Prêmio ARede 2010 – Setor Privado | Capacitação e formação | Oi Kabum!


Arte, tecnologia e um futuro melhor

No oi kabum! Os jovens ganham mais que uma profissão. Aprendem a reescrever a história de suas vidas. Jane Soares

ARede nº64 novembro de 2010 – Emanuel de Jesus chegou ao projeto Oi Ka¬bum! aos 20 anos, sem profissão e sem nenhu¬ma perspectiva na vida. Morador de Vila Ken¬nedy, bairro de classe média baixa do Rio de Janeiro, fez parte da primeira turma do projeto, em 2003. Atrasado na escola por absoluta falta de interesse nos estudos, gostava de desenhar, fazer poesia. Entre os cursos da capacitação oferecidos, optou pelo de vídeo. “Na época, mi¬nha mãe nem sabia o que era um áudiovisual”, conta, rindo. Descobriu que aprender era “in¬teressantíssimo”, qual o significado da palavra solidariedade e que professores e diretores da escola podiam ser grandes parceiros. Quando terminou o curso, juntou-se a “uma ga¬lera que queria muito fazer coisas”.

Essa turma criou o Estética Central, um festival que ofere¬ce gratuitamente toda a infraestrutura, além da ajuda de monitores, para quem quiser produzir vídeos com celulares. O tema é a Central do Brasil. O programa conseguiu vários patrocina¬dores e está em sua segunda edição. Hoje, aos 27 anos, o rapaz desenvolve também trabalhos para vários clientes e está montando sua pro¬dutora de vídeo com três sócios. E reconhece a diferença que o projeto representou em sua vida. “No Oi Kabum! os professores incentivam a pessoa a descobrir seu próprio caminho e, principalmente, a desenvolver e acreditar em seu potencial.”

O exemplo de Emanuel de Jesus vai ao en¬contro da proposta do Oi Kabum de formar cidadãos conscientes e capazes de enfrentar um mercado profissional especializado e com¬petitivo por meio do uso educativo da arte, da comunicação e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). E que, além disso, se¬jam capazes de replicar o que aprenderam e contribuir para transformar a comunidade onde vivem. “Nossos alunos vêm de uma realidade difícil e quando têm oportunidade de fazer o que gostam, de expressar seu talento, se aper¬feiçoam também em outras áreas. Eles passam a entender como o conhecimento é importante para suas vidas”, comenta Samara Werner, di¬retora de educação do Oi Futuro, responsável pela criação e desenvolvimento do projeto Oi Kabum! que ganhou o Prêmio ARede, na cate¬goria Capacitação e Formação, modalidade Se¬tor Privado. “A premiação foi superimportante para nós, especialmente por vir de uma revista especializada em mostrar as novas tecnologias. Esperamos que esse prêmio inspire novos pro¬jetos, que possam formar uma grande onda para melhorar a realidade de nosso país.”

O Oi Kabum! começou a nascer com a criação Oi Futuro, em 2001 – na época, chamado de Instituto Telemar –, que pretendia atuar em pro¬jetos inovadores. Assim surgiu o Telemar Edu¬cação, direcionado ao ensino convencional de crianças em várias regiões do Brasil. Daí veio a ideia de um programa a ser desenvolvido fora da escola, direcionado para jovens entre 16 e 21 anos, moradores de bairros com baixo Índi¬ce de Desenvolvimento Humano (IDH) das ca¬pitais e estudantes de escolas públicas, a partir da então 7ª série do ensino fundamental. Em 2003, foi criada no Rio de Janeiro a primeira Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia, oferecen¬do capacitação em Design Gráfico, Fotografia, Computação Gráfica, Vídeo e Web Design. Os cursos têm a duração de dezoito meses, com aulas de quatro horas por dia.

Em cada unidade existem Núcleos de Produ¬ção, nos quais os alunos já formados ficam por mais um ano prestando serviços para clientes externos e formando seus portfólios, até adqui¬rir mais experiência para competir no mercado de trabalho. Como aconteceu com Emanuel de Jesus, ao terminar o aprendizado esses jovens são bem diferentes daqueles que chegaram ao projeto. “Eles voltam para suas comunidades, para suas famílias, com um novo olhar sobre a realidade. Têm condições de discutir formas de modificá-la, de trabalhar a questão da cida¬dania. E certamente vão inspirar outros jovens a procurar e agarrar oportunidades como as oferecidas por nosso projeto”, explica Samara.

PARCERIAS
Nas quatro Oi Kabum! existentes, os traba¬lhos da Oi Futuro são desenvolvidos em par¬ceria com organizações não-governamentais (ONGs). No Rio de Janeiro (RJ), com o Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip). No Re¬cife (PE), com a Auçuba Comunicação e Edu¬cação. Em Salvador (BA), com a Cipó Comu¬nicação Interativa e em Belo Horizonte (MG), com a Associação Imagem Comunitária (AIC). O projeto recebe também apoio de alguns ór¬gãos públicos como a Secretaria de Cultura da Bahia, a prefeitura do Recife, a Secretaria de Educação de Pernambuco e o governo do Esta¬do de Minas. Atualmente, a cada 18 meses as escolas de Salvador e Recife atendem a 80 jo¬vens cada uma. Rio de Janeiro e Belo Horizon¬te têm cem alunos cada. Todos os custos são pagos com recursos próprios do Oi Futuro. No ano passado, o orçamento da rede Oi Kabum! foi de R$ 7,5 milhões.

Ao final dos cursos, em média, 90% dos alunos saem formados na modalidade escolhida. Mas existem resultados impossíveis de mensurar: o aumento de autoestima, o crescente domínio da expressão escrita e falada e a revelação de talentos individuais e coletivos.

O professor Antonio Carlos Gomes da Costa, referência na área de Educação no Brasil e consultor respeitado para iniciativas do terceiro setor, foi um dos especialistas ouvidos na ela¬boração do projeto. E comentou: “A Oi Kabum! inaugura uma nova escrita na educação bra¬sileira. Em vez de uma escola rica para ricos, é uma escola rica para que os pobres possam expressar a riqueza que existe neles”.
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