Monitores atentos à comunidade
Programa de formação mantém equipe permanente, forma milhares de monitores e debate inclusão na academia. Patrícia Cornils
ARede nº64 novembro de 2010 – Em 2004, a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia (Secti) fez uma parceria com o Centro de Tecnologia e Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), para o desenvolvimento de um programa de formação para gestores e monitores dos seis primeiros infocentros criados no estado. Na época, o programa de inclusão digital da Bahia estava em sua etapa piloto. E a Uneb, que já estudava a relação entre tecnologia e educação, e trabalhava com educação a distância, nunca havia atuado em inclusão digital. O Programa de Inclusão Sociodigital da Bahia (PISD) vai encerrar o ano de 2010 com mil Centros Digital de Cidadania (CDCs), distribuídos por todos os 417 municípios do estado.
A Uneb, com a experiência adquirida ao longo desses anos, ganhou o edital para assumir o Polo Nordeste da Rede de Formação do programa Telecentros.BR. Vai capacitar, em 18 meses, 4 mil monitores de 22 projetos. Além disso, a universidade incluiu o tema das políticas públicas para inclusão digital em um programa de pós-graduação. “Inclusão digital era vinculada a iniciativas de estado, não havia trabalhos de pesquisa sobre o tema na universidade”, constata Sônia Maria Pinto, coordenadora do Núcleo de Educação a distância da Uneb e da Capacitação Digital na Secti. Essa aproximação entre a política pública e a academia é, para ela, um dos bons resultados do programa de capacitação do PISD.
A manutenção de um projeto estruturado de formação, desde o primeiro telecentro, é o principal motivo pelo qual o Programa de Inclusão Sociodigital da Bahia ganhou o Prêmio ARede 2010 na modalidade Setor Público, categoria Capacitação e Formação. “O prêmio é importante porque mostra a boa repercussão de nossa experiência, mesmo fora do estado da Bahia”, comemora Sônia.
Quando desenvolveu a formação dos gestores e monitores dos infocentros baianos, a Uneb começou do zero. Promoveu dicussões internas sobre qual o conceito de inclusão digital adotaria, definiu o perfil dos monitores, o papel do infocentro, sua relação com a comunidade e o uso das tecnologias da informação e comunicação de forma qualificada, para contribuir com o desenvolvimento das comunidades. “Decidimos priorizar, na formação, a discussão do programa, de para quê serviriam os infocentros, e de como o monitor poderia trazer, para os espaços de inclusão, as iniciativas já tocadas pela comunidade”, recorda-se ela.
Esta é a linha seguida, até hoje, pelo programa de capacitação baiano. Os monitores, quando começam a trabalhar nos CDCs, não precisam ser especialistas em tecnologia, mas pessoas envolvidas com as iniciativas locais. E que devem sair da formação preparados para realizar projetos educativos e colaborativos de interesse da população. “Se o CDC é mantido por uma ONG que trabalha com artesanato, ou por uma cooperativa de vassouras feitas de PET, ou por um terreiro de candomblé onde há aula de música, a gente pede aos monitores que façam uma articulação com essas atividades e aproveitem a tecnologia para ampliar, potencializar o projeto existente”, diz Sônia.
Desde 2004, foram cadastradas 2107 oficinas desenvolvidas pelos monitores no sistema Vida, uma ferramenta online e colaborativa para planejamento de atividades do programa. O monitor escreve o projeto em sua linguagem, mas precisa seguir o modelo, a metodologia, a definição de objetivos e avaliação estabelecidos pelo programa. O curso básico, pelo qual passam os monitores antes de trabalhar nos CDCs, tem uma duração de 60 horas, sendo 40 horas presenciais e 20 horas a distância, com o uso da ferramenta Moodle.
Pelo curso de 60 horas, chamado Formação Básica de Inclusão Sociodigital, passaram, de 2004 até hoje, 1074 gestores dos telecentros do estado e 2083 monitores. Este ano, com um orçamento de cerca de R$ 870 mil, o programa de capacitação vai formar 3 mil monitores e gestores – sem contar os 2 mil bolsistas do Telecentros.BR que a Uneb, como Polo Nordeste da Rede de Fomação, vai formar na primeira fase do Telecentros.BR.
A Bahia, aliás, tem o maior número de unidades que receberão apoio (equipamentos, formação e bolsas para monitores) do Telecentros.BR: serão 1.272, ao longo dos 18 meses do programa. Juntamente com a Universidade Federal da Bahia, a Uneb participa de um projeto de formação de agentes para 30 telecentros rurais, com financiamento da Finep, que serão acompanhados pelas universidades por dois anos.
Desde 2008, o PISD realiza um encontro anual da rede baiana de CDCs, com monitores e gestores do programa, para debater questões de capacitação e gestão. No ano passado, em dezembro, em Salvador, participaram 700 pessoas. Um dos problemas levantados pela rede foi a troca de gestores e monitores a cada mudança de prefeito – em 2008, 200 CDCs tiveram as equipes demitidas. A troca de pessoas implica investimento duplicado em treinamento. Em 2008, o programa treinou 1.100 gestores e monitores, com a implantação de 326 novas unidades. Em 2009, com 194 novas unidades, foram treinados 800, em função da troca de equipes com a renovação das prefeituras. Este ano, contando com os CDCs na área rural, foram implantadas 78 novas unidades.
{jcomments on}