Uma porta de entrada para a economia formal
Plataforma gratuita de comércio eletrônico Amplia chances de microempresários na web. Jane Soares
ARede nº64 novembro de 2010 – O desempenho do comércio eletrônico no Brasil é invejável. Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), em parceria com a e-bit, mostra que o setor faturou R$ 7,8 bilhões de janeiro a julho deste ano, um crescimento de 41,2% em relação a igual período de 2009 – em sete meses, o e-commerce ganhou 10% a mais do que o orçamento do Bolsa Família para este ano.
Participar desse mercado está – ou melhor, estava – fora do alcance de milhares de micros e pequenos empreendedores sem recursos tecnológicos, financeiros ou operacionais para construir sites e portais próprios para a venda de produtos e serviços. O panorama mudou em janeiro de 2009, quando a Ninui Informação na Internet e Comércio de Artigos de Artesanato Ltda colocou à disposição desse público uma plataforma gratuita de comércio eletrônico. Desde então, 1.480 empresários, de 240 municípios brasileiros, montaram e estão operando lojas virtuais na Ninui, onde são oferecidos cerca de 8 mil produtos.
A idéia surgiu quando os sócios da empresa participavam de uma edição do Campus Party, evento lançado na Espanha e que há três anos aportou no Brasil, reunindo em um mesmo espaço milhares de internautas, hackers, desenvolvedores de software e de games, e demais aficcionados. Na ocasião, o número de pessoas no Brasil com acesso à internet em casa ou no trabalho chamou a atenção dos empresários. Em agosto deste ano eram 51,8 milhões, 6,5% a mais do que em igual período de 2009, segundo o Ibope Nielsen Online. Desse total, 41,6% milhões são usuários ativos, 11% a mais do que no ano passado.
Também se impressionaram com o tamanho do mercado informal: são 65 milhões de brasileiros, responsáveis por 50% da geração de trabalho e renda do país. “Resolvemos criar uma plataforma para esse público, com o objetivo de gerar oportunidades reais de inclusão social e digital, trabalho e renda”, explica Karina Rehavia, diretora da Ninui. Ela e o sócio, Roberto Andrade, conseguiram um empréstimo de R$ 80 mil na Caixa Econômica Federal para bancar o projeto.
A plataforma de código aberto (open source) Ninui permite implementar soluções simples, rápidas e eficientes para a web. Foi desenvolvida em PHP5, utilizando um servidor Linux (distribuição RedHat) e banco de dados MySQL 5.X. Para sua última versão, foram implementados o frameworkopen source CodeIgniter e a metodologia MVC. A equipe de tecnologia da Ninui desenvolve, desde 2009, um sistema aberto de API (Application Programming Interface), permitindo aos lojistas utilizar sua plataforma para atualizar as lojas virtuais, acompanhar pedidos ou personalizar as vitrines onde expõem produtos e serviços nas redes sociais, como Orkut ou Twitter, ou blogs e websites próprios. A adesão é simples. Basta clicar em “quero vender”, preencher um cadastro resumido e concordar com os termos de uso da plataforma e com o contrato de gestão de pagamentos. Depois, é partir para a montagem de loja virtual.
Daniella Barros, moradora de Campos (RJ), embarcou no projeto desde o início. A ex-dentista abandonou a profissão para cuidar dos três filhos e resolveu se dedicar ao artesanato, criando peças de uso pessoal, como acessórios, necessaries, porta-moedas. Criou uma marca, a Borbolets, e uma identidade visual para sua empresa e passou a oferecer os artigos em sites e galerias virtuais até chegar à Ninui. Fez vários cursos de capacitação, está ampliando sua linha de produção, já recebeu pedidos de grandes empresas e pensa em abrir uma loja física. “A Ninui nos dá total liberdade de trabalho e oportunidade para crescer. É um trabalho lento, mas que vale a pena, inclusive financeiramente”, conta.
O reconhecimento não vem apenas dos micro e pequenos empreendedores. A Ninui fechou parcerias com empresas e instituições como o Instituto Gênesis, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), os grupos Buscapé e UOL, o Banco do Brasil e a Associação de Empresas de Alta Tecnologia (Altex). E colecionou prêmios. Entre eles, o Prime (Programa Primeira Empresa) da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), recebendo uma subvenção não-reembolsável de R$ 120 mil.
Agora, ganha o Prêmio ARede 2010, na categoria Inovação Tecnológica, modalidade Setor Privado. “Ficamos honrados com um prêmio com a credibilidade e seriedade d’ARede. É a validação de nosso trabalho e de nossos esforços”, diz Karina.
Do Brasil para o mundo
O trabalho continua a todo vapor. Em dezembro de 2009, a Ninui inaugurou uma loja-conceito em Paraty (RJ). A Casa Ninui oferece artigos de aproximadamente 150 empreendedores de todo o país, integrantes da loja virtual, e até julho de 2010 repassou R$ 25 mil aos artesãos, resultado da venda de seus produtos. Agora, a Casa Ninui começa a desenvolver programas de capacitação para micros e pequenos empresários, em parceria com o Instituto Gênesis. Um dos objetivos é incentivá-los a sair da informalidade. ”Também pretendemos criar um manual das melhores práticas para o comércio eletrônico, uma forma de replicar o conhecimento adquirido”, diz Karina.
Para manter a gratuidade dos serviços, a Ninui desenvolve dois projetos nas áreas de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável, financiados pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). A repercussão do trabalho ultrapassou fronteiras. A empresa foi convidada pela prefeitura de Maputo, capital de Moçambique, a implementar um núcleo para promover a integração digital e comercial entre os países de língua portuguesa. E já prepara a abertura de sua segunda loja conceito em Maputo, em 2011.
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