Pontos de brincadeiras

Encontro fortalece iniciativas DE desenvolvimento da cultura para as crianças    

Carlos Minuano

ARede nº51,setembro 2009 – O direito de brincar e o fortalecimento de iniciativas culturais voltadas à infância e à adolescência, por meio de atividades lúdicas, foram temas centrais do 1º Encontro Nacional dos Pontinhos de Cultura/Espaço de Brincar, promovido pelo Ministério da Cultura (MinC), entre 13 e 15 de agosto, em Brasília. Organizado por meio das Secretarias de Articulação Institucional (SAI), de Cidadania Cultural (SCC) e da Identidade e da Diversidade (SID), o evento foi resultado do programa Ludicidade/Pontinhos de Cultura, lançado em 2008, pelo MinC. Por edital, foram selecionadas, em todo o país, 215 entidades sem fins lucrativos que desenvolvem atividades sócioculturais e educacionais com crianças e adolescentes. Cada projeto recebeu R$ 18 mil, o que representou um investimento total de R$ 3,6 milhões.

O MinC anunciou que pretende apoiar 551 novos Pontinhos de Cultura, até o final deste ano. Porém, o diretor de Livro, Leitura e Literatura da SAI, Fabiano dos Santos Piuba, disse que a ampliação está condicionada a convênios que o ministério precisa articular. A expansão da rede será realizada dentro do programa Mais Cultura, por meio de editais públicos em parceria com estados e municípios. Os investimentos previstos são de R$ 9,91 milhões – dois terços com recursos do MinC e um terço dos estados. Segundo Piuba, Bahia, Ceará, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro já apresentaram propostas.

Na abertura do encontro, que aconteceu na Fundação Nacional de Artes (Funarte), foram entregues prêmios a cinco dos 215 Pontinhos de Cultura selecionados em 2008, um por região: Africanamente (Sul), Vila Viva (Norte), Meninos da Ceilândia (Centro-Oeste), Sons do Bem (Nordeste) e Bola de Meia (Sudeste). A arte e a cultura infantil também foram homenageadas nas apresentações da Orquestra Popular e do Corpo de Dança Menino, ambos de Ceilândia (DF). Depois, o encontro abriu espaço para seu objetivo maior: a discussão e a reflexão acerca da construção de uma política nacional de transmissão e preservação da Cultura da Infância. “Nosso objetivo é incentivar ações que fortaleçam os direitos da criança”, defendeu o secretário de Cidadania Cultural, Célio Turino.

Américo Córdula, da SID, anuciou que a Funarte vai reforçar as políticas para as crianças brasileiras no próximo ano, especialmente com o teatro infantil. A cultura dos ‘pequenos’, diz ele, precisa ser trabalhada de forma transversal: “Encontros como este são momentos frutíferos, em que aproximamos quem constrói as políticas com quem desenvolve as experiências”.

Nesta primeira edição, o encontro teve uma programação dirigida à formação dos profissionais das instituições selecionadas. Os debates foram divididos em três eixos temáticos: memória e patrimônio, comunicação e fomento. Outro objetivo do encontro foi apoiar a atuação integrada dos Pontinhos por meio de uma rede que dará continuidade às discussões. “Vamos mapear as iniciativas existentes no território nacional que atuam com cultura e infância, consolidá-las como rede voltada à construção de políticas públicas, assim como registrar a documentação referente às ações de ludicidade”, garantiu Adriana Freiberg, responsável pelo projeto na SCC.

Boas ideias
Estimular o protagonismo juvenil da comunidade, promover a cidadania e o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social. Tudo por meio da reconstrução positiva da identidade afrodescendente. É o que busca, desde 2003, o pontinho de cultura Africanamente, que atua com os moradores da Vila São José e arredores, em Porto Alegre (RS). Em suas atividades, o projeto busca construir um modelo alternativo de educação, fundamentado nos conhecimentos originários das culturas de matriz africana.

No caso da Associação Meninos da Ceilândia, em Ceilândia (DF), o lema é romper com o ostracismo e promover mudanças sociais. No lugar de armas, bolas de basquete. Localizado em umas das regiões mais violentas do Distrito Federal, além de esporte e música, a entidade oferece aulas de confecção de bonecos, literatura de cordel, danças populares, inclusão digital, corte e costura e serigrafia.

Cantigas, lendas, cantos e trava-línguas animam as crianças do pontinho Sons do Bem. A iniciativa é resultado de uma investigação extensa e meticulosa da pesquisadora Nair Spinelli sobre o folclore infantil em vários estados brasileiros – trabalho desenvolvido há 37 anos. Para Spinelli, a cultura é uma estratégia de mobilidade social. “Queremos sensibilizar as crianças e capacitar os professores por meio do folclore como instrumento didático”. O projeto atende 300 crianças e trabalha com vários elementos da cultura infantil. Entre as ações, uma orquestra composta por 200 crianças, que tocam peças de Villa-Lobos.

A Companhia Cultural Bola de Meia, de São Paulo, também destaca o papel social da cultura na formação dos jovens. “A cultura, socialmente, pode ter uma ação ‘preventiva’, como tirar as crianças da rua”, observa Jacqueline Baumgratz, coordenadora pedagógica do projeto. Ela ressalta as expectativas em relação ao encontro em Brasília: “Queremos que dele saiam ações afirmativas como criação de parques com brinquedos para portadores de necessidades especiais e monitores capacitados”.