Coleção de livros criada por moradores de vilas e favelas de Belo Horizonte revela os artistas populares.
Luana Aquino
Para estimular a discussão em torno de temas ligados à realidade da periferia e suas múltiplas possibilidades, a ONG Favela é isso aí lançou a coleção “Prosa e Poesia no Morro”, com textos e projetos realizados por artistas moradores das comunidades de baixa renda de Belo Horizonte. Os livros são seqüência do trabalho realizado em 2004 pela antropóloga Clarice Libânio, que desenvolveu e coordenou um guia sobre as comunidades de baixa renda da capital mineira.
O “Guia Cultural sobre Vila e Favelas” reuniu 740 artistas — individuais e grupos culturais, com mais de 6.900 pessoas envolvidas com música, artesanato, dança, artes plásticas, literatura, folclore e religiosidade. Desse guia surgiu a ONG Favela é isso aí, que trabalha para reduzir a discriminação em relação aos moradores da comunidade, melhorando as condições artísticas e o acesso ao mercado cultural.
O primeiro volume da coleção “Prosa e Poesia no Morro” surgiu da idéia de atualizar o guia sobre vilas e favelas, dando origem ao livro “Banco de Memória” da coleção. Os outros volumes foram produzidos ao mesmo tempo pelos moradores, reunindo estudos literários, receitas culinárias da comunidade, ensaios e catálogo de artesanato. Para o livro sobre estudos literários foi realizado um concurso na comunidade de Belo Horizonte. Também foram selecionados poetas para participar do segundo volume da coleção. O terceiro volume contou com a participação das melhores cozinheiras. Os outros livros surgiram de projetos realizados pela instituição.
Apesar de ter as informações reunidas, a ONG ficou dois anos com o projeto parado, por falta de patrocínio, diz Clarice.
Este ano, Serasa, Banco Bonsucesso, Thyssen Krupp Automotive, Banco do Nordeste e Senac Minas abraçaram o projeto, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e da Lei Rouanet. Os 5 mil exemplares da coleção foram distribuídos entre as bibliotecas das comunidades de Belo Horizonte, os patrocinadores e autores.
Após o lançamento da coleção, aumentou a visibilidade dos artistas, no meio cultural. O grupo de dança Brother Soul recebeu convites para apresentações, conta entusiasmado José Antônio Tito, o mestre Tito, 54 anos, um de seus integrantes. Fernanda Abreu convidou a banda para se apresentar em sua turnê e Regina Casé participou da homenagem aos 25 anos do grupo.
Entre os projetos aprovados pela instituição estão a produtora comunitária, que vai gravar CDs e videoclips. Haverá ainda noticiário cultural, que será enviado para jornais, rádios (comerciais e comunitárias) e TVs.
A ONG colocará 250 kits com a coleção completa para venda. O preço do kit é de R$ 130,00 e poderá ser adquirido pelo site da organização Favela é isso aí.
Volume 1 – Banco da Memória: É a primeira atualização e aprofundamento do “Guia Cultural das Vilas e Favelas de Belo Horizonte”, com foco em 18 comunidades da periferia.
Volume 2 – Produção literária: Reunião de poesias e contos de 29 escritores das favelas de Belo Horizonte, selecionados em concurso público lançado pelo Favela É Isso Aí, em 2006.
Volume 3 – Receitas das comunidades: A equipe do Favela É Isso Aí propôs aos moradores das comunidades que sugerissem receitas culinárias para serem publicadas. A participação da população, principalmente mulheres, gerou um conteúdo com cerca de cem receitas, algumas criações próprias, outras adaptadas à realidade dos moradores.
Volume 4 – Pensando as favelas – Ensaios: Nessa publicação, a equipe do projeto organizou ensaios de especialistas sobre a situação das vilas e favelas da cidade. Houve a preocupação de reunir especialistas de diferentes áreas, para compor um espectro amplo e crítico sobre a vida na periferia, uma vez que publicações sobre o tema estão escassas no mercado editorial mineiro.
Volume 5 – Catálogo de artesanato: Nessa publicação, 12 grupos de produção das comunidades de Belo Horizonte mostram seus trabalhos.