Quem faz a diferença
Os projetos concorrentes do Prêmio ARede de Inclusão Digital são prova de que é fundamental e transformador democratizar o acesso ao mundo digital
Áurea Lopes
ARede nº 94 – especial novembro 2013
Iniciativas que promovem a inclusão social de pessoas e de comunidades de baixa renda, em geral, não costumam ganhar destaque nas manchetes da grande mídia. Ensinar um idoso a mandar um e-mail, colocar na internet um aplicativo gratuito que auxilia pessoas com deficiência a manejar um celular, preparar adolescentes para criar uma rádio web na qual debatem os problemas de suas cidades parecem ações de menor importância.
Triste engano. Quem acompanha a evolução das novas tecnologias e o impacto social da internet, como nós, da revista ARede, sabe bem o enorme ganho derivado das políticas públicas e dos programas privados na área digital. Por isso, criamos, há sete anos, o Prêmio ARede, exatamente com o propósito de identificar, estimular e dar visibilidade a esse mundo tão efervescente, mas que muita gente desconhece.
Em todos esses anos da premiação, temos nos surpreendido não apenas com a quantidade mas com a qualidade das ações concorrentes. Mais de mil projetos já foram inscritos, de diversas naturezas, distribuídos por todo o país. Os protagonistas representam a diversidade do povo brasileiro: crianças de escolas públicas, pescadores associados, comunidades nativas, professores, cegos, agentes de saúde, ativistas políticos, moradores de áreas de vulnerabilidade social, jovens em busca de melhores oportunidades de trabalho, entre tantos cidadãos para os quais o acesso a um computador faz toda a diferença em suas vidas.
Um olhar aos promotores dos projetos também revela que todos podem fazer acontecer, independente do porte financeiro. Pequenos empreendedores, ONGs, prefeituras, órgãos do governo federal, voluntários independentes, companhias multinacionais têm ficado lado a lado nas cerimônias de entrega do Prêmio ARede.
Este ano, tivemos cerca de 200 projetos cadastrados. Uma comissão julgadora composta por vinte representantes da sociedade civil, do governo e do setor privado se dedicou a selecionar os vencedores, entre os 50 finalistas. Foram eleitas as iniciativas que se destacaram pela adequação conceitual, pela qualidade da implantação do projeto, pela sustentabilidade da ação e pela inovação tecnológica, pela adoção de ferramentas digitais livres.
Nas quatro modalidades – Especial Educação, Setor Público, Terceiro Setor e Setor Privado – se destacaram experiências que já se consolidaram e apresentaram resultados que podem servir de inspiração para quem tenha interesse em concretizar um trabalho social transformador, por meio do uso das Tecnologias da Informação e da comunicação (TICs). Nas próximas páginas, estão contadas as histórias de quem idealizou, dos gestores e parceiros e, em especial, dos beneficiados pelas iniciativas que venceram o prêmio em 2013.
Outra referência inspiradora é a história da Personalidade do Ano 2013 em Inclusão Digital, indicada pelos leitores e internautas da revista ARede, e que recebe o título por conta de sua atuação em favor da democratização do acesso à internet – hoje considerado um direito humano fundamental. O secretário de Serviços do município de São Paulo, Simão Pedro Chiovetti, foi o escolhido por sua trajetória em defesa do software livre, por sua militância em favor da liberdade da internet e por estar à frente de uma política pública que chega tardiamente à capital paulista, como prioridade da atual gestão municipal: a abertura do sinal WiFi gratuito em praças do centro e da periferia.
Em sua 7ª edição, o Prêmio ARede se orgulha de ter a oportunidade de conhecer tantas pessoas notáveis, que trabalham para que outras pessoas notáveis vençam desafios. Queremos cada vez mais mostrar ações estruturantes, que contribuam para mudar um cenário que ainda apresenta tantas barreiras para o uso de tecnologias. A pesquisa TIC Domicílios do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br), realizada em 2012, apontou que aproximadamente 40% das casas brasileiras têm acesso à internet. A pesquisa TIC Educação, também do Cetic.br, mostrou que apenas 7% das escolas públicas têm computador instalado nas salas de aula, principal local do ensino-aprendizagem. Além disso, a velocidade de conexão à internet se concentra na faixa de 1 Mbps a 2 Mbps, o que representa uma das principais limitações citadas pelos educadores para o acesso a aplicativos de vídeos, áudio, entre outras atividades interativas.
A equipe da revista ARede parabeniza todos os concorrentes, homenageia os vencedores com um troféu simbólico e com a máxima divulgação de seus trabalhos. Para além da comemoração, esperamos que novos projetos surjam e se alastrem por todo o território nacional, em especial as zonas rurais, ainda tão desprovidas de infraestruturas básicas para se inserir na sociedade da informação.
VENCEDORES 2013
» Personalidade do Ano
Simão Pedro Chiovetti . Secretário de Serviços do Município de São Paulo
» Prêmio Especial Educação
Projeto Aula Fundação . Telefônica Fundação Telefônica
» Modalidade Setor Público
› Tecnologia para acessibilidade
Sistema Operacional Guarux . Prefeitura de Guarulhos – Programa Tecnologia Cidadã
› Capacitação e formação
Redes de Praças e Naves do Conhecimento . Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro
› Conteúdo de interesse público
Portal EBC Empresa Brasileira de Comunicação
› Serviços aos usuários e à comunidade
Floresta Digital . Governo do Estado do Acre
» Modalidade Setor Privado
› Capacitação e formação
Escrevendo com escritor . Instituto Francisca de Souza Peixoto
› Conteúdo de interesse público
Educando GVT . GVT e Safernet
› Serviços aos usuários e à comunidade
Mobile Health . Ericsson Telecomunicações
» Modalidade terceiro Setor
› Tecnologia para acessibilidade
Inclusão produtiva de jovens e pessoas com deficiência em áreas urbanas . Instituto da Oportunidade Social (IOS)
› Capacitação e formação
Agência Jovem de Notícias . Viração Educomunicação
› Conteúdo de interesse público
Portal do Núcleo Piratininga de Comunicação . Núcleo Piratininga de Comunicação
Um time de craques
A comissão julgadora do Prêmio ARede 2013 foi composta por representantes de governos, organizações da sociedade civil, empresas e instituições acadêmicas. Os jurados também escolheram o vencedor das indicações para Personalidade do Ano da Inclusão Digital.
› Modalidade Especial Educação
Felipe Fonseca – pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Márcia Padilha – consultora em projetos de uso de tecnologias digitais para inovação e qualidade educativa Sérgio Mindlin – presidente do Conselho do Instituto Ethos
› Modalidade Setor Público
Cecília Hartmann Regueira – presidente do Instituto Hartmann Regueira Maria Bernardete Toneto – professora do curso de Comunicação da Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid)
Rosane Luciane Chene – gestora Sustentação CDSP Wilken David Sanches – diretor do Coletivo Digital
› Modalidade Terceiro Setor
Carlos Seabra – coordenador técnico-pedagógico na Gerência de Inovação e Novas Mídias da Editora FTD Maria das Graças Pinto Coelho – professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Roseli Lopes – professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Laboratório de Sistemas Integráveis (USP)
› Modalidade Setor Privado
Bianca Santana – diretora do Instituto Educadigital Frederico Gonçalves Guimarães – integrante do coletivo Software Livre Educacional e coordenador da Associação de Software Livre Jesulino Alves de Souza – ativista do software livre e da inclusão digital Márcia Schuller – secretária de Tecnologia da Informação do município de Novo Hamburgo (RS) Roberto Meizi Agune – coordenador da Assessoria de Inovação em Governo da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Governo do Estado de São Paulo Teófilo Galvão Filho – professor da pós-graduação da Faculdade São Bento da Bahia