Prêmio ARede 2010 – Especial Educação | Onda Digital

Universitários e professores, juntos,
pela inclusão.

Projeto aglutina diversas iniciativas, envolvendo alunos e professores de vários cursos de graduação e pós-graduação. Inaldo Cristoni


ARede nº64 novembro de 2010 –
O envolvimento direto da universidade nas demandas da população, principalmente em áreas carentes, é uma realidade na Bahia. O programa Onda Digital, que integra pesquisa, extensão universitária e ensino, une estudantes, professores e funcionários da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em torno do objetivo de promover ações educativas, sociais e culturais. A proposta é utilizar a inclusão digital como arma de combate às desigualdades e à exclusão social.

O programa, que ganhou o prêmio ARede2010 na categoria Especial Educação, estimula ainda aplicação das tecnologias de informação e comunicação (TICs) nos ambientes escolares como instrumento de transformação no processo de ensino e de aprendizagem nos bairros periféricos de Salvador, e do Recôncavo Baiano, na zona rural.

O Onda Digital chama a atenção por ter atraído uma equipe de colaboradores multidisciplinar. “Participam do programa alunos de Pedagogia, Comunicação Social, Secretariado, Administração e, claro, grande parte da Ciências da Computação”, revela a professora Débora Addalla Dora Leal Rosa, coordenadora do programa. A ênfase na turma que frequenta as aulas de computação se explica pelo fato de o programa ter nascido justamente nas fileiras do Departamento de Ciência da Computação da UFBA e também porque recebe o apoio do Centro de Processamento de Dados.

Criado em 2004, o Onda Digital aglutina quatro projetos voltados à inclusão sociodigital: Onda Solidária, Educandal, Talentos-Comp e Inclusão Pré-Digital. Em todos há o envolvimento direto de bolsistas, estudantes de graduação e pós-graduação e professores. No total, as várias iniciativas colocadas em prática como parte do programa receberam aporte de R$ 350 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e de outras fontes de financiamento. O Educantal, por exemplo, recebe em média R$ 110 mil por ano da empresa Dow Brasil para atividades que visam o uso de TICs junto aos alunos das escolas públicas do município de Candeia, beneficiando cerca de 170 pessoas. O projeto Talentos-Comp arregimenta R$ 38 mil. Outros parceiros são o Ministério da Educação, a Associação Cultural Carnavalesca Bloco Ilê Aiyê e Projeto Metarede (de capacitação de jovens).

A professora Débora explica que uma das premissas o Onda Digital é o uso do software livre. Os projetos oferecem cursos de informática básica e de manutenção de equipamentos. Sempre presente, os temas da coleta seletiva, reciclagem e reaproveitamento do lixo tecnológico. Em área próxima ao restaurante da UFBA, foram instalados 16 terminais “burros”, para uso dos frequentadores. Recuperados por jovens do projeto Onda Solidária, os equipamentos foram trazidos do Centro Digital do Pirajá, que ficou conhecido como Tabuleiro Digital. Esse programa teve início em 2006.
O Onda Digital desenvolve ações nas dependências da UFBA e nos espaços comunitários das organizações conveniadas. O programa define dois tipos de metas: quantificada e de alcance social. Esta última consiste em transformar os jovens capacitados em agentes multiplicadores nas suas respectivas comunidades. Além disso, tem como foco o aproveitamento das TICs como alavanca para ascensão social.

A meta quantificada também é ambiciosa: capacitar no mínimo 180 pessoas em cultura digital, coletar cerca de 100 computadores, restaurar e doar um terço deles, formalizar ao menos uma parceria com organizações que lidam com descarte responsável de lixo tecnológico. O perfil do público contemplado com as ações do Onda Digital é composto na grande maioria (90%) por jovens na faixa etária de 14 aos 22 anos. Os 10% restantes são formados por lideranças comunitárias de baixa renda, a partir dos 30 anos.

Os desafios para atingir tais metas são muitos. Um deles é a escassez de verba para bancar os bolsistas. “Recursos para equipamentos nós conseguimos com facilidade. Mas há uma limitação do porcentual dos financiamentos para aplicação em pessoas”, reclama a professora Débora, acrescentando que boa parte dos aportes feitos para os projetos já está terminando.

Além do dilema em como conseguir recursos financeiros para manter as pessoas, a professora Débora cita a necessidade de se criar um mecanismo capaz de repor rapidamente as pessoas que deixam o programa. Essa limitação compromete até mesmo a atividade profissional dos que atuam nos projetos. Débora, por exemplo, divide o seu tempo entre o Onda Digital e suas muitas atribuições na UFBA, onde coordena o curso de graduação de Ciência da Computação, é orientadora de pesquisa em nível de graduação e mantém uma carga horária mínima de oito horas em sala de aula. Com tantas tarefas, ela está desde 2004 afastada da pós-graduação.

Como se não bastasse, o espaço físico que a UFBA oferece para o Onda Digital é muito pequeno. “No final do ano passado, ganhamos uma sala de 14 metros quadrados, próxima ao restaurante da universidade, para fazer a manutenção dos computadores”, revela Débora. O Prêmio ARede, avalia a professora, não apenas sinaliza o reconhecimento que as ações estão no rumo certo, como também deixa a mensagem de que “vale muito a pena seguir adiante, mesmo com tantos sacrifícios”.
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