No Jornal da Hora, pontinho de cultura de São Paulo, quem põe a mão na massa são as crianças.
ARede nº51,setembro 2009 –Os suplementos infantis dos grandes jornais são escritos por profissionais adultos, que procuram ver as notícias do ponto de vista das crianças. No Jornal da Hora, ninguém precisa ter todo esse trabalho… Na equipe de repórteres, fotógrafos, editores e diagramadores, o mais velho tem 14 anos. Entre os novatos, estão jovens talentos a partir de 8 anos. E a garotada quer mais é que continue assim. O projeto, mantido pelo Instituto Espaço Arterial, desde 2007, está entre os selecionados no edital do programa Ludicidade/Pontinhos de Cultura, do MinC.
O Jornal da Hora começou há dois anos, mas é fruto de outro jornal, bem mais antigo, chamado A Voz da Infância, criado em 1936, também produzido por talentos mirins – as crianças frequentadoras da Biblioteca Municipal Monteiro Lobato, em São Paulo. Um dos responsáveis pela criação do pequeno tablóide foi o escritor Mário de Andrade, então primeiro secretário municipal de Cultura de São Paulo, que também criou a primeira biblioteca infantil do país, a Monteiro Lobato, na Vila Buarque, região central da cidade. “A biblioteca tem de ter um jornalzinho”, disse ele, na ocasião. Um dos primeiros colaboradores do jornal foi o célebre compositor e cientista Paulo Vanzolini, quando ainda tinha 11 anos.
Depois de ser interrompido na década de 1990, e ficar parado durante anos, no aniversário de 70 anos da biblioteca, em 2006, foi lançado um número comemorativo do antigo jornal. Animadas, as crianças toparam retomar o projeto. Conseguiram manter a publicação durante um ano, até que a Monteiro Lobato decidiu, literalmente, acabar com a festa da meninada.
Mas nem tudo estava perdido. A experiência com o jornal A Voz da Infância mostrou que as crianças se interessam pela elaboração de um jornal. “Elas se sentiram realizadas em dar continuidade à história de um jornal tão antigo, e por desenvolver um trabalho que realmente era feito por elas, com suas questões e percepções de mundo”, afirma a socióloga Vera Alves, na época responsável pelo núcleo de ação educativa da biblioteca, que coordenou a edição comemorativa do jornal e atualmente é diretora do Espaço Arterial.
Para a alegria da galera, o Espaço Arterial resolveu retomar a brincadeira. Na realidade, segundo Vera, depois da biblioteca interromper novamente o projeto do jornal infantil, as crianças reivindicaram, junto ao Instituto Espaço Arterial, a continuidade do projeto. “Resolvemos então elaborar um novo projeto”. Quando precisaram escolher o novo nome, a decisão foi unânime: Jornal da Hora. Na opinião dos pequenos jornalistas, diz Vera, foi porque o jornal “é da hora mesmo!”.
São as crianças que decidem o tema da edição, as matérias, quem será entrevistado e quem fará a diagramação da capa. Cerca de 30 crianças já passaram pelo projeto, que conta atualmente com uma equipe fixa de 22 pessoas, além de colaboradores das escolas do entorno da região e de outros bairros. Todas as edições já estão na internet, basta uma visitinha ao blog da publicação no endereço http://espacojornaldahora.blogspot.com. (C.M.)
