É só perguntar
Em 2009, a pesquisa sobre a utilização do programa de inclusão digital do estado de São Paulo ouviu mais de 10 mil internautas – e está tudo online. PATRÍCIA CORNILS
ARede nº53 novembro de 2009 – O Brasil tem um único levantamento sistemático dos resultados de um programa de inclusão digital: o Ponline. Trata-se da pesquisa online realizada pelo estado desde 2003 com os usuários dos serviços estaduais, inclusive infocentros e postos públicos de acesso à internet. O objetivo da pesquisa anual é conhecer os usos do programa e avaliar seus rumos. A um custo de R$ 100 mil por ano, a Ponline produziu, ao longo de seis anos, informações sistematizadas e conhecimento a respeito de como evoluiu um dos maiores projetos de inclusão digital do país e seus atores sociais. Também criou um bem comum, ao postar este conhecimento na internet, para ser usado por gestores de políticas públicas, estudiosos, jornalistas e quem mais se interessar pelo tema. Os resultados da pesquisa são publicados no portal do Acessa SP, o programa de inclusão digital do estado, e podem ser analisados em séries históricas ou por recortes variados como idade, grau de instrução, tipo de uso e acesso a serviços de e-gov. Desde 2006, podem também ser comparados com os resultados de outras pesquisas como a realizada anualmente pelo Comitê Gestor da Internet Brasileira, o CGI.br.
A Ponline foi concebida como uma ferramenta de avaliação e gestão do Acessa SP, mas ao longo do tempo provou-se bem mais que isso. É um instrumento de mobilização do programa e uma janela privilegiada para observar tendências na internet brasileira. Para ficar somente em três exemplos: as respostas a milhares de questionários, aplicados nos postos em uma semana típica de funcionamento mostraram a ascensão do uso das redes sociais, principalmente do Orkut, entre 2005 e 2006, no Brasil; a contribuição das lan houses para a disseminação do uso da rede e o fato de que os jovens não usam e-mails – e sim recados no Orkut e ferramentas de mensagens instantâneas, como o MSN – para se comunicar.
Em 2003, 49% dos 2.305 participantes da pesquisa dependiam do Acessa SP para acessar a internet, 50% não acessavam a rede em outros locais e somente 5% usavam lan houses ou cibercafés. Em 2008, 71% dos 8.268 participantes da pesquisa acessavam a internet em outro lugar além dos postos e 57% frequentavam lan houses. Quem está online, está no Orkut: 86% dos usuários têm perfil na rede social e 64% se consideram indivíduos atuantes no Orkut. Os recados, ou scraps, do Orkut aparecem à frente dos e-mails, celulares, telefones fixos Skype e cartas como a forma mais frequente de comunicação entre os jovens de 11 a 24 anos. Enquanto 79% deles usam esses recados, 71% possuem um telefone celular e mais de 60% dos usuários com até 30 anos usam os torpedos na rua, a caminho da escola, no trabalho, no médico.
A metodologia de aplicação da pesquisa é a mesma desde que foi criada. Os questionários são respondidos por um em cada dez usuários dos infocentros e postos públicos de acesso à internet (Poupatempo, terminais em estações de metrô e ferroviárias). São aplicados pelos monitores do Acessa SP, que recebem treinamentos à distância e presenciais para atuar como agentes de pesquisa e também para que compreendam a finalidade da Ponline. No período de aplicação da pesquisa, há um plantão permanente de resolução de dúvidas, por telefone, fóruns, listas de discussão, pelo portal da Ponline. Os plantonistas também analisam o fluxo de informação – os questionários são respondidos online – e mobilizam os monitores nos postos que não estiverem participando. Em 2009, o número de questionários aplicados foi recorde: 10.065 participantes.
O processo de realização da pesquisa é, em si, um momento de mobilização dos postos. Todos os anos, na formação da rede para a capacitação e para a aplicação dos questionários, o mapa da atuação dos infocentros se refaz, deixando claro onde há mais atividades e usuários, onde os monitores são mais atuantes. Os resultados criam, também, meios para que um posto compare sua atividade e a avaliação dos usuários com outras 511 unidades do Acessa SP. “Tudo isso constrói uma cultura de pesquisa e avaliação permanente no programa”, constata Drica Guzzi, coordenadora da Escola do Futuro, da USP, que realiza a Ponline para o Acessa SP.
Este ano, a novidade foi a aplicação de questionários em postos do Acessa Escola, programa de abertura dos laboratórios de informática da rede pública estadual para a comunidade escolar, com o auxílio de monitores. Em caráter piloto, os questionários foram aplicados nas escolas da capital e respondidos por 1,6 mil usuários. Os resultados serão valiosos para entender o uso das TICs no ambiente escolar.
Os resultados da Ponline direcionaram a atuação do programa de várias maneiras. Entre 2006 e 2008, por exemplo, cresceu de 27% para 32% o porcentual de usuários com mais de 25 anos. Essas pessoas demandam um atendimento personalizado e procuram os infocentros para trabalhar. Os monitores estão sendo capacitados para atendê-las. Outro dado emergente em 2008, e que provavelmente será confirmado em 2009, é a demanda pela renovação dos equipamentos dos postos e por outros acessórios que atendam suas necessidades (câmeras, scanners etc.).
Nesta 6ª edição, os dados da Ponline mostram pela primeira vez a emergência de “diferentes perfis” de usuários, consolidados ao longo dos anos entre os frequentadores dos postos de atendimento. O frequentador típico do Acessa SP é jovem, entre 11 a 24 anos (69%), renda familiar de até dois salários mínimos (69%) e do sexo masculino (62%). Mais da metade vai ao Posto no mínimo três vezes por semana. Para os participantes da pesquisa, a relação governo-cidadão vai além da oferta de serviços públicos via internet. É também uma forma de aproximação entre a administração pública e o indivíduo. Os mais jovens acreditam que a comunicação com o governo poderia se dar também via redes sociais. Além disso, a Ponline constata que 4,1% dos usuários dos postos possui algum tipo de deficiência. Dos frequentadores do Acessa SP, 64% gostariam de se envolver em projetos nas suas comunidades utilizando tecnologias da informação.