Prêmio ARede 2010 – Terceiro Setor | Serviço ao Usuário | Comunidade Segura

O tema da segurança ganha força na rede

Portal propõe novo modelo de mídia e promove troca de informações entre sociedade civil e polícia Carlos Minuano

ARede nº64 novembro de 2010 – O papel dapolícia na sociedade é uma questão que os próprios policiais se colocam, afirma Jacqueline Muniz, pesquisadora e professora da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Ao dar aulas para policiais em todo o Brasil, ela constata uma demanda por conteúdo e uma busca de afirmação da identidade do profissional da polícia: “É um povo que está refletindo sobre si mesmo”. Jacqueline é uma das colaboradoras do Comunidade Segura, portal de informações sobre segurança pública e direitos humanos, lançado em 2006, com foco em políticas públicas de segurança, direitos humanos e prevenção à violência armada. O portal foi o vencedor do Prêmio ARede 2010, modalidade Terceiro Setor, categoria Serviços ao usuário.

“Nosso público são pessoas que trabalham com segurança e buscam informação qualificada – policiais, gestores, formuladores de políticas públicas e formadores de opinião, como jornalistas especializados”, diz Mayra Jucá, coordenadora de Comunicação e Projetos de Mídia do Movimento Viva Rio, e idealizadora do portal Comunidade Segura. O que no começo parecia improvável, em um ano se comprovou possível: representantes da sociedade civil e do mundo acadêmico, compartilhando o mesmo espaço – ainda que virtual – com policiais. Formado por uma equipe que integra jornalistas e especialistas no tema, vinculado ao Viva Rio e às instituições parceiras do projeto, o portal Comunidade Segura propõe um novo modelo de mídia especializada. De acordo com a coordenadora, o cadastro de usuários confirma que o projeto está cumprindo seu papel: “São pesquisadores tanto da sociedade civil quanto de instituições governamentais, inclusive das forças de segurança”.

Outra proposta do site é fomentar o diálogo entre profissionais latino-americanos da área de segurança pública. O conteúdo sobre outros países, aliás, é o preferido do major Marco Antonio Bicalho, da Polícia Militar de Minas Gerais. “Me permite fazer comparações com o trabalho que executamos”, diz o leitor assíduo do site.

A ideia do Comunidade Segura surgiu em 2005, durante uma oficina promovida pelo Viva Rio, então com 12 anos de atividades em prevenção e redução da violência armada. O objetivo era discutir e qualificar o conceito de segurança humana. Mayra conta que, nesse encontro, os especialistas sentiram falta de um projeto de comunicação que abordasse as questões por uma perspectiva integradora, em que problemas e soluções fossem tratados como de interesse de toda a sociedade. A partir daí, o projeto do portal procurou mostrar o que funciona e o que não dá certo, em diferentes contextos. “Percebemos que o foco deveria ser em práticas e políticas que apontem soluções, fugindo da mera descrição ou análise de fenômenos violentos”, detalha a coordenadora.

Difícil é manter um veículo tão segmentado e que trata de um tema tão complexo e controverso. “Sustentabilidade é um desafio”, desabafa Mayra. O projeto já teve apoio financeiro da Secretaria de Direitos Humanos, por meio da União Europeia, e de financiadores de outros projetos do Viva Rio. Outras parcerias importantes ajudam a manter qualidade do conteúdo do portal, como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que permite a produção de reportagens em todo o Brasil, e instituições internacionais que utilizam o conteúdo para publicações especializadas, caso do boletim En La Mira, observatório do Controle de Armas na América Latina, financiado pelo Small Arms Survey, de Genebra.

Apesar dos desafios da sobrevivência, o site apresenta números otimistas. Em setembro, foram 95 mil acessos – média dos últimos 12 meses, segundo informa a editora do Comunidade Segura, Shelley de Botton. A maior parte dos acessos vem de links em blogs de policiais, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da rede social Facebook. Os temas preferidos são a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), índices de violência, policiamento comunitário e drogas. São 5.190 usuários cadastrados e 690 seguidores no Twitter.

“O Viva Rio também investe recursos próprios e estamos sempre ativos na captação de recursos”, diz Mayra. Parte do conteúdo do site vem de uma revista impressa, mantida pela ONG. O produto também ajuda a compor o orçamento, mas, por ser sazonal, cobre parte pequena dos custos, observa a coordenadora. Para Mayra, o Prêmio ARede veio em ótima hora: “É o primeiro que o site recebe. O projeto tem quatro anos e cresceu muito desde o lançamento, mas estamos em um momento de preparar as bases para poder crescer mais. Um reconhecimento como esse aumenta nossa visibilidade e fortalece a credibilidade”.

Uma das novidades, nessa etapa de crescimento, será a reforma do portal, que vai ganhar novos recursos multimídia. A biblioteca virtual deverá ser ampliada. Até o momento, são mais de 2 mil documentos catalogados, reunindo os principais autores e especialistas em Segurança Pública e Direitos Humanos, além de artigos e trabalhos acadêmicos de policiais, até então não acessíveis.
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