Quatro pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Espanha mostram que o público, agora, quer é participar da produção de bens culturais – e de tudo mais
Sergio Amadeu da Silveira
ARede nº52,outubro 2009 – A pesquisa “Geração interativa na Ibero-América: crianças e adolescentes diante das telas”, coordenada pela Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, da Espanha, captou em seus números uma grande mudança que está ocorrendo em nosso cotidiano comunicacional. Sem dúvida, o mundo quer ser mais interativo. A pesquisa indicou que 45% das crianças entre 6 e 9 anos preferem a internet à TV. Apenas 37% escolhem a TV diante de redes digitais interconectadas. Tudo indica que as novas gerações serão menos de telespectadores e mais de interagentes.
Em uma nação altamente conectada como os Estados Unidos, podemos observar mais claramente tais transformações no comportamento e nas preferências dos cidadãos. O Pew Internet & American Life Project entrevistou, em dezembro de 2008, milhares de pessoas e descobriu que quadruplicou, nos últimos quatro anos, o porcentual de adultos usuários de internet que têm um perfil em uma rede social online (sites de relacionamento, como Orkut, Facebook, MySpace etc). Eram 8% em 2005; hoje, são 35%. As redes de relacionamento, denominadas mais recentemente de redes sociais, estão entre os sites de maior audiência em quase todos os países. Tais redes estão permitindo o surgimento de novos referenciais de informação massiva, baseados na reputação dos perfis de seus integrantes. É interessante notar que o fenômeno das redes sociais atinge muito mais os segmentos mais jovens. A pesquisa do Pew Internet & American Life Project constatou que 75% dos internautas estadunidenses com idade entre 18 e 24 anos possuem um perfil em redes sociais. Esse número vai caindo conforme a idade dos entrevistados: 57% dos adultos com idade entre 25 e 34 anos; 30% na faixa etária entre 35 e 44 anos; 19% dos internautas com idade entre 45 e 54 anos.
O uso das redes sociais para finalidades profissionais é bastante expressivo, mas a maioria dos jovens entrevistados afirmam utilizá-la para conectar-se com pessoas que já conhecem. Outro comportamento captado pela pesquisa é que boa parte dos internautas que alegam razões profissionais para integrar as redes sociais possui perfis em mais de um site de relacionamento. Apesar disso, 60% dos internautas pesquisados alegaram restringir o acesso a seus perfis, limitando sua visualização apenas para os amigos.
As redes sociais estão aproximando muito mais as pessoas e permitindo que se mantenha contato com um grande número de conhecidos e amigos, o que seria impossível em um cenário anterior à internet. Além disso, seria completamente improvável sem a existência das ferramentas oferecidas pelos sites de relacionamento. A pesquisa constatou que o maior objetivo de 89% dos usuários que mantêm perfis nas redes sociais online é manter suas amizades; 57% usam as redes para fazer planos com seus amigos; e 49% as utilizam para fazer novos amigos.
Em janeiro de 2009, a consultoria Compete.com constatou que o site de relacionamento Facebook tornou-se o primeiro dos Estados Unidos em número de visitantes únicos, atingindo 68 milhões de pessoas. Antigo líder do ranking de redes sociais, o MySpace caiu para a segunda colocação, com 58 milhões de usuários nos Estados Unidos. Ainda entre os estadunidenses, o nanoblog Twitter, apesar de possuir 5,9 milhões de visitantes únicos, é o terceiro site em visitas mensais daquele país, com 54.218.731 de visualizações em um mês.
A Princeton Survey Research Associates International realizou uma pesquisa com 2.254 adultos estadunidenses com idade superior a 18 anos, entre novembro e dezembro de 2008. Constatou que praticamente um em cada cinco pesquisados (18%), usuários da rede mundial de computadores, já haviam publicado suas idéias sobre a campanha política na forma de posts, comentários ou questionamentos, em um blog ou rede social. O mesmo levantamento descobriu que 45% dos usuários da internet assistiram a um vídeo relacionado à disputa eleitoral em repositórios que estão na rede.
Outro elemento importante é que um em cada três internautas retransmitiram conteúdos políticos para outras pessoas. O compartilhamento de conteúdos políticos, seja por escrito, seja por meio de vídeos ou áudios, foi marcante nas últimas eleições estadunidenses. Jovens e adultos disseram ter se envolvido muito na campanha fundamentalmente pelo repasse e discussão de conteúdos na rede. Confirmando esta afirmação, a pesquisa registrou que 83% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos disseram ter se envolvido com algum tipo de atividade política em redes sociais online.
O crescimento das redes sociais online expressa a vontade de uma grande parte das sociedades contemporâneas de participar de uma ampla conversação e de produzir conteúdos informativos, principalmente voltados para o entretenimento. No primeiro semestre de 2009, o ranking dos sites mais acessados do mundo, organizado pelo Alexa, deixou evidente esta tendência. Depois de Google e Yahoo, o terceiro site de maior audiência na internet é o Facebook, seguido pelo YouTube. A encliclopédia colaborativa Wikipedia atingiu o sexto lugar. Estes números apontam para uma grande alteração no ecossistema comunicacional. O tempo das amplas audiências pouco atuantes na produção de bens culturais está passando. Participar e interagir é o que importa.
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www.alexa.com
Sergio Amadeu da Silveira é sociólogo, considerado um dos maiores defensores e divulgadores do
software livre e da inclusão digital no Brasil. Foi precursor dos telecentros na América Latina e presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.