Formando cidadãos em espaços públicos
De dois a 33 telecentros em três anos: Maracanaú constroi sua cidadania digital VERA FRANCO
ARede nº53 novembro de 2009 – O Brasil tinha, em 2006, um índice médio de exclusão digital de 54%. Mas o município de Maracanaú, a 20 quilometros da região metropolitana de Fortaleza, no Ceará, constatou, na época, o alarmante índice de 78% – ainda mais alarmante pelo fato de que 64% de seus 201 mil habitantes tinham menos de 29 anos. O Instituto para o Desenvolvimento Tecnológico e Social (Idear), em parceria com a Prefeitura de Maracanaú, tomou uma providência imediata: criou o programa Se Liga, que entrou em operação em novembro de 2006 com apenas dois telecentros comunitários.
Hoje, Maracanaú tem 33 telecentros, deve chegar a 58 em dezembro e a 88 no ano que vem, todos implantados prioritariamente nas escolas municipais e em outros equipamentos sociais de bairros carentes. “Um dos nossos pontos fortes é a metodologia de animação e operação dos telecentros”, explica Cláudio Joventino, diretor executivo do Instituto Idear e responsável pelo projeto. “É muito comum que os espaços públicos de inclusão digital sejam mal ou pouco utilizados, sem qualquer gerenciamento. Mas a nossa metodologia permite um melhor acompanhamento das atividades e a detecção precoce de problemas de utilização inadequada e/ou baixa.”
As atividades de formação e capacitação são compostas por oficinas específicas e por cursos online ou presenciais gratuitos nas áreas de inclusão digital, habilidades básicas para o trabalho e empreendedorismo. Até agosto de 2009, o Se Liga já tinha atendido 26 mil pessoas em oficinas e cursos diversos, tinha 16.500 alunos matriculados em cursos online e treinara 200 monitores e instrutores para atender e orientar os usuários dos telecentros. “Outro ponto forte do projeto”, acrescenta Joventino, “é a coesão da equipe de supervisores, agentes de inclusão digital (instrutores) e monitores.” Só na área de qualificação para o empreendedorismo, o projeto dispõe de 50 cursos online. Há, ainda, três telecentros temáticos: o do Empreendedor, o da Reserva Indígena e o da Cadeia Pública. “Além disso, estamos em processo de implantação do Telecentro do Trabalhador em Caucaia, um município vizinho, também na região metropolitana de Fortaleza”, anuncia Joventino.
O Se Liga oferece 11 oficinas, da iniciação a informática à edição de fotografia. Aos poucos, novas ferramentas e estratégias foram incorporadas ao programa, que passou a oferecer cursos de educação a distância, formação e certificação profissional e atividades de informática educativa. Em 2008, por exemplo, foi iniciada uma parceria com a seção cearense do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com foco na capacitação para o empreendedorismo.
Lojas e lanchonetes
De um lado, oferece cursos presenciais de empreendedorismo (Aprender a Empreender, por exemplo, para o qual já foram certificados 15 facilitadores) e de associativismo (Juntos Somos Fortes); e, de outro, distribui aos telecentros kits educativos sobre empreendedorismo, associativismo e vendas. Desde o início da parceria, mais de 600 pessoas já foram capacitadas nos cursos presenciais e já há vários casos de ex-alunos que abriram seus próprios negócios – “de lojas de bijuteria a lanchonetes”, segundo Joventino.
Quatro outros conjuntos de cursos oferecidos, todos online, são: Empreendedorismo (plano de negócio, planejamento financeiro e habilidades para o empreendedor), Trabalho (marketing pessoal, elaboração de currículo, atendimento ao cliente e relações humanas), Educação (idiomas, língua portuguesa e matemática), Inclusão Digital (informática básica, Linux, ferramentas de escritório e internet). Nos próximos dois anos, com o apoio do Instituto HSBC, o Se Liga vai criar o seu Centro de Capacitação e Certificação Profissional, através dos “itinerários formativos”, que propiciam profissionalização em funções específicas, como administrador de redes, manutenção e montagem de computadores ou designer gráfico. Quem completar as 180 horas de um destes itinerários formativos poderá estagiar em uma das empresas parceiras da Prefeitura de Maracanaú.
Cerca de 90% dos usuários dos telecentros têm menos de 29 anos. Todos eles são das classes C e D – o que é compreensível, já que 70% da população da cidade é de baixa renda. Em 2008, foram habilitados 1.020 jovens em cursos voltados para o desenvolvimento profissional e 434 jovens e adultos em cursos que apóiam e incentivam o empreendedorismo local. Nessa área, o Se Liga já beneficiou cem artesãos maracanauenses, viabilizando a comercialização de mais de R$ 50 mil em produtos.
Os telecentros operam em plataforma livre, com o sistema operacional Linux Ubuntu e a suite para escritório BrOffice. Na padronização do material didático, o ambiente Moodle foi adotado como ferramenta para administração dos conteúdos. Cada telecentro tem o seu blog, mantido pelos próprios usuários locais no ambiente BlogSpot. Nas atividades educativas com crianças, as ferramentas mais utilizadas têm sido o TuxPains e o Gcompris, com o apoio de diversos vídeos e jogos educativos.
A manutenção da estrutura física é feita em parceria com a prefeitura da cidade, principal mantenedora do Se Liga, que também conta com o apoio de vários outros parceiros. Para a implantação dos 33 telecentros foram investidos cerca de R$ 1 milhão nos últimos três anos, sendo R$ 250 mil provenientes do Ministério das Comunicações. Nesse total estão incluídas também as doações de equipamentos recondicionados do Banco do Brasil e do Ministério do Planejamento, por meio do programa Computadores para Inclusão, que responde por um terço das máquinas utilizadas.
Cerca de 90% dos custos do programa são cobertos pela Prefeitura de Maracanaú e 10% vêm da parceria com o Instituto HSBC.