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Prêmio ARede 2014 – Terceiro Setor | Serviços aos usuários e à comunidade

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Uma rede para anônimos

O Diasporabr é um dos nós nacionais da rede que garante a privacidade de dados dos usuários e a independência dos servidores

Texto Rafael Bravo Bucco | Foto Divulgação

 

ARede nº 101 – especial novembro de 2014

A DIASPORA é uma rede já conhecida por quem usa software livre. Criada em 2010 pelos universitários Dan Grippi, Maxwell Salzberg, Raphael Sofaer e Ilya Zhitomirskiy, de Nova York, a rede social se propõe a não fazer aquilo que o Facebook mais faz, embora poucas pessoas se deem conta: coletar dados dos usuários. É uma rede social que permite a interação, a conexão entre amigos, a publicação de mensagens públicas e privadas. Mas faz isso sem que as informações sejam direcionadas a um enorme banco de dados para cruzamentos e venda de publicidade. E tudo de forma gratuita, com código livre, para ser checado, usado e modificado à vontade.

A rede social livre ganhou um pod – como são chamados seus nós nas redes de servidores – 100% brasileiro: o Diasporabr, vencedor do Prêmio ARede 2014. Mantido pelo ativista das tecnologias livres Anahuac de Paula Gil, o pod é hospedado gratuitamente nos servidores da empresa goiana RGV. No começo de outubro, contabilizava 15,5 mil participantes. Entrou no ar em 11 de dezembro de 2013. Seu diferencial em relação aos pods mundiais é a observância das leis brasileiras. Os logs e as navegações do usuário não são armazenados, pois não há essa exigência no Marco Civil da Internet para um serviço não comercial, como é o caso.

Um pod funciona de forma integrada à rede Diaspora mundial, mas também de forma independente. Essa é uma premissa fundamental dessa rede social aberta. A comunidade tem autonomia para decidir como usar os dados dos usuários. Esse sistema de gestão, em que cada provedor de acesso à rede social define as regras para administrar os dados, é chamado “federado”. Funciona como em um país federativo, em que cada estado tem autonomia para criar as próprias leis. Na rede federada, cada servidor decide como tratar os dados. “Todas as contas de todos os servidores comunicam-se entre si, mas a gestão de cada servidor é independente”, explica Gil. Ou seja, se o pod tiver regras com as quais o usuário não concorda, basta cadastrar a conta em outro pod. E se nem assim o usuário encontrar um servidor com políticas que lhe agradem, pode baixar o software criar seu próprio servidor, como quem hospeda um site. “Você pode ser mestre e senhor de um servidor de rede social. O conceito primário da democracia é exatamente a fragmentação do poder”, resume Gil.

No caso da Diasporabr, a opção é garantir o anonimato dos usuários. “Não exigimos nenhum tipo de validação de identidade. O nome e o e-mail não precisam ser reais e não há qualquer campo pedindo seu número de telefone. Se as contas são anônimas e pode-se ter seu próprio servidor, ninguém pode censurar o conteúdo das publicações”, diz Gil. O usuário é dono do que escreve, do que compartilha. É detentor das próprias ideias, fotos e músicas. Os seguidores podem ler, partilhar, opinar. Mas nenhuma empresa, ou a ferramenta da rede, é capaz de reunir, analisar e cruzar informações – uma vez que a comunicação entre as bases de dados, entre os servidores, é encriptada por padrão.

Além disso não é preciso aceitar termos de contrato que transformam conteúdos pessoais em produtos das empresas. “Suas fotos continuam sendo suas. Suas ideias continuam sendo suas. Não haverá mineração de dados, análise, catalogação, tratamento estatístico ou perfilamento”, explica o ativista. Isso quer dizer também que, quando o usuário quiser apagar a conta, vai conseguir, e junto, pode apagar todos os dados relacionados. “As mensagens e imagens são removidas de verdade da base de dados e do disco. Não há uma segunda base escondida”, observa.

INTEGRAÇÃO
Vale lembrar, porém, que a Diaspora não está isolada do mundo das redes sociais digitais mais populares da internet. A comunidade reconhece a necessidade de transição. Por isso, criou ferramentas que facilitam a integração com Facebook, Twitter, Tumblr e WordPress. “Assim pode-se manter contato com as pessoas que estão por lá enquanto isso for interessante”, diz Gil, que nunca teve Facebook e não usa Gmail.

Ele ressalta que, por ter como base o software livre, a rede passa por atualizações constantes. E o pod nacional não vai ficar para trás. Está na versão 4.1.0, mas os preparativos para receber a versão 5, em desenvolvimento, já começaram. Gil é o responsável pela integração com a plataforma Jabber, que facilita a troca de mensagens instantâneas. Ele insistiu para que a comunidade levasse o recurso para popularizar a rede social. A “militância” deu resultado. “Já estão comentando os primeiros códigos do chat que virá na versão 5. Deve estar funcionando em breve no Diasporabr. Ter um chat, antes de qualquer coisa, elimina a sensação de inércia, de que a rede está parada. A ferramenta é fundamental para a rede crescer”, defende.

www.diasporabr.com.br