O Educom.rádio, capacitação para alunos e professores operarem FMs nas
escolas, está em fase de redefinição na Prefeitura de São Paulo. Mas será estendido aos telecentros do Casa Brasil. Juliana Bertolucci e Verônica Couto
Grafite feito pelos alunos da escola Arlindo Caetano Filho.
A experiência paulistana do Educom.rádio, projeto que
buscou criar uma rede de alunos e professores radialistas nas escolas
municipais de São Paulo, está em fase de redefinição desde o início do
ano. Desenvolvida entre 2001 e 2004, pela Prefeitura e pela USP, a
iniciativa deve ser retomada sem a parceria com a universidade e sem
aquisição de novos equipamentos este ano, segundo a diretora da divisão
técnica do ensino fundamental e médio da Secretaria de Educação, Regina
Célia Lico Suzuki. Enquanto isso, a USP, que também trabalha com
escolas do Centro-Oeste, se prepara para expandir o conceito de
“educomunicação” para o resto do país. Participou, em maio, da
capacitação de 50 coordenadores de um grupo de 120 pessoas envolvidas
na formação dos primeiros telecentros Casa Brasil (saiba mais).
A Prefeitura de São Paulo convocou, para 30 de maio, uma reunião com 56
escolas (duas por subprefeitura) que integraram o Educom.rádio, para
discutir os rumos do projeto. Ao longo de toda a ação feita na cidade,
foram capacitados 5,2 mil professores, 2,861 mil estudantes de quarta a
oitava série e 575 membros da comunidade, que receberam a missão de
operar, dentro das suas escolas, uma rádio FM de alcance restrito (fora
do dial).
Das 444 escolas incluídas no programa de formação, 200 não receberam os
equipamentos, porque a administração anterior cancelou a última
licitação – os fornecedores teriam aumentado em mais de 100% o preço
dos kits, orçados em cerca R$ 20 mil cada. E pesquisa feita pela atual
Secretaria de Educação indicou que, das 244 que têm o material, apenas
60 usam o rádio para articular comunicação com educação. Nas demais,
ele serve apenas de equipamento de som em eventos. O que aconteceu?
O coordenador do projeto e do Núcleo de Educação e Comunicação da USP
(NCE-USP), professor Ismar de Oliveira Soares, lembra que o
Educom.rádio previa um acompanhamento das escolas, que a prefeitura
optou por não contratar. “As escolas ficaram à mercê de suas próprias
iniciativas, de seus diretores, muitas vezes resistentes à idéia de
democratizar a comunicação”, diz.
Adesão da diretoria
O fato é que, agora, a secretaria só voltará a comprar equipamentos em
2006, e se houver demanda. A idéia é fazer um levantamento nas escolas
que têm o material, mas não o usam, para transferi-lo para outras,
interessadas em aplicá-lo na educação.
Soares garante que há mais entusiasmo do que resistência. Na EMEF
Carlos Pasquale, na Zona Leste, por exemplo, dez alunos capacitados
pela USP desdobraram seu conhecimento na formação de 400 comunicadores.
De acordo com Regina, as equipes mais ativas vão funcionar como
multiplicadores, trabalhando com professores e estudantes das escolas
onde o projeto não andou. Ela defende a adesão dos diretores como
co-responsáveis. Por isso, o contrato com a USP não será renovado.
“Precisamos ouvir a rede primeiro. Não adianta fazer um contrato sem
saber qual é a demanda”, diz.
As rádios do Educom São Paulo têm alcance de 300 metros, captadas
apenas pelas caixas de som que integram o kit. A presença de
representantes da comunidade na capacitação buscava, explica Soares,
estimular o intercâmbio com rádios comunitárias, ou a criação de novas
emissoras pelos alunos, quando deixassem a escola.
O Educom.rádio de São Paulo durou sete semestres, com 13 professores,
dez alunos e dois membros da comunidade por escola, e a presença de
oito a 12 mediadores da USP, que recebeu, para estes três anos e meio
de Educom.rádio em São Paulo, R$ 6 milhões, sendo que R$ 800 mil ainda
não foram pagos.
Sapopemba, periferia de
São Paulo. Uma pequena sala, caixas de ovos coloridas na
parede, dois microfones, dois tapes, um CD player e duas caixas de
som. Essa é a Rádio Arlindo Caetano, na EMEF Prof.
Arlindo Caetano Filho. A rádio faz parte do Educom.rádio
e surgiu em 2002, tocada pela diretora, sete professores e cinco
alunos que haviam feito a capacitação da USP um ano
antes. “O estúdio foi improvisado. Arranjamos uma sala e
colamos as caixas de ovos para melhorar a acústica”, conta
Irma Gennari, diretora da escola. Os ganhos pedagógicos são
muitos. “Tínhamos um aluno da 8a série qua nunca
tinha lido uma frase em sala de aula. Ele entrou na rádio e,
um mês depois, lia seu primeiro texto para toda a escola”,
conta Irma, emocionada. Os temas trabalhados são transversais,
como lixo, drogas e sexualidade. Os formatos são diversos:
novelas, comédias, programas de folclore e até aulas de
história.
O projeto foi
reformulado três vezes. Este ano, o Grêmio passou a
cuidar da rádio, mas, segundo seu presidente, Lucas Severino,
todos os alunos fazem a programação. “Antes, só
tocávamos músicas no recreio. Agora, falamos sobre o
que acontece na
Linildo Antonio, que fez curso numa ONG
para aprender a mexer na aparelhagem.
escola e no bairro, damos notícias do jornal
ou que os alunos escrevem, lemos cartas e até propagandas”,
diz Linildo Antônio, da 8a série. “Se a mãe de
alguém faz artesanato, o caraescreve num papel e colocamos na
programação”. Linildo aprendeu a mexer nos aparelhos
numa ONG do bairro, a ABIG, com a qual a escola estuda uma parceria
para capacitação dos alunos.
Na EMEF Prof Aldo
Ribeiro, em Pirituba, foi diferente. “Os equipamentos estão
aqui desde 2001, mas os professores capacitados têm outras
responsabilidades ou vão para outras escolas, então
vamos fazendo aos poucos”, conta Ana Maria Amdori, diretora. Ela
acredita que escolas que possuem o kit da rádio, mas não
usam, “têm medo de estragar o material”. Segundo ela, não
houve apoio da Secretaria para montar a infraestrutura e nem
acompanhamento. “Nos foram dados a capacitação e o
material, o resto a gente que fez acontecer”, completa.
• Projeto Educom.rádio, da USP.
www.usp.br/nce
• Rede Brasileira de Educomunicadores, Núcleo de Comunicação e Educação, da USP.
http://portaleducacao.prefeitura.sp.gov.br