Programas abertos e sites navegáveis
A cultura de acessibilidade também precisa conquistar os desenvolvedores
Um desafio a ser lançado à comunidade de desenvolvedores em código aberto é ampliar a criação de programas para promover a acessibilidade. Apesar de existirem alguns programas livres, os softwares proprietários e pagos ainda dominam o mercado (Veja o quadro na página 14). O Jaws, por exemplo, é unanimidade entre os usuários deficientes visuais. “Porque lê mais coisas e o sintetizador de voz é ótimo”, avalia Marcos Ribeiro Campos, monitor do telecentro da prefeitura de São Paulo em parceria com o Instituto Efort. Acontece que a licença do Jaws, por máquina, custa em torno de R$ 3 mil. Outra opção de leitor de tela é o Virtual Vision, a R$ 1.800,00 a licença para uso corporativo.
Os programas gratuitos, na maior parte das vezes, não rodam em Linux. “O que inviabiliza a utilização em ambientes públicos como os telecentros”, diz o especialista Teófilo Galvão Filho, coordenador do Projeto Infoesp, na Bahia. Esse é o caso do australiano NVDA, para Windows, que vem conquistando cada vez mais usuários, pela boa qualidade. Um programa que roda em Linux é o leitor de tela Orca, criado pelo programa de acessibilidade da Sun, com a colaboração de vários desenvolvedores, mas trata-se de um aplicativo muito simples.
Produto brasileiro de ampla distribuição é o pioneiro Dos-Vox, desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro, que vem sendo atualizado ao longo dos anos, desde que foi criado, em 1993. Hoje, dispõe de uma versão para Linux (Lin-Vox) e já reune mais de cem aplicativos.
Outra frente que requer um forte trabalho de aculturação é o desenvolvimento de sites acessíveis. As ferramentas para isso existem e estão na mão. “Quem faz a acessibilidade não é o software, é a pessoa que está desenvolvendo”, diz Marco Antonio Queiroz, deficiente visual e consultor em informática. Criador do site Bengala Legal, que tem 2 mil acessos por dia, MAQ, como é conhecido, lançou, em 2008, o site Acessibilidade Legal, voltado para desenvolvedores e webdesigners. Já com 65 artigos técnicos que ajudam a construir sistemas de navegação acessíveis a diversos tipos de deficientes, o Acessibilidade contabiliza 220 page views por dia.
“Quanto mais você fizer o código na mão, maiores serão os recursos de acessibilidade”, ensina MAQ, que também fez o blog Bengala Legal, de acordo as normas internacionais de acessibilidade web do W3C/WAI/WCAG. O blog Bengala Legal desenvolvido com a ferramenta WordPress, foi resultado de uma parceria entre MAQ, que fez o desenvolvimento, e o webdesigner Gil Porta, que é tetraplégico. Apesar dos recursos disponíveis, MAQ acredita que falta formação: “Vemos muitos sites com acessibilidade pela metade, por desconhecimento dos padrões. Diversos sites que se denominam acessíveis não têm, por exemplo, um mecanismo bastante simples como o chamado texto alternativo, que descreve a imagem. Quando um cego entra nessa página, não consegue saber quais são as imagens que, muitas vezes, dão sentido aos textos”. (A.L.)