Prêmio ARede 2010 – Terceiro Setor | Desenvolvimento de Conteúdo | Lixoeletrônico.org

Lixo eletrônico,uma questão de qualidade de vida.

Blog difunde informações, promove debates e presta serviço que ajuda a sociedade a cuidar da saúde e do ambiente.   Carlos Minuano

ARede nº64 novembro de 2010 – O que fazer com o lixo? Essa é uma pergunta que o mundo inteiro se faz, e que demanda respostas urgentes. No Brasil, a situação não é menos crítica. Sancionada pelo governo federal, após trâmite de 19 anos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos ainda aguarda regulamentação para começar a valer. Enquanto isso, o país está longe de uma gestão eficiente de resíduos sólidos. E precisa de boas fontes de informação para que a sociedade participe do debate sobre como fazer uma boa regulamentação da lei e fiscalizar seu cumprimento.

Somente 14% dos municípios têm aterros sanitários, os demais 64%, a despeito de impactos ao ambiente, depositam resíduos em depósitos clandestinos, também conhecidos como lixões. No meio de todo esse lixo há pilhas, baterias, celulares, computadores, periféricos e uma infinidade de sucata eletroeletrônica “que envolvem questões de ordem ambiental, social, técnica, política e econômica”, observa Felipe Andueza, analista ambiental do Coletivo Lixo Eletrônico, grupo formado em 2008 por profissionais de diferentes áreas.

Foi essa equipe de entusiastas das tecnologias de informação e comunicação montou o blog Lixoeletrônico.org, que recebeu o Prêmio ARede 2010, na modalidade Terceiro Setor, categoria Desenvolvimento de Conteúdo.O blog serve de vitrine para as atividades do coletivo e, além de criar espaços de debate, interação e troca de conhecimentos, produzir e organizar informações sobre o tema. “Analisamos projetos de lei, políticas públicas nacionais e internacionais, posturas e ações empresarias, e estamos de olho em nossos legisladores e governantes para acompanhar, fiscalizar e cobrar ações”, explica Andueza.

Com pouca chance de regulamentação para este ano, a lei nacional tem interrogações a serem esclarecidas, avalia Hernani Dimantas, um dos fundadores do Coletivo Lixo Eletrônico, e coordenador do Laboratório de inclusão digital e Educação comunitária da Universidade de São Paulo. Ele aponta que falta saber, por exemplo, como fica o chamado ‘mercado cinza’, de produtos eletrônicos sem marca, contrabandeados, sem “responsabilidade definida”. “A sociedade civil precisa tomar voz nesse debate. Advogados de indústria e grandes empresas já estão se movendo em defesa de seus clientes”, alerta.

A ideia de criar o coletivo veio da percepção de que a questão do lixo eletrônico não estava sendo debatida como deveria. “Sociedade, políticos, empresas, universidades não estavam dando a devida importância para o tema”, diz Andueza. Foi nesse contexto que ficou claro que, além de necessário, era possível fazer alguma coisa. A decisão foi criar um coletivo, não uma organização não-governamental (ONG) ou uma associação.

Para reunir periodicamente pessoas que pudessem contribuir, sem formalidade, estatutos, atas, assinaturas e toda a burocracia. “Um lugar onde, quem quisesse contribuir, era só entrar. E, quem quisesse sair, era só não aparecer no próximo encontro. Uma semana a gente se reunia no escritório de um, outra, na casa do outro, e assim o grupo foi tomando forma”, lembra Andueza.
A iniciativa foi apadrinhada por três ativistas da inclusão digital, Drica Guzzi, Hernani Dimantas e Ricardo Kobashi. “Percebemos que um novo problema estava surgindo e, em boa medida, resultado indesejado do trabalho que realizamos”, avalia Kobashi. “Era preciso atuar em todo o processo e tornar o pensamento, as ideias de inclusão digital, sustentáveis”.

Tratar a questão do lixo eletrônico, explica Kobashi, era a continuidade natural do trabalho que já haviam desenvolvido, em projetos como o Metareciclagem e o Programa AcessaSP. Foi criado, então, o blog, para dar forma e receber os conteúdos que estavam sendo produzidos e discutidos. O ponto de partida foi o estudo desenvolvido por Bruna Daniela da Silva, Dalton Lopes Martins e Flavia Cremonesi de Oliveira, em parceria com a ONG Waste.nl, da Holanda.

benefícios difusos
Os benefícios são vários e difusos, destaca Andueza. “Temos a ganhar todos nós, que ainda vivemos em um país sem práticas responsáveis de consumo, reuso, reciclagem ou descarte de eletroeletrônicos. Qualquer melhora nesse processo, seja na atitude do consumidor, das empresas ou dos governos, irá reduzir os riscos para a saúde e o ambiente.”

Outro público importante desse projeto é formado pelas pessoas que participam de alguma forma da economia informal do lixo (eletrônico ou não), sejam catadores, recicladores, desmontadores. Dada a alta toxidade dos materiais presentes nos eletroeletrônicos, afastar esses resíduos do lixo comum e normatizar sua reciclagem e desmonte já traz ganhos consideráveis para essa população, de acordo com o analista ambiental.

Iniciativa essencialmente voluntária, com exceção do suporte técnico e de recursos humanos da Weblab.tk – que desde o primeiro momento apoiou o portal Lixo Eletrônico –, a equipe comemora o prêmio ARede 2010. “É um gás para continuarmos a provocar uma discussão mais profunda sobre o tema ”, conclui Felipe Andueza. Ainda há muito o que fazer. O debate está apenas começando.
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