim O’Reilly de web 2.0. Para ele, entramos em uma fase da web
em que o compartilhamento e a colaboração são a sua principal
característica. Veja o que ocorre, por exemplo, com o processo de
arquivamento de sites preferidos. Praticamente todo navegador
possui em sua barra de ferramentas o item “favoritos”. As pessoas que
gostam ou freqüentam muito um determinado site podem armazenar o seu
endereço no navegador. Atualmente, é possível fazer isso na própria web e de modo coletivo e colaborativo. Como? O del.icio.us
é uma ferramenta de arquivamento e catalogação de seus sites
preferidos. Assim, você poderá acessá-los de qualquer computador, e
compartilhar a sua catalogação com outros usuários.
O potencial de interatividade da internet ainda está sendo descoberto.
A interatividade está servindo cada vez mais aos processos
colaborativos. Assim, chegamos aos links da rede. Até agora, os links
são determinados por quem construiu a página e, em geral, são
unidirecionais, ou seja, apontam para um único endereço. Não há
possibilidade de inserir um outro endereço para um determinado link, mesmo quando você sabe que a sua opção é melhor do que a do autor daquela página. A maioria dos links são estáticos e não interativos.
A palavra link é inglesa, mas sua origem é escandinava, hlekkr, e significa elo, argola ou enlace. Na internet, links são as pontes que nos transportam pelos territórios do ciberespaço. O hipertexto, a base da web, só pode existir porque existem os links. O processo de “linkagem” é uma das principais atividades da internet. As hiperligações são os fios da teia, da web.
Vannevar Bush, engenheiro e cientista norte-americano, é considerado o
pioneiro do hipertexto. Em 1945, escreveu um artigo
revolucionário chamado “As We May Think ?” (Como nós podemos pensar?).
Nele, Bush argumentou que o modo linear com o qual classificamos as
informações não é o modo como pensamos. Nós pensamos por associação.
Bush propunha uma máquina eletrônica denominada Memex (Memory
Extension, extensão de memória) que permitiria armazenar conhecimentos
e apoiar a memória humana. Ela funcionaria fazendo associações e pontes
entre as informações armazenadas. Sua proposta visionária para a época
influenciou as gerações seguintes. Foi principalmente da concepção de
Vannevar Bush que Ted Nelson criou, em 1965, o termo hipertexto.
Para explorar as enormes possibilidades dos links surgiu o projeto
Co-link, concebido pelo pesquisador Alex Primo e programado por Ricardo
Araújo com o objetivo de superar a “linkagem” estática e unidirecional.
O Co-link foi desenvolvido para que os internautas possam alterar,
deletar e criar novos links e até incluir outras opções de destino
dentro de um mesmo link. O projeto trabalha com a concepção de
construção colaborativa, por isso a ferramenta assemelha-se muito à
tecnologia wiki. Uma das aplicações do Co-link é a construção do
Dicionário Social que começou a ser implementado na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Trata-se de um protótipo do Laboratório
de Interação Mediada por Computador da UFRGS para escrever de modo
colaborativo verbetes sobre conceitos científicos de Comunicação Social
e Ciência da Informação. Veja
<http://www6.ufrgs.br/co-link/dicionariosocial/view_text.php?wikipage=//principal>.
O projeto Co-link foi “wikizado” em março de 2005. Os programadores
Rafael Port da Rocha e Lourenço Basso tornaram o software mais
padronizado com o wiki, ganhando uma linguagem de marcação semelhante e
uma barra de ferramentas, permitindo a criação de novas páginas e a
edição das páginas existentes, inserindo um histórico dos links que,
tal como na wikipedia, é uma garantia contra vandalismos. Assim, cresce
o potencial de uso e aplicação do Co-link. A escrita colaborativa pode
ser empregada no ensino, na pesquisa científica, em trabalhos de
literatura colaborativa, em blogs e em sites que pretendem uma maior
interação com os internautas.
O vídeo “web 2.0 … the machine is us/ing Us” está no link:
www.youtube.com/watch?v=6gmP4nk0EOE
Para quem quer estudar mais profundamente o tema, existe um artigo, em
inglês, sobre o projeto Co-link, escrito por Alex Primo e Raquel
Recuero. O artigo Participatory creation of multidirectional links aided by the use of Co-link technology está disponível no endereço www6.ufrgs.br/co-link/publications/primorecuero.pdf