29/07/2010
Do Tele.Síntese
Um consórcio de empresas brasileiras entrega no dia 20 de agosto a proposta para produzir cinco milhões de conversores (setop boxes) para TV digital, já com o software Ginga embarcado, a um preço não superior a R$ 200,00 para o consumidor. A partir da análise das planilhas de custos, o governo decidirá que incentivos vai dar ao programa, disse hoje o assessor especial da Casa Civil, André Barbosa.
(O setop box permite a uma TV analógica receber sinais digitais e é, na visão do governo, a maneira de dar acesso à TV digital a famílias que ganham até dois salários mínimos e não têm renda para comprar um aparelho digital. A ideia é que sejam comercializados 15 milhões de conversores entre 2011 e 2013.)
O governo decidiu que não vai adotar a mesma medida da Argentina, que optou por subsidiar todo o equipamento e distribui-lo gratuitamente, adiantando até a implantação da interatividade. ”Nós entendemos que uma política de sustentabilidade tem que ter o respaldo do mercado. Nós vamos criar as condições, cenários indutores que facilitem isso, talvez cortar impostos, dar algum incentivo fiscal, acertar a legislação com os estados, criar políticas de importação de insumos, botar o setop box e o moldem – possibilidade que ainda está sendo discutida – em condição de ter os benefícios previstos para inclusão digital”, disse o assessor.
Barbosa disse que o programa para barateamento dos setop boxes terá recursos do BNDES, destinados ao ISDB-T, que estão lá desde 2006 e precisam ser utilizados. O consórcio de empresas, liderado pela TQTVS, da Totvs, que investiu no desenvolvimento da TV digital lá atrás, estabelecerá cotas para produção de cada uma, até atingir a soma dos cinco milhões de equipamentos, e vai cobrar um preço menor da licença para implementação do Ginga, já que terá escala. “O governo só entrará com o arcabouço legal”, disse.
Paralelamente, o governo terá que fomentar a produção de conteúdos e aplicativos digitais interativos para que as pessoas tenham interesse em comprar o setop box. “Todas essas coisas têm que caminhar juntas e nós estamos trabalhando nisso. Acho que a partir do ano que vem nós teremos solucionado toda essa situação”, ressaltou. Barbosa disse ainda que o governo trabalha também para novos implementadores brasileiros, além da TQTVS, se interessarem pela produção de conversores.
Outro ponto previsto no programa dos conversores é o financiamento do equipamento no varejo pelos bancos oficiais – Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal -, que terá prestação mensal de R$ 17,00.
África do Sul
Nesta quinta-feira, junto com o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fernando Lopes, Barbosa recebeu nove parlamentares da África do Sul, que vieram conhecer de perto o sistema de TV digital nipo-brasileiro. Os deputados estão no país desde terça-feira, a convite do governo brasileiro. Já passaram por São Paulo, onde visitaram o Makenzie, a Usp, as emissoras de televisão SBT, Globo e Bandeirantes. “A comitiva esteve também em Santa Rita do Sapucaí, visitando a Linear, fabricante de transmissores para a TV digital. Aqui em Brasília, procuraram informações sobre o convívio com os sistemas de cabo e DTH, que usam o DVB europeu com ISDB-T”, informou o assessor da Casa Civil.
A preocupação dos sul-africanos é com a indústria de exportação de conversores para TV paga que usa o sistema europeu (DVB) e que é muito forte naquele país. “Nós dissemos que eles podem continuar fazendo a exportação para o mundo inteiro e até para nós, porque usamos o DVB na TV paga, mas escolher o ISDB para TV aberta. E eles gostaram da resposta”, disse Barbosa. Segundo ele, na comitiva, composta de parlamentares de partidos do governo e da oposição, estava também um representante dos radiodifusores africaners, que ainda defendem a opção pelo padrão europeu.
De acordo com Barbosa, os deputados perguntaram também como estão os outros países na África. “Nós dissemos que vários outros países africanos demonstraram interesse. Como Angola, Moçambique e Botsuana, que estão muito interessados. Além do Quênia, que tem a maior cobertura celular da África e, como o nosso projeto admite a transmissão por celular, de graça, ele sabe que não terão que colocar dinheiro em um projeto audiovisual”, disse.
“Cada um tem uma maneira de enxergar o ISDB. O que nós notamos é que eles estão convencidos de que o sistema ISDB hoje é o mais robusto e o que tem mais condições de políticas públicas de interatividade, por ser mais moderno que o DVB atual”, analisou Barbosa. Ele disse que o DVB-2, implantado em caráter experimental na Inglaterra, é muito bom e se equivale ao nipo-brasileiro, mas é muito caro e não está na Europa inteira. “E não é o plano europeu implantar ele agora, mas sim dez anos após a consolidação do sistema atual”, completou.