Por Fatima Fonseca, do Wireless Mundi
25/09/2012 – O grande problema na adoção de dados abertos pelos governos não é a decisão política e nem os recursos tecnológicos, mas a forma como os dados estão estruturados no governo. A constatação é do presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, que participou hoje (20) de um debate sobre o tema no 40º Seminário Nacional de TIC para a Gestão Pública (Secop), organizado conjuntamente pela Associação Brasileira de Entidades de TIC (Abep) e pela Procergs, a empresa de processamento do Rio Grande do Sul. O evento está sendo realizado na cidade de Gramado (RS). A Dataprev está utilizando alguns dos dados já publicados no anuário da Previdência Social para aprender a trabalhar com os dados no formato aberto.
“As instituições, a criação desses dados e sua classificação, tudo passa por um fenômeno histórico de décadas de burocracia, que cobre uma certa ineficiência de gestão da informação, então, a organização responde mais à demandas do processo burocrático. É esse foco que temos que mudar”, afirmou Assumpção. “Isso é reengenharia de processo, que é a coisa mais longa e difícil de se fazer em qualquer instituição”, completou. A dificuldade, segundo ele, é porque mexe tanto com a tecnologia como com as cadeias de controle e comando e com as atitudes das pessoas. Por isso, enfatizou, é preciso encarar o problema como um todo. “Não pode dizer é falta de tecnologia ou falta de vontade política, mas ver o problema como um todo.”
Para o presidente da Dataprev, o primeiro passo é inserir os conceitos e ideias dentro do processo de substituição do legado e resolver algumas questões como a da classificação de dados, um grande desafio. “O maior problema da Lei de Acesso à Informação na infraestrutura é que as informações não eram classificadas. A demanda de classificação é intensa e conflita com outras prioridades”, acrescentou.
No trabalho que está sendo conduzido pela Dataprev, com base em dados já publicados no anuário da Previdência, a primeira iniciativa foi consolidar os relatórios de acidentes de trabalho e inseri-los no padrão recomendado pela Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação, o Infraestrutura Nacional de Dados Abertos (INDA). “Nosso objetivo é colocar todos os dados da Previdência nesse padrão ainda este ano. A partir daí, vamos começar a estudar as conseqüências disso, o que exatamente está sendo usado e o que é útil. A adoção de dados abertos é um ciclo contínuo, pois é preciso disponibilizar e depois monitorar o uso”, afirmou.
Experiência internacional
Dados abertos também foi tema de uma web-conferência conduzida por Vagner Diniz, gerente do W3C no Brasil, e que contou com a participação da norte-americana Jeanne Holm, arquiteta de Sistemas da Agência Espacial Americana (Nasa) e integrante do W3C nos Estados Unidos. Diniz destacou que, com dados abertos, o cidadão é colocado no centro das discussões e o governo deixa de ser o único protagonista. “O e-gov tem um novo patamar, pois o advento de dados abertos traz o cidadão para o centro do governo eletrônico”, afirmou.
Jeanne Holm relatou a experiência do portal Data.Gov, implementado, segundo ela, com sucesso em 172 organizações nos Estados Unidos e que começa uma nova etapa, a de criar comunidades para discutir temas específicos. “Temos 16 comunidades dentro do Data.gov, que funcionam ao redor dos dados publicados pelas agências de governo”, informou. Essas comunidades trabalham para incentivar a inovação e o desenvolvimento de aplicativos a partir dos dados publicados pelas agências.
“A maioria das pessoas nos EUA nunca acessará o data.gov para ver balancete. As pessoas têm interesse em aplicativos diferentes para ter acesso rápido a serviços médicos etc.”, destacou. Holm deu como exemplo a comunidade de energia, que cria aplicativos para que as pessoas possam saber como causar um impacto menor no meio ambiente. “Se vão reformar sua casa, buscam comparar e comprar o material que é mais indicado, pensando nos impactos ambientais”, relatou.