Prêmio ARede 2014 – Setor Privado | Serviços aos usuários e à comunidade
A saúde vencendo distâncias
Parceria entre cisco, universidade federal de sergipe e governo do estado aproxima médicos especialistas da capital a pediatras regionais.
Texto Áurea Lopes | Foto Divulgação
ARede nº 101 – especial novembro de 2014
SERGIPE É palco de uma experiência em telemedicina capaz de levar medicina especializada a comunidades distantes. Vencedor do Prêmio ARede 2014, o projeto tocado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e a fabricante de equipamentos de telecomunicações Cisco, batizado de Programa Avançado de Colaboração e Educação em Saúde, está proporcionando atendimento pediátrico por telemedicina e telepresença em duas cidades do estado. As clínicas de saúde da família das cidades de Lagarto e Tobias Barreto são conectadas a hospitais e especialistas de Aracaju, capital do Estado, e de São Cristovão, onde há um campus da UFS. Desde fevereiro, foram realizados cerca de 80 atendimentos virtuais por mês.
O projeto faz parte do programa global de responsabilidade social da Cisco Connected Healthy Children e combina os esforços da universidade e dos prestadores de assistência médica nos municípios envolvidos. Tem o apoio também do governo do estado, do Ministério da Saúde e das prefeituras e secretarias de saúde das duas cidades. A Cisco doou os aparelhos e os softwares. São utilizadas a videoconferência Cisco TelePresence e tecnologias de colaboração baseadas em rede, como Show and Share, WebEx e Jabber. A empresa forneceu ainda duas unidades móveis, que podem ser levadas para salas de aula, leitos hospitalares ou para casas de pacientes. São carrinhos com a solução de telepresença e com entradas para dispositivos móveis como tablets e celulares, ou equipamentos os médicos com conexão digital.
Lagarto é a terceira maior cidade do Sergipe, com cerca de 100 mil habitantes. Apesar do tamanho, a cidade tem uma séria deficiência na área de saúde. Para lá, foram enviados dez profissionais do programa Mais Médicos, de acordo com a secretária municipal de Saúde, Tânia Cristina Prado Corrêa. Antes do projeto, a rede pública tinha apenas três pediatras para um contingente de cerca de 25 mil crianças até 14 anos. Cada um atendia onze meses por ano. No mês de férias, as consultas eram suspensas. A falta de especialistas se estende por uma longa lista de áreas médicas. Nesses casos, assim como em ocorrências que exigem intervenção mais complexa, os pacientes são transportados para Aracaju. Na clínica de Lagarto, a diretora contabilizava uma média de dez viagens por semana.
FOCO NA PEDIATRIA
A telemedicina vem sendo usada justamente para sanar essas dificuldades. O foco inicial é a pediatria. Os equipamentos instalados conectam médicos e pacientes, em tempo real, com imagem em alta definição. O médico generalista da clínica de Lagarto pode, por exemplo, fazer uma consulta em conjunto com um especialista de Aracaju, que interage com o paciente por telepresença.
O médico remoto pode compartilhar com o colega local a visualização de exames e ter acesso ao estetoscópio digital acoplado ao equipamento da clínica, durante o exame do médico local ao paciente. O generalista fica encarregado também de focalizar ferimentos, por exemplo, para que o especialista veja ampliado e em detalhes, 78 quilômetros longe dali. E se o especialista não estiver em um dos campi da UFS, poderá se conectar ao sistema por computador, tablet ou celular. Os profissionais foram capacitados para operar os equipamentos e trabalhar com os softwares e com o banco de dados que vai suportar os aplicativos de gestão e análise de informações.
O projeto começou este ano. A proposta é utilizar a solução em três frentes: para diagnósticos colaborativos, com os especialistas da universidade trabalhando em conjunto com os generalistas locais; para promover a troca de conhecimentos entre profissionais da capital e do interior; para a produção e a distribuição de conteúdos de saúde. Além de criar uma alternativa para atenuar gargalos cotidianos, como o transporte de pacientes para a capital.
O professor da UFS Mario Adriano dos Santos, um dos responsáveis pela iniciativa, acredita que, nas consultas, a sensação de telepresença pode fazer toda a diferença. No programa federal Telessaúde, compara ele, as câmaras são de baixa resolução, a conexão não é alta e os hardwares são limitados. Ele explica que serão monitorados dados como a quantidade de saídas evitadas, número de aulas que as crianças perderiam com os deslocamentos, redução de gastos públicos. “Acima de tudo, vamos verificar qual o ganho de qualidade de vida nos casos de crianças com doenças crônicas”, acrescenta.
O projeto deu tão certo que as parcerias com a Cisco e com o governo do estado foram ampliadas. A empresa cedeu mais 50 licenças para uso do software, enquanto o governo financiará a instalação de mais salas em outros municípios. “A ideia é ampliar para mais 50 cidades, mas depende de infraestrutura local, como pessoal, médicos e conectividade nas unidades. A gente quer as novas unidades funcionando já no primeiro trimestre”, afirma Santos. O foco em pediatria permanecerá.