Prêmio ARede 2010 – Terceiro Setor Desenvolvimento Tecnológico e Inovação | WikiMapa

Um verdadeiro mapa da inclusão social

Moradores de favelas usam aplicativo móvel para mostrar onde estão e como são as comunidades de baixa renda Carlos Minuano

ARede nº64 novembro de 2010 – Qual o nome correto, favela ou comunidade de baixa renda? O que existe nesses lugares? Como vivem os moradores? Dá para localizar pelo GPS? Questões como essas inspiraram o Wikimapa, aplicativo móvel que tem como principal objetivo tornar visível o que há de melhor nas favelas. O projeto foi vencedor do Prêmio ARede 2010, na categoria Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, modalidade Terceiro Setor. Trata-se de uma iniciativa para colocar as comunidades de baixa renda literalmente no mapa.

O Wikimapa foi desenvolvido no programa Rede Jovem, iniciativa da organização não-governamental Comunidade Solidária. Começou em meados de 2009, inicialmente com recursos do edital Novos Brasis, do Instituto Oi Futuro, para uma etapa piloto de um ano. Construído de maneira colaborativa, o mapa virtual é produzido por meio do georreferenciamento de ruas e locais de interesse para moradores ou visitantes, como aparelhos de saúde, cultura, serviços ao cidadão, esportes, educação e lazer.

“Comunidades não são inseridas em mapas na internet. E, quando incluídas, são estigmatizados como áreas serem evitadas”, diz Natália Santos, coordenadora executiva do Rede Jovem. Na prática, o que o projeto propõe é deixar de olhar para essas regiões como áreas de risco e promover uma nova identidade para seus moradores. “Queremos a reconstrução da cartografia, destacando e valorizando a questão local”, acrescenta a coordenadora.  

O Wikimapa é bem simples e ágil. Basta uma passada de mouse para saber, por exemplo, que mais de quatro mil pessoas moram na comunidade Pavão-Pavãozinho, próximo a Copacabana, zona Sul do Rio. Se quiser ir mais longe, basta clicar. Mapa aberto, é só “passear” pela região. Dá para conhecer o bar do Biró, a Mercearia Dona Eva, o Salão Dois Irmãos, a Pensão FM, a associação de moradores. Lugar para descobrir não falta, nessa ou em qualquer uma das cinco comunidades que participaram da primeira fase do projeto. E todo o conteúdo foi produzido pela própria comunidade. Os moradores-pesquisadores utilizaram aparelhos celulares com a tecnologia GPS, que permite maior precisão na localização das áreas mapeadas.

Participação social de jovens
Estimular a participação social de jovens de comunidades de baixa-renda é o foco das ações do Rede Jovem, que comemora este ano uma década de atuação. “Inicialmente trabalhávamos com o desenvolvimento de metodologias para telecentros comunitários”. Hoje o cenário é outro. “Não basta mais dar o acesso, é preciso fomentar a apropriação dessas novas tecnologias”, diz a coordenadora. Por isso, o programa se diversificou. “Focamos também a criação de projetos e ferramentas virtuais voltadas ao desenvolvimento da comunidade”, explica Natalia.

O Wikimapa aposta na interação de moradores de favelas com as ferramentas virtuais para superar as barreiras da exclusão. “Percebemos que o celular poderia ser utilizado de maneira mais produtiva”, observa Natalia. O mapeamento, segundo a coordenadora do projeto, inseriu a população de baixa renda nessa nova lógica colaborativa de produção virtual e móvel. Como o próprio nome indica, o Wikimapa foi desenvolvido em um sistema wiki, que permite aos usuários editar as informações postadas. Após o mapeamento, os ‘wikirepórteres’ – como são chamados os colaboradores do projeto – , podem incluir imagens, vídeos e outras informações que ficam armazenadas em um banco multimídia de acesso público.

“Com o Wikimapa, é possível conhecer parte da riqueza histórica das comunidades e de seus moradores, desmistificando as favelas, conhecidas como centros de violência e marginalidade”, diz Patricia Azevedo, coordenadora estratégica do Rede Jovem. E o resultado da etapa piloto do Wikimapa foi expressivo. De acordo com as coordenadoras, já são 800 usuários cadastrados, de vários países.

A equipe do projeto se lança agora a um novo desafio: a segunda etapa do projeto, com novas funcionalidades e possibilidades. Umas das principais novidades é que o serviço estará também disponível em inglês. A nova fase do Wikimapa (Wikimapa 2.0) tem financiamento do setor de Inovação e Negócios Sustentáveis da Nike do Brasil. Começa também mais uma etapa do trabalho de campo, com nova equipe de ‘wikirepórteres’, já selecionada e capacitada. “Estamos na fase final de desenvolvimento técnico, testando novos aplicativos, como a versão para iPhone”, diz Natália. O início da segunda etapa está previsto para novembro.

Apesar dos avanços, a proximidade do fim do ano e o término da segunda fase do Wikimapa trazem à equipe uma preocupação: novamente a necessidade de saír à caça de recursos financeiros que permitam garantir a sustentabilidade do projeto. Mas, a julgar por resultados alcançados, não deve ser difícil. Além de certificado pelo Banco do Brasil, Unesco e Petrobrás como tecnologia replicável, é o único projeto da América Latina a receber o prêmio Internacional Mobile Premier Awards 2010, como destaque em Inovação e Mudança social. A equipe também comemora o prêmio ARede 2010. “Nossa expectativa é de que o prêmio ajude a expansão da metodologia para outras comunidades de baixa renda do país, que atraia olhares do poder público para a adoção do Wikimapa como política pública, favorecendo a apropriação dessa tecnologia por moradores de favelas”, diz Patrícia Azevedo.
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